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Medicamentos
Surto de sarampo nos EUA alerta para negligência com vacinas 16/01/2015 - O Globo Um recente surto de sarampo nos Estados Unidos levanta um alerta sobre a negligência na vacinação desta e de outras doenças. Desde o final de dezembro, já foram registrados pelo menos 26 casos nos estados de Califórnia, Colorado, Utah e Washington, o que representa cerca de 10% do total esperado para todo o ano no país. Autoridades de saúde locais acreditam que tudo começou a partir de uma mulher contaminada e não vacinada que visitou o parque Disneylândia, na Califórnia, no último dia 28. — A melhor forma de prevenir a ocorrência do sarampo e seu dispersamento é por meio da vacinação — recomendou Ron Chapman, diretor do Departamento de Saúde Pública da Califórnia, órgão que confirmou o início do surto, e pediu que os californianos notassem quaisquer sintomas: febre, nariz escorrendo e olhos vermelhos, no início; em seguida, marcas vermelhas pelo rosto e, depois, pelo corpo. VACINA SEGURA E ACESSÍVEL O sarampo é uma doença altamente contagiosa, transmitida por via aérea. Embora exista uma vacina comumente aplicada em crianças na maioria dos países, o receio de determinados movimentos antivacina e de algumas famílias continua a confrontar evidências científicas e a levá-los a se esquivar deste e de outros imunizantes. Com isso, doenças que tinham sido controladas voltaram a ter novos surtos. Os EUA são um exemplo disto. Segundo o Centro de Controle de Doenças do país (CDC, na sigla em inglês), o ano de 2014 ficou acima da média: foram 664 casos em 27 estados, maior desde o ano 2000, quando a doença foi considerada “eliminada”, ou seja, não havia registros de transmissão interna (autóctone), apenas de importação de casos por viajantes. A média anual de registros no país girava em torno de 200 casos. Não existe uma lei federal que obrigue à vacinação nos EUA, mas todos os 50 estados exigem as principais vacinas — caxumba, sarampo, rubéola, difteria, coqueluche, tétano e poliomielite — para a matrícula em escolas públicas. Há exceções, mas geralmente os pais são responsabilizados no caso de contaminação de outros indivíduos além de seus filhos. Já no Brasil, a vacinação não é obrigatória, mas o país consegue ter uma cobertura que supera os 95% da população. Mesmo assim, não raro surgem grupos nos EUA e aqui que evitam vacinar seus familiares por receio das reações adversas. — Optar pela não vacinação representa um risco não apenas para si próprio, mas para a comunidade e até o país — alerta Isabela Ballalai, infectologista e presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. — Não há nenhuma base científica que questione a eficácia e a segurança da vacina tríplice viral (aplicada aqui, e que combate, além do sarampo, a caxumba e a rubéola). Isabela cita ainda o exemplo da recente polêmica com a vacina do HPV, em que meninas perderam temporariamente os movimentos do corpo e relacionaram o episódio com a aplicação do imunizante. — Claro que assusta, mas a vigilância em saúde é muito criteriosa com relação às reações adversas e acompanha e notifica os possíveis problemas relacionados. Até agora, não há porque duvidar de sua segurança — defende a infectologista. — O Brasil, felizmente, adere muito bem às campanhas de vacinação em geral. No país, não há transmissão interna do sarampo desde o ano 2000. Mas isso não impede que casos importados desembarquem no país, e o ano passado também foi atípico: segundo dados do Ministério da Saúde, o número de casos passou de 220, em 2013, para 664, em 2014. Nos anos anteriores, os casos importados não passavam de cem. Os principais afetados foram os estados de Pernambuco e Ceará, e segundo a Secretaria de Saúde deste último estado, não havia surtos da doença desde 1997. — Notamos sinais de retorno do sarampo aqui, especialmente de uma cepa que circula na Europa — explicou Isabela. MEDO DE IMUNIZAÇÃO PERSISTE NA EUROPA A Europa, a começar pela Inglaterra, é uma das regiões que tiveram um aumento significativo no número de casos. Durante o período de novembro de 2012 a outubro de 2013, a União Europeia registrou 12.096 registros de sarampo, resultando em três óbitos. Alguns grupos do continente rejeitam a vacina do sarampo desde que foi publicado, em 1998, um artigo científico na revista “Lancet”, uma das mais conceituadas do mundo, mostrando a relação entre o imunizante e a ocorrência de autismo em crianças. Logo depois, o trabalho do pesquisador Andrew Wakefield foi desacreditado por cientistas de todo o mundo, mas o medo persistiu, e o resultado foi o aumento de casos nos últimos anos, explica Isabela Ballalai. Esse aumento tem preocupado autoridades, e a Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou uma campanha para eliminar o sarampo e a rubéola (cujo aumento também foi notado) ainda este ano. Entre os dias 20 e 25 de abril, está prevista mais uma edição da Semana da Imunização Europeia, para reforçar a importância da vacina. A OMS ressalta que o sarampo, apesar de prevenível, é uma das principais causas de mortalidade infantil, levando a 450 mortes por dia no mundo, muitas das quais não só por negligência individual, mas por baixa cobertura vacinal do país, como em alguns da Ásia e África. Pesquisa e desenvolvimento A onda do bem-estar16/01/2015 - Valor Econômico Com um Jawbone Up, uma pulseira de monitoramento, Mauricio Pretto, gerente de contas do governo federal, de 32 anos, aprende diariamente sobre o próprio bem-estar. O aparelho capta seus hábitos e informa quanto ele se exercita, caminha, bebe água, café ou dorme. "Uso muito para monitorar o sono, vendo quanto me movimentei e quantas vezes acordei durante a noite", diz. Ele não está sozinho. Melhorar a saúde é a uma das ideias por trás de monitores como o usado por Pretto e também de relógios inteligentes como Peeble, do Google, Apple Watch ou o Samsung Gear. Todos tiram proveito de uma mudança no estilo de vida: nos últimos dez anos, consumidores remodelaram drasticamente o conceito de saúde e bem-estar. Agora se espera não apenas que a comida seja gostosa, mas também saudável. Que os calçados sejam não apenas bonitos, mas ajudem a caminhar direito, que os móveis de escritório estilosos ainda façam bem à postura. Da comida ao turismo, o conceito hoje influencia cada indústria. "O consumo está sob uma nova perspectiva", diz Lívia Barbosa, diretora da Associação Nacional de Estudos do Consumo e pesquisadora visitante do Departamento de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio (PUC-Rio). "Surgiu uma ideologia muito forte em torno da 'saudabilidade', esse desejo de que as coisas sejam saudáveis, que não é só uma tendência, veio para ficar." Essa nova ideia de bem-estar move uma indústria de US$ 3,4 trilhões, segundo estudo divulgado na Conferência Global Spa e Bem-Estar, realizada no fim do ano, em Nova York. A economia ligada aos produtos e serviços de bem-estar é quatro vezes maior do que a indústria farmacêutica. Envolve ramos como o de spas, móveis, turismo e iogurtes, que não necessariamente têm a ver uns com os outros, mas dão uma mostra da sua atual força. No passado e até o início do século XX, as grandes fortunas eram de quem controlava recursos, como madeira, aço e petróleo. Com o fim da Segunda Guerra, há 70 anos, no entanto, a cada década uma nova indústria predominou. Na década de 50, foi a construção civil. Na década de 60, a indústria automobilística. Na década de 70, explodiu o consumo de eletrodomésticos. Nos anos 80, o entretenimento, com destaque para a TV e o videocassete. E nos anos 90 os computadores tornaram Bill Gates, criador da Microsoft, o homem mais rico do mundo. A virada do século trouxe a era da internet, uma indústria de bilionários como Mark Zuckerberg, do Facebook, e Sergey Brin, do Google. Mas na primeira década do século XXI, sem muito alarde, algumas mudanças, combinadas, afetaram o capitalismo. A chegada à idade adulta da geração Y, nascida entre 1980 e 1990 e a primeira realmente influenciada pela cultura da internet, trouxe novos hábitos de consumo e mais preocupação com a alimentação. Junte-se o aumento da longevidade da parte mais idosa da população, trazendo consigo também a preocupação com mais qualidade de vida, e uma consciência geral sobre os benefícios de uma vida mais saudável. A busca por mais bem-estar também responde a um fenômeno: o estressante estilo de vida moderno, alimentado por fast-food, colaborou para uma epidemia de doenças crônicas e problemas de saúde, principalmente nos países desenvolvidos. Em junho, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alertou que há 2,1 bilhões de obesos no mundo. O Brasil é o quinto país com mais casos, com 60 milhões de pessoas acima do peso e 22 milhões de obesos. Na esteira da vida moderna, aumentam também os problemas cardíacos e diabetes. "Dez ou quinze anos atrás, seria difícil me envolver com a indústria do bem-estar. Por quê? Porque não havia indústria do bem-estar", diz o autor americano Paul Zane Pilzer. Em 2001, no livro "O Próximo Trilhão - Por Que a Indústria do Bem-Estar Vai Superar a Indústria da Saúde (Doença) nos Próximos Dez Anos", sem lançamento no Brasil, ele anteviu que a nova indústria iria influenciar as demais. "A próxima onda vai criar novas oportunidades em virtualmente cada campo." A exigência por mais saúde está, por exemplo, por trás da tecnologia do momento. A AIB Research, consultoria americana, projeta que até o ano que vem serão vendidos 200 milhões de dispositivos "wearable" (expressão usada para computadores para vestir ou usar junto ao corpo, principalmente relógios inteligentes). A expectativa é de que nos próximos anos esses "gadgets" produzam as tecnologias mais inovadoras. Cada lançamento é acompanhado pela imprensa especializada com a reverência antes dedicada só a iPhones e tablets. Do Peeble, do Google, ao Apple Watch, passando pelo Samsung Gear e o Band, da Microsoft, e aparelhos da LG, Sony etc., todas as grandes marcas lançaram relógios inteligentes nos últimos meses. Mas são os "wearables" e aplicativos de ginástica e monitoramento de hábitos do dia a dia que devem dominar o mercado pelo menos até 2018, prevê a consultoria inglesa Juniper Research. Tecnologias assim não são novidade para os americanos desde os anos 80, quando surgiram os primeiros monitores cardíacos portáteis. O que diferencia as versões atuais é que os computadores nos aparelhos aprendem - e muito - sobre o usuário. O Jawbone Up usado por Pretto no início do texto não o acompanha apenas nos exercícios. Após curar-se de um câncer no rim direito em 2013, ele passou a usar o dispositivo sete meses atrás. O aparelho analisa seus dados pessoais e depois dá indicações sobre o melhor horário para dormir em um dia cansativo ou se a quantidade de cafeína do dia passou do ponto, entre outras. "Também me força às vezes a dar uma caminhada no fim do dia ou no almoço, por exemplo, se fico o dia todo numa reunião. Acabo fazendo um esforço para ir ao mercado no fim do dia a pé ou almoçar em algum lugar mais longe." A empolgação com os novos aparelhos fez a revista "Forbes" saudar 2014 como o "o ano do 'wearable'", mas a tecnologia ainda é vista com ceticismo. As funções que não têm a ver com a vida saudável, como ler e-mails e avisar sobre a chegada de uma mensagem, já estão disponíveis há tempos em smartphones e aplicativos. Fora cuidar do bem-estar, as versões atuais de "wearables" ainda não têm muito a oferecer. "O desafio-chave é fazer esses dispositivos produzirem sentido, além de dados. Contar os passos por dia é algo bom, mas não mantém os consumidores interessados, a menos que essa informação possa ser contextualizada e se torne útil para eles", diz James Moar, analista da consultoria Juniper que participou do estudo sobre o futuro dos aparelhos. Há um ramo, entretanto, com uma adesão entusiasmada: o mundo corporativo. Desde os anos 80 grandes empresas, principalmente as americanas, gastam US$ 600 milhões por ano nos Estados Unidos com programas de bem-estar dos funcionários, estimulados a parar de fumar, se exercitar mais e ter uma vida saudável. "Wearables" levam esses programas a outro nível. Estima-se que 13% do uso desses "gadgets" no futuro será corporativo. A petroleira inglesa BP, por exemplo, tem acesso aos dados de exercícios da equipe e mantém um programa para que continue ativa e produtiva. A multinacional americana de softwares Autodesk adotou um programa semelhante. A ideia é horripilante para empregados que não querem que os patrões saibam quantos passos caminham por dia ou quantas vezes vão à academia, mas, para as empresas, monitorar sua saúde pode significar economia nos custos de tratamento de futuros problemas de saúde e afastamentos do trabalho. A start-up americana Buffer, fabricante do Jawbone Up, imagina que algumas tecnologias de bem-estar estarão em poucos anos incorporadas aos currículos de candidatos a emprego, atestando que são saudáveis. Pode ser só exagero. A Buffer é uma evangelista da abertura de dados e exibe na internet até a própria folha de pagamento. Naturalmente, os dados dos funcionários que aderem ao programa (e assim o desejam) são abertos. Desde que o passaram a usar o Jawbone Up, em março de 2013, segundo a Buffer, passaram a ser exercitar e a dormir mais. Os textos aiurvédicos (da medicina tradicional indiana) já elaboravam, em 3000 a.C., o equilíbrio entre corpo, mente e espírito como forma de manter a saúde. No século V a.C., o grego Hipócrates relacionou as doenças à dieta, ao estilo de vida e a fatores ambientais. A mesma ideia reapareceu nos Estados Unidos no século XIX. Mas foi o médico Halbert L. Dunn que, nos anos 50, criou a expressão "bem-estar" para um pacote de serviços que deveriam ser oferecidos para prevenir doenças e fortalecer pacientes. Inspirado nas suas ideias, um seguidor, John Travis, hoje professor de medicina da Universidade John Hopkins, criou, em 1975, o primeiro spa em Mill Valley, na Califórnia. Era um complemento aos tratamentos médicos, oferecendo serviços ligados à recuperação de um paciente, cuidados com nutrição e até microcirurgias. Mas com o tempo os spas ampliaram o público e os tratamentos de bem-estar e relaxamento, voltando-se para a classe média. "Foi-se percebendo que um spa possui características muito mais amplas, atraindo a atenção de públicos mais variados", observa Ana Paula Marques, diretora-executiva da Associação Brasileira de Clínicas e Spas (ABC Spas). "A diferença para as clínicas de estética [que oferecem serviços de beleza] tende a desaparecer, pois o público busca todas as atividades em um mesmo lugar." Spas são um dos ramos mais beneficiados pela busca de bem-estar. No mundo, 500 milhões de turistas gastam US$ 500 bilhões apenas com viagens aos "spas-destino", hotéis e resorts. Estâncias hidrominerais, como Águas de Lindoia (SP), São Lourenço e Poços e Caldas (MG), sempre foram destinos visitados em busca de boa saúde, mas a tendência vem crescendo em todos os continentes. É um turista dinâmico: gasta 159% a mais do que um turista comum. Há 105 mil spas pelo mundo, 47% a mais do que em 2012. A expressão "spa", ainda bastante usada no Brasil, vem sendo substituída nos Estados Unidos por "centro de bem-estar" por ser considerada elitista. Mais do que aquele lugar onde as pessoas ricas se hospedavam para temporadas de dias ou semanas (os "spas-destino"), nos últimos dez anos passou a definir principalmente os spas urbanos, espaços em grandes cidades que oferecem tratamento de beleza e contra o stress de algumas horas a preços mais acessíveis. Segundo a ABC Spas, são mil em todo o Brasil. "Os 'spas-destino' foram os grandes precursores da atividade no Brasil, mas hoje são os 'day spas' [para tratamento de um dia] e spas em resorts e hotéis que apresentam o maior crescimento", afirma Ana Paula Marques. A maioria das empresas brasileiras do ramo é de pequeno e médio porte, com faturamento mensal entre R$ 20 mil e R$ 40 mil. Criam 13,4 mil empregos e, somadas, movimentam R$ 370 milhões. São Paulo é o grande centro nacional dos spas no Brasil, com 43% do total, mas Rio, Belo Horizonte e Brasília também têm sido grandes balizadoras desse mercado. O preço varia conforme o local e o pacote oferecido. Uma massagem de uma hora, por exemplo, custa em média R$ 100. Os tratamentos contra estresse são buscados por 82% dos frequentadores, segundo a ABC Spas, e geralmente incluem técnicas de medicina alternativa, como a massagem aiurvédica, que estimula os sistemas circulatório e linfático, e também shiatsu, aromaterapia, sauna e pedras quentes, entre outros. Para crianças, alguns lugares incluem degustação de milk-shake, além de uma massagem com chocolate. A idade média dos frequentadores é de 35 anos. As mulheres são a maioria, 81%, mas não no Amanary Spa, no Grand Hyatt Hotel. Localizado em um dos hotéis mais luxuosos da cidade, na Marginal do Pinheiros, atrai um público de executivos em viagens. "Temos um predomínio masculino. Os homens são mais fidelizáveis", conta Ana Flores, gerente-sênior dos spas Hyatt das Américas. No spa, que segue o padrão do hotel, numa tarde de novembro, o empresário José Paulo Cortez usava os serviços. "Eu procuro um spa em busca de praticidade, conforto, requinte e simplicidade", diz. O Amanary oferece um dia fora da rotina com tratamentos. Um pacote de quatro horas, com massagem, aromaterapia e tratamento facial e corporal, chega a custar R$ 606. E tanto no Brasil quanto no exterior o setor não conhece recessão. "A gente vê a economia sofrendo, mas não percebe esse reflexo no spa; pelo contrário", comenta Ana Flores. "Em comparação com outros segmentos, os spas e clínicas se saíram relativamente bem", diz Ana Paula, da ABC Spas. Segunda ela, em 2014 a retomada se deu mais lentamente, mas a partir deste ano o crescimento deve voltar a ser mais forte. O Brasil é a terra da "comida ogra". Era uma das deduções no fim dos anos 90, quando uma rede americana de sanduíches viu caírem de 38 para 2 as lojas no país. Os brasileiros não seriam muito fãs da alimentação saudável - como a marca se apresenta. Números do IBGE e do Ministério da Saúde recentemente divulgados dão razão à teoria: 40% dos brasileiros adultos sofrem de hipertensão e se alimentam com gordura e sal demais. Outras pesquisas mostram que também é alto o consumo de açúcar e há uma epidemia de obesidade e diabetes entre a população. Mas o país também é um dos dez maiores mercados da alimentação saudável no mundo. Apenas as vendas de suplementos alimentares e fortificantes são de US$ 10 bilhões anuais, segundo a Euromonitor, empresa inglesa de inteligência de mercado. As exportações brasileiras de alimentos orgânicos, produzidos sem agrotóxicos, subiram de US$ 5 milhões em 2005 para previstos US$ 150 milhões neste ano. Comidas e bebidas saudáveis são um mercado de outros US$ 20 bilhões. "O consumo de alimentos saudáveis é ainda pequeno, 9% do total, mas uma tendência que está crescendo com a consciência de uma certa camada da população", informa Dênis Ribeiro, diretor de economia da Associação Brasileira dos Alimentos. A indústria de alimentos foi pioneira nos produtos que prometiam prevenir doenças com os adoçantes, lançados nos anos 60 e 70. "Era um produto para diabéticos que acabou adotado por outras faixas de consumidores", diz Ribeiro. Nos anos 80, surgiram os alimentos e bebidas light e, na década seguinte, no Japão, os alimentos funcionais, que fortalecem o organismo. Hoje são os orgânicos. Fora dos supermercados, redes como Wraps, Go Fresh e Yogobery desmentem a falta de gosto nacional para fast-food saudável. As duas primeiras, criadas pelo brasileiro Marcelo Ferraz e vendidas em 2012 para a International Meal Company (IMC), vendem sanduíches feitos com "wraps", uma massa fina enrolada com recheios como salpicão ou maionese, e têm hoje sete lojas no Rio e em São Paulo. A marca de "frozen yogurt", criada pelos irmãos sul-coreanos Un Ae Hong and Jong Ae Hong no Rio, abriu mais de cem lojas no país e tem até duas no Irã. Há espaço também para pequenos negócios, como o mineiro Detox at Home, de Belo Horizonte, que vende kits de alimentação saudável para uma semana. Cada kit custa R$ 195. "Com problemas como câncer e depressão, as pessoas passaram a se ligar mais numa boa alimentação", diz a criadora da marca, a chef Ana Maria Fonseca. Ela também tem um serviço em que cozinha na casa do cliente, que escolhe o cardápio, preparado apenas com alimentos frescos e da estação. "Tenho clientes que depois que começaram a se alimentar melhor passaram a ver comida de outra maneira, relatam melhoras dos problemas de saúde e ficam com a aparência melhor." O preço da mudança é caro. Alimentos ligados à saúde custam 28% mais do que em 2002, descontada a inflação. No mundo, as vendas de comidas saudáveis devem atingir US$ 1 trilhão pela primeira vez em 2017. Alimentos têm seu ciclo da moda. Hoje é o "goji berry", fruto vermelho da planta tibetana "Lycium barbarum" que, com apregoadas propriedades antioxidantes e emagrecedoras, é vendido por até R$ 100 o quilo. Antes foi a semente de chia, do sul do México, também emagrecedora. A sobremesa saudável do momento, as passas de "cranberies", levou a escritora gaúcha Carol Bensimon a protestar. "Comer vai se tornando, em uma perspectiva importada sobretudo dos EUA, menos um mundo subjetivo de sensações e mais um sistema perfeitamente organizado de males e benefícios", escreveu a autora do romance "Todos Nós Adorávamos Caubóis" em sua coluna no jornal "Zero Hora". "Cranberries" são frutinhas amargas, populares nos Estados Unidos depois de misturadas com açúcar - ou seja, pouco saudáveis. "Em muitos casos, quando lemos a palavra 'saúde', deveríamos ler a palavra 'marketing', simplesmente." "As pessoas compram esses conceitos simplesmente porque trabalham demais. Aí, para compensar, surge o arroz que vem de uma plantação tal e a comida gourmet", diz o jornalista e escritor André Barcinski, autor do "Guia da Culinária Ogra - 195 Lugares para Comer até Cair", uma celebração aos bares e restaurantes de São Paulo onde a comida às vezes é de entupir as veias. "Não sou contra comida que faz bem. Mas comida de rua não faz mal, necessariamente. A boa comida de rua é benfeita. Ruim é fast-food." Para a professora Lívia Barbosa, da PUC-Rio, o bem-estar obtido via produtos funciona até certo ponto. "A comida não vai mudar o mundo", afirma. "No mundo do trabalho, por exemplo, toda ideia de bem-estar se contrapõe à realidade de que as pessoas estão trabalhando por mais tempo." Barcinski questiona se o problema não está no ritmo de vida das cidades, que empurra a comida rápida, e não na culpa de certos alimentos. "Pega uma foto de São Paulo 80 anos atrás e vê se as pessoas eram gordas. Não eram. Essas pessoas comiam tofu?" Artigo: O Big Bang da ansiedade 16/01/2015 - Folha de S.Paulo Colunista: MICHEL LAUB Um amigo costuma dizer que o verdadeiro Big Bang é nossa mãe. Entendo: o que somos pode ter tudo a ver com a expansão da matéria e o caráter ondulatório do universo, entre outras abstrações da astronomia, mas há mistérios igualmente profundos na genética para explicar como chegamos até aqui. No caso de Scott Stossel, autor do recém-lançado "Meus Tempos de Ansiedade" (Companhia das Letras, R$ 59,90, 520 págs.), o enunciado do mistério é peculiar. Bisneto de um pró-reitor de Harvard que passou seus últimos anos em posição fetal, emitindo "sons inumanos" em casa ou num hospício, este jornalista americano bem-sucedido, casado e pai de dois filhos conta que há 35 anos, 2 meses, 4 dias, 22 horas e 49 minutos tem medo de vomitar. A última vez que isso aconteceu foi aos seis anos de idade, no "início da noite de 17 de março de 1977". Stossel passou a década de 1980 invicto no quesito. Idem a de 1990. Idem a primeira metade dos 2000. E, no entanto, grande parte de sua existência girou em torno dessa fobia originária, que potencializou um então já arraigado transtorno e deu origem a outros --um "caso clássico", nas suas palavras, de horror contínuo e oportunidades perdidas. "Meus Tempos de Ansiedade" segue os passos intelectuais e a experiência de neuróticos célebres, como Freud ("estômago nervoso" e pavor de trens) e Darwin (um "diário de saúde" com páginas intermináveis sobre fadiga, tontura, agorafobia e flatulência), além de dezenas de pesquisadores e pacientes. Em termos mais contemporâneos, o texto tem algo do modelo consagrado por Susan Sontag nos anos 1970 e 1980: ensaio para o público não especializado que, a partir de um caso pessoal, dá a questões de saúde (ou científicas, stricto sensu) um caráter cultural amplo. Com diferenças óbvias de limites e abordagem, é uma operação que não chega a ser estranha --pelo contrário-- à melhor literatura de ficção. Nos dois gêneros, o que poderia ser um simples causo (o paciente narrando sua via-crúcis desde os primeiros sintomas) muda nossa visão sobre comportamento, história, política, linguagem. Por esse motivo, além de outro um pouco menos elevado (hipocondria não é algo que se confesse alegremente no jornal), livros sobre doenças são uma de minhas predileções. Um cânone onde há tratados e memórias sobre câncer (Siddhartha Mukherjee), tuberculose (Thomas Bernhard), Aids (Hervé Guibert), cegueira (Oliver Sacks), mania (Andy Behrman), neurocirurgia (Henry Marsh) e um misto de variadas espécies de obsessão (Alison Bechdel, Nick Hornby, Nelson Rodrigues). Mas foi em dois relatos que já nasceram clássicos, "O Demônio do Meio-Dia" (depressão) e "Longe da Árvore" (surdez, autismo, esquizofrenia, Síndrome de Down), ambos de Andrew Solomon, que pensei ao ler "Meus Tempos de Ansiedade". Como "Demônio" (Companhia das Letras, R$ 42,50, 584 págs.), o livro de Stossel traz um narrador que constantemente pergunta --sem encontrar respostas definitivas-- a medida atávica ou ambiental de sua dor, no que ela se deve à evolução da espécie, à criação familiar ou às exigências da sociedade moderna. Já de "Longe da Árvore" (Companhia das Letras, R$ 79,50, 1.056 págs.), "Meus Tempos" traz e discute a ideia de que doença e identidade podem se confundir. E que uma época com ojeriza às primeiras pode ser, também, uma época de rejeição às diferenças. Da eugenia nazista ao rolo compressor da indústria farmacêutica, que incentiva a criação de necessidades supridas pela própria ganância, a saúde total é um mito perigoso: em que ponto tratar a dor deixa de ser um alívio necessário e passa a ser a planificação de características que constituem nossa miséria e glória singular? Definindo-se como "judeu neurótico e histriônico" dentro de um "wasp neurótico e reprimido", ou "Woody Allen preso em Calvino", Stossel nos oferece o rigor de sua pesquisa e o tom tragicômico de sua confissão. Ele sabe que há certo ridículo nas situações reiteradas e humilhantes que vive, e que o humor é um dos modos de extrair delas uma sempre possível afirmação individual. Uma das definições (resumidas) da ansiedade é "antecipação temerosa de uma catástrofe insuportável", o que muitas vezes se soma a uma força paradoxal. Escrever um longo livro a respeito, incluindo os anos de expectativa quanto ao sucesso da empreitada, além da exposição sem pudor do próprio Big Bang, é uma coragem e tanto. Mulheres que usam redes sociais são menos estressadas, diz estudo Saúde
Hospital interdita UTI neonatal por superbactéria 16/01/2015 - Folha de S.Paulo O Hospital Universitário de Taubaté, no interior de São Paulo, interditou preventivamente a UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal após a infecção de três recém-nascidos por uma bactéria multirresistente. A medida foi tomada na quarta (14). Nesta quinta (15), a Vigilância Epidemiológica fez uma vistoria no local. Os bebês estão em isolamento. Segundo a Secretaria Estadual de Saúde, outros seis bebês permanecem internados no local, em observação. No dia 8, uma recém-nascida morreu. A secretaria informou que não é possível associar a morte à superbactéria, já que a bebê era prematura e tinha uma doença grave. Os pais de Kemilly, no entanto, afirmam ter sido avisados pelo hospital que a filha havia contraído uma bactéria. A mãe da criança, Taísa Rodrigues, 20, diz que a bebê tinha manchas pelo corpo e teve sete paradas cardíacas. O pai, Walace de Morais, 30, conta que o filtro de ar da incubadora da filha estava vencido, mas que a equipe de enfermagem disse que não havia problema. O hospital abriu uma sindicância sobre o caso. O gêmeo de Kemilly, Brian, continua na UTI. "Disseram que ele está bem, mesmo com a bactéria", disse a mãe. |