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Expectativa de vida sobe 12,4 anos em três décadas, aponta IBGE 02/12/2014 - Valor Econômico A expectativa de vida no Brasil cresceu 12,4 anos de 1980 a 2013. Ao longo de 33 anos, segundo Tábua Completa de Mortalidade para o Brasil em 2013, divulgada nesta segunda-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a expectativa de vida ao nascer no país aumentou por ano, em média, quatro meses e 13 dias. O maior crescimento na expectativa de vida, no período, foi observado na população feminina. O incremento na expectativa de vida ao nascer nessa parcela populacional cresceu 12,9 anos de 1980 a 2013. Para homens, o aumento foi de 11,7 anos. A diferença na expectativa de vida entre os homens e as mulheres também aumentou no período. Em 1980, a diferença de expectativa de vida para de homens e mulheres era de 6,1 anos a mais para mulheres. Em 2013, aumentou para 7,3 anos. Grande parte da diferença, segundo o gerente do projeto de Componentes da Dinâmica Demográfica do IBGE, Fernando Albuquerque, se dá em função da violência. A mortalidade na juventude apresentou declínio, mas concentrado na população feminina. A taxa de mortalidade desta parcela da população passou de 12 em mil mulheres em 1980, para 5 em mil em 2013; redução de 57%. Para homens, a redução foi apenas de 7,6% no período, de 23 por mil homens em 1980, para 21,5 mil homens em 2013. O IBGE destacou que a probabilidade de morte na faixa de 18 anos de 1980 até 2013 praticamente não se alterou para adolescentes do sexo masculino. Em 1980, para cada mil jovens que atingiam 18 anos, dois não completariam 19. Ano passado foi observado o mesmo valor. Segundo Albuquerque, esta estabilidade pode estar ligada a idade da primeira habilitação. "Em 33 anos não tivemos ganho expectativa de vida entre homens de 17 a 19 anos. As principais causas são a violência e os acidentes de trânsito. E a mudança nestas taxas dependem de políticas públicas que reduzam os acidentes e a violência. A implementação da Lei Seca pode ajudar, mas não dá para prever seu efeito", explicou. Segundo ele, os ganhos na expectativa de vida na primeira infância, são sobrepostos por esta estabilidade na expectativa de vida entre os 17 e 19 anos. Os maiores ganhos na expectativa de vida, de 1980 a 2013, se concentraram na população abaixo de um ano, e aquela acima de 70 anos. A taxa de mortalidade infantil em 1980 era de 69,1 em mil crianças nascidas. Hoje está em 15 para mil. A redução foi de 78%. Segundo o IBGE, em 2013 a deixaram de morrer 54 crianças menores de um ano para cada mil nascidas vivas. A mortalidade até os cinco anos também caiu, de 84 a cada mil em 1980, para 17 por mil em 2013. Redução de 79%. Segundo Albuquerque, essa melhora na primeira idade se deve às melhores condições ambientais, aumento do saneamento, melhora na saúde pública. Ajudaram também a redução na fecundidade, o aumento da escolaridade das mães e o aumento de renda. "Foram fundamentais também todos os programas governamentais, de atenção ao pré-natal, saúde na família, e o bolsa família", continuou. Na faixa acima de 70 anos, em 1980 a cada mil pessoas que completassem 70 anos, 47,5 não completariam 71. Em 2013, passou para 25,2 em mil. Entre fatores que contribuíram para o aumento nesta faixa populacional, está a elaboração do estatuto do Idoso , os programas de vacinação, a valorização da saúde dos idosos, a distribuição de medicamentos para doenças prevalentes, o programa de Saúde da Família, maior acesso da população de mais idade ao emprego, redes criadas para atendimento a esta parcela da população, a aposentadoria rural, o aumento da renda, entre outros. "Estamos cada vez mais postergando a velhice. Claro que o impacto na previdência não é bom, porque a população está envelhevendo, aumenta o fator previdênciário", explicou Albuquerque.
Hypermarcas quer fazer alianças com farmacêuticas 02/12/2014 - Valor Econômico A fabricante de medicamentos e produtos de consumo Hypermarcas estuda alianças estratégicas na área farmacêutica, disse ontem o presidente da empresa, Claudio Bergamo. "Não é nada para o curtíssimo prazo, mas é um caminho que estamos olhando além do crescimento orgânico", afirmou o executivo, durante apresentação anual para analistas e investidores. "Recentemente viajamos para a Índia para conhecer possíveis parceiros e novos mercados", contou. Segundo Bergamo, a indústria indiana tem 45% do mercado americano de genéricos. Ele citou, entre as principais empresas: Glenmark, Cipla, Cadila, Dr. Reddy's, Ranbaxy e Sun Pharmaceutical. "Percebemos nessa viagem que quando as empresas entenderam o que é a Hypermarcas, viram o grande potencial de compartilhar tecnologia". Só cerca de 20% da receita dessas companhias é gerada na Índia, segundo Bergamo. "Muitas delas tentaram fazer negócios no Brasil e, em sua maioria, chegaram à conclusão que a barreira de entrada é muito grande. Elas perderam muito dinheiro aqui e disseram que só entram no Brasil com alguém que conhece o mercado". As alianças com indústrias internacionais são avaliadas como parte da estratégia da companhia para ocupar espaços em branco no mercado farmacêutico. A Hypermarcas compete em 51% de todos os tipos de medicamentos oferecidos no mercado brasileiro e quer chegar a 78% em três a cinco anos. Para isso, está desenvolvendo mais medicamentos. "Mas também queremos trazer produtos que existem lá fora e ainda não estão no Brasil", disse Bergamo. A Hypermarcas é líder no mercado brasileiro de medicamentos OTC (isentos de prescrição médica), com marcas como Gelol, Rinosoro, Apracur, Atroveran e Benegrip. A empresa é a segunda colocada no segmento RX (com prescrição), atrás da Novartis, e terceira em genéricos, após EMS e Sanofi. Luiz Violland, presidente da divisão farmacêutica da Hypermarcas, disse que a empresa quer crescer em vitaminas - categoria em que tem 27% das vendas e pode atingir 80% -, medicamentos para diabetes e para o sistema nervoso. Bergamo contou que o bloco de controle da fabricante tem discutido até que ponto o nome Hypermarcas traduz o que a companhia é hoje. O nome foi adotado em 2007, quando a companhia iniciou uma série de aquisições - foram 23, até 2010. Atualmente, 65% dos negócios da Hypermarcas são considerados do segmento farmacêutico. Esse percentual inclui preservativos, adoçantes e protetores solares. Tais categorias são geridas pela divisão de consumo da empresa, mas, segundo Bergamo, são classificadas mundialmente como produtos farmacêuticos. Os outros 35% dos negócios se referem a produtos de higiene e beleza. Segundo Bergamo, apenas 15% da receita total da Hypermarcas, no entanto, seria impactada por um possível aumento da carga tributária sobre o setor de cosméticos. Reportagem da "Folha de S. Paulo" de ontem informou que a nova equipe econômica da presidente Dilma Rousseff estuda elevar a alíquota de PIS/Cofins sobre importados e aumentar a tributação ao setor de cosméticos em 2015, para equilibrar as contas públicas. O Valor havia informado, em fevereiro, que o governo estudava essa possibilidade, mas o Ministério da Fazenda prometeu, em abril, que consultaria o setor antes de uma decisão. O presidente da associação nacional das indústrias de higiene e cosméticos, João Carlos Basilio, disse ontem que não houve nenhuma reunião recente com o governo. "Acredito que qualquer coisa que seja terá validade apenas em 2016", afirmou Bergamo. As ações da Hypermarcas fecharam em queda de 4,7% ontem. Os papéis da Natura, líder do setor, recuaram 5,2%.
Pesquisa e desenvolvimento
1 em cada 5 infectados ignora ter HIV 02/12/2014 - O Globo O Brasil tem cerca de 734 mil pessoas com HIV , mas, delas, 145 mil (ou uma em cada cinco) não sabem que são soropositivas . Entre as que sabem, 191 mil não se tratam. Hoje, há 589 mil pessoas diagnosticadas com o vírus causador da Aids, das quais 398,5 mil estão em tratamento , um crescimento de 12,4% em relação às 354,5 mil pessoas do ano passado. Ao todo, o país teve 39.501 novos casos e 12.431 mil mortes em decorrência da Aids em 2013. Os números fazem parte do Boletim Epidemiológico HIV - Aids 2014 e foram divulgados ontem pelo Ministério da Saúde, em razão das celebrações do Dia Mundial de Luta contra a Aids. A pasta informou que pretende cumprir até 2020 a meta do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) e da Organização Mundial da Saúde, chamada de 90-90-90. Ou seja: testar 90% da população; tratar 90% dos que tiverem resultado positivo para o HIV; e fazer com que 90% das pessoas em tratamento apresentem carga viral indetectável. Para alcançar as metas, o ministério estima que precisa diagnosticar mais 72 mil pessoas com HIV, tratar mais 197 mil e fazer com que outras 206 mil tenham a carga viral suprimida. Atualmente, 331 mil pessoas em tratamento têm carga indetectável. —São dois desafios: trabalhar com esses quase 150 mil que têm HIV e não sabem e, portanto, precisam fazer o teste. E, ao mesmo tempo, trazer para tratamento os quase 200 mil que são HIV positivo, já sabem e ainda não começaram o novo esquema de tratamento — disse o ministro da Saúde, Arthur Chioro, referindo- se à diretriz que prega o uso de medicamentos imediatamente após o diagnóstico. O Brasil apresentou uma taxa de detecção de 20,4 novos casos para cada 100 mil habitantes em 2013, índice que, segundo o Ministério da Saúde, se estabilizou ao longo dos últimos anos. Isso deu 39.501 novos casos diagnosticados no ano passado, dos quais 15.243 foram no Sudeste; 8.625, no Nordeste; 8.451, no Sul; 4.260, no Norte; e 2.922, no Centro-Oeste. O estado com maior taxa de detecção em 2013 foi o Rio Grande do Sul: 41,3 por 100 mil habitantes, seguido por Amazonas (37,4), Santa Catarina (32,2) e Rio de Janeiro (27,6). O Ministério da Saúde informou também que o coeficiente de mortalidade por Aids caiu nos últimos dez anos . Eram 6,1 mortes para 100 mil habitantes em 2004, número que diminuiu para 5,7, em 2013. Alguns estados puxaram o índice para cima, como Rio Grande do Sul (11,2 óbitos por 100 mil habitantes), Rio de Janeiro (9,1) e Amazonas (8,7). Na outra ponta estão Rio Grande do Norte (3,3) e Paraíba, Sergipe e Minas Gerais (3,5 cada). Estados com pequena população, como Amapá, Roraima e Acre, não foram considerados. O Ministério da Saúde começou a avaliar os motivos para Rio Grande do Sul e Amazonas ter em índices tão altos. Foi observado, por exemplo, que no Rio Grande do Sul muitas pessoas abandonavam o tratamento. Com base nisso, foram montados planos de reorganização da rede. No ano que vem, o estudo será estendido para Santa Catarina e Rio de Janeiro. PORTO ALEGRE É A MAIS AFETADA Apesar de uma leve redução no índice de mortalidade, Porto Alegre voltou a liderar o ranking de doentes e de mortes por Aids em todo o país. A capital gaúcha registrou 96,2 casos novos da doença e 28,2 óbitos para cada 100 mil habitantes. Em números absolutos, foram registrados na cidade 1.340 novos casos da doença entre 2012 e 2013. O secretário municipal de Saúde, Carlos Casartelli, atribuiu os índices negativos à proliferação de doentes na região metropolitana, que em geral acabam sendo tratados na capital. Com os números, a ONU passou a considerar Porto Alegre "área crítica" . Segundo Casartelli, a detecção em crianças menores de cinco anos, um dos indicadores usados para medir a eficiência dos programas públicos de controle , caiu de 21,5 para 7,6 para cada 100 mil habitantes entre 2012 e 2013. Além disso , de acordo com o secretário , a mortalidade — ainda que seja quatro vezes superior à média nacional — caiu de 29,7 em 2012 para 28,2 em 2013. O coordenador da área de DST/Aids da prefeitura, Gérson Winkler, disse que a epidemia em Porto Alegre se "heterossexualizou" muito mais rapidamente que no resto do Brasil, o que pode justificar os índices alarmantes. — É um padrão muito diferente do país, o que exige um olhar diferente. É preciso uma estratégia nova de enfrentamento, com destaque para as populações vulneráveis e uma participação multidisciplinar — afirmou. Para o Ministério da Saúde, a Aids vive "epidemia concentrada ". Enquanto 0,4% da população brasileira tem HIV, o número sobe para 10,5% entre os gays e homens que fazem sexo com homens. Foi justamente entre os gays jovens de 15 a 24 anos que houve o maior crescimento proporcional de novos casos. Além disso, a maioria das mortes ocorridas no Brasil até 2013 se deu entre os homens: 198.534, ou 71,3% do total. Outros grupos mais vulneráveis são os usuários de drogas (5,9% têm HIV), de crack (5%), e transexuais (4,9%). EM SP, 33,7 % MAIS CASOS ENTRE JOVENS Os números em São Paulo corroboram esse quadro. Os casos entre jovens de 15 e 24 anos cresceram 33,7% entre 2007 e 2012 no estado, segundo o Boletim Epidemiológico do Centro de Referência e Treinamento (CRT) DST/Aids . Entre jovens de sexo masculino que buscaram ajuda no sistema de saúde por causa de efeitos do vírus, o crescimento foi de 76,9%. Entre as mulheres , houve decréscimo de 25%. Segundo a infectologista Denise Lotufo , gerente de assistência do CRT, a epidemia sempre foi concentrada em grupos mais vulneráveis. Atualmente, ela considera "assustador" o crescimento da doença entre jovens gays do sexo masculino . —Depois de 30 anos de epidemia, é muito triste ver jovens de 20 anos ou menos doentes — diz a médica. Na população paulista em geral, entre 2007 e 2012 houve queda de 4,5% no número de casos . O único grupo que registrou aumento nesse mesmo período é o de jovens do sexo masculino.
Saúde
Em 9 anos, Aids cresce 32% entre jovens 02/12/2014 - Folha de S.Paulo Enquanto a taxa de detecção de casos de Aids tem se mantido estável no Brasil, o número apurado entre a população jovem, entre 15 e 24 anos, tem sido crescente. Em 2004, foram notificados 9,6 casos por 100 mil habitantes nesse grupo específico. No ano passado, essa proporção chegou a 12,7, o que corresponde a um aumento de 32,3% no período. Nos números gerais, a taxa no país foi de 21 casos por 100 mil habitantes em 2004 para 20,4 casos em 2013. O público jovem será justamente o foco da campanha lançada pelo Ministério da Saúde para prevenção e tratamento da doença. Haverá ainda material específico para a população jovem gay e para travestis. "Volta a ser comum o comportamento de três, quatro parceiros diferentes numa mesma noite. Esse tipo de comportamento, que [o medo da] a Aids parecia ter acabado, está voltando", diz Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde da pasta. O ministério analisa ainda os motivos para a alta incidência de casos e mortalidade em Estados como Rio Grande do Sul e Amazonas, com o objetivo de traçar estratégias específicas. Se em 2013 a taxa média de mortalidade no país foi de 5,7 óbitos por 100 mil habitantes, no Rio Grande do Sul foram 11,2 casos para o mesmo universo. "Ainda não temos uma explicação", disse o ministro Arthur Chioro (Saúde). Ao todo, 12.431 pessoas morreram no ano passado em decorrência da doença. SÃO PAULO Em São Paulo, o número de novos casos de Aids cresceu 21,5% entre jovens nos últimos sete anos, segundo a Secretaria de Estado da Saúde. Em 2013, 722 novos casos foram registrados, ante 594 notificados em 2007. Outra tendência assinalada pelos dados é que o aumento entre jovens tem sido puxado pela alta circulação de vírus HIV entre homens que fazem sexo com homens. O jovem Diego Callisto, 25, hoje consultor da ONU, faz parte das estatísticas. Ele descobriu ser soropositivo aos 18 em uma relação estável. "Tudo o que eu pensava era: o que eu vou fazer da minha vida se eu só tenho 18 anos e já estou com HIV?" Callisto afirma que pouco sabia sobre o vírus. Hoje, referência para jovens, ele diz ter sido procurado na última semana por dois garotos na mesma situação e "sem conhecimento." "Um tinha 19 anos, descobriu ser positivo e não estava tomando medicamento", relata o consultor. "E um outro, de 21 anos, passou por situação de risco e desconhecia que o uso de antirretrovirais em até 48 horas após a exposição pode evitar o contágio."
Epidemia de confusão 02/12/2014 - Folha de S.Paulo Um vírus misterioso emerge na África e se dissemina. Um público ansioso e cético rejeita as evidências científicas de que o vírus é transmitido apenas por meio de fluidos corporais. Não existem medicamentos para tratar os pacientes infectados nem vacina para prevenir novos casos. As pessoas evitam os infectados e as pessoas que tiveram contato com eles. Algumas exigem quarentenas. Teóricos conspiratórios alegam que o vírus escapou de laboratórios governamentais. Não estamos falando do ebola. Estamos falando do surto, no início da década de 1980, do HIV, o vírus que causa a Aids. As duas epidemias suscitaram reações estranhamente semelhantes de autoridades de saúde e do público, suscitando perguntas cruciais sobre o porquê de o mundo permanecer despreparado para reagir contra ameaças virais repentinas. Especialistas subestimaram o alastramento dos dois vírus. Depois de desenvolverem um exame para detectar o HIV, médicos descobriram que milhões de pessoas estavam infectadas. A epidemia de ebola, que envolve milhares de pessoas, até agora está restrita à África Ocidental. Mas, enquanto ela continuar a se alastrar nessa região, ela representa uma ameaça grave ao resto do mundo. Os cientistas delinearam os modos de transmissão do ebola e do HIV prontamente e com clareza. Mesmo assim, as autoridades públicas não comunicaram essas informações de uma maneira clara. No início da epidemia de Aids, autoridades e jornalistas falavam em "fluidos corporais", evitando usar termos como pênis, vagina e esperma. Apenas mais tarde é que passaram a falar explicitamente sobre os riscos das relações sexuais anais. A ambiguidade teve um custo alto. As pessoas evitavam frequentar restaurantes com garçons considerados gays, por medo de contrair a doença de pratos e alimentos supostamente contaminados. Algumas pessoas pediram quarentenas que não faziam sentido. As autoridades sanitárias tiveram tempo de sobra para polir suas habilidades linguísticas. Mesmo assim, a frase "fluidos corporais" voltou, e há confusão quanto à possibilidade de o vírus ser "transmitido pelo ar", enquanto as autoridades tentam explicar que o vírus do ebola não se dispersa do mesmo modo que os da gripe. E assim a história se repete. Um público incerto estigmatizou muitos sobreviventes do ebola, como antes eram estigmatizados os aidéticos, apesar de não constituírem risco a outras pessoas. Governantes e autoridades de saúde entraram em desacordo sobre a necessidade de colocar em quarentena pessoas que voltam da África Ocidental, apesar de essa política não ser baseada em evidências científicas. A saúde pública envolve política, por sua própria natureza. Como políticos, as autoridades sanitárias tradicionalmente tendem a minimizar riscos, para acalmar a ansiedade. As autoridades não têm feito silêncio sobre o ebola, mas em alguns momentos têm usado termos enfáticos e absolutos demais. Apesar da ausência de experiência anterior, especialistas previram que qualquer hospital americano poderia lidar com pacientes de ebola em segurança. Não foi o que aconteceu no Texas. Para seu crédito, as autoridades se corrigiram prontamente. Mas o dano já tinha sido causado. O medo do desconhecido contribui muito para agravar a ansiedade durante surtos de doenças. No início da epidemia de Aids, o HIV era um enigma. Num primeiro momento, cientistas não sabiam se a causa da doença era um agente infeccioso ou uma droga. O ebola foi identificado na África Central em 1976, mas era desconhecido na África Ocidental quando casos começaram a surgir na Guiné no início deste ano. A Organização Mundial de Saúde informou que até 7 de novembro 13.268 pessoas já tinham contraído a doença, 4.960 das quais tinham morrido. Como foi o caso nos primórdios da Aids, o único tratamento comprovado é a terapia de apoio. Se forem encontradas drogas para tratar o ebola, profissionais de saúde terão que encontrar maneiras de levá-las aos pobres da África. A epidemia da Aids pode nos ter preparado para isso, pelo menos. Os dois vírus continuam a representar desafios enormes. Tanto um quanto outro vão deixar um legado trágico: centenas de milhares de órfãos.
Cresce 29% o uso de coquetel antiaids 02/12/2014 - O Estado de S.Paulo O número de pessoas que usam medicamentos antiaids no Brasil cresceu 29% em relação ao ano passado. De janeiro a outubro, 61.221 pacientes iniciaram a terapia para controlar o HIV, conforme divulgado ontem pelo Ministério da Saúde. O crescimento é reflexo da mudança no protocolo nacional, anunciada em dezembro de 2013. Até então, o tratamento era iniciado apenas a partir de uma determinada fase da doença, de acordo com as taxas de vírus circulante no organismo e o comprometimento do sistema imunológico. Atualmente, a terapia pode ser iniciada assim que o diagnóstico do HIV é realizado, desde que seja a vontade do paciente. A mudança segue uma tendência internacional. O governo estuda agora a ampliação da estratégia de terapia pré-exposição – quando grupos de alto risco para a doença passam a tomar de forma rotineira antirretrovirais, não para tratamento, mas para evitar o contágio. Um estudo está sendo realizado em sete cidades do País, com 1.300 pessoas. Os resultados devem ficar prontos no próximo ano. Desafios. Conforme os dados divulgados ontem, a aids continua avançando no Brasil entre homens que fazem sexo com homens. O número de casos notificados, que era de 36,6% em 2008, passou para 43,2% em 2013.O aumento se dá em todas as regiões do País e em todas as faixas etárias, com exceção dos que têm mais de 50 anos. “É uma preocupação, sobretudo entre a população mais jovem”, afirmou o ministro da Saúde, Arthur Chioro, em cerimônia pelo Dia Mundial de Luta Contra a Aids. Para conter essa tendência, o ministério estuda a adoção de novas estratégias de prevenção, principalmente em sites de encontros. “Ações nas escolas apresentam uma série de dificuldades: resistência de professores, de diretores. Precisamos falar diretamente para esse público.” O Brasil registrou no ano passado 39.501 novos casos de aids. A taxa de detecção da doença é de 20,4 casos a cada 100 mil habitantes, um indicador que se mantém estável em um patamar considerado alto. Os dados mostram ainda uma tendência de que danos indicadores de mortalidade na última década. Em 2004,eram registrados 6,1 óbitos para cada 100 mil habitantes.Noano passado, a relação era de 5,7 para cada 100 mil. A redução, no entanto, é verificada no Sudeste e Sul.No Norte,as taxas aumentaram 75% e no Nordeste, 41,9%. Sem saber. A meta do governo é ampliar para 90% o número de pessoas testadas para HIV no País. Chioro ressalta que outro desafio a se enfrentar é reduzir o número de pessoas que atualmente não sabem ser portadoras do vírus. A estimativa é de que sejam 150 mil. Proliferação do Ebola desacelera 02/12/2014 - O Estado de S.Paulo O ritmo da proliferação do Ebola sofreu desaceleração e a Organização Mundial da Saúde (OMS) diz que sua estratégia começa a dar resultado, ainda que nem todas as metas tenham sido atingidas. Mas a entidade alerta que a crise ainda ameaça os países africanos. Um contágio internacional também não é descartado. Agora, o objetivo é de que, em meados de 2015, as transmissões sejam zeradas. Há dois meses, a OMS estabeleceu metas para lidar com a epidemia e interromper a proliferação. Entre medidas, estipulou que pelo menos 70% dos pacientes fossem tratados em zonas isoladas em hospitais preparados. Outro objetivo era o de que pelo menos 70% dos mortos fossem enterrados de forma adequada e que os corpos não contaminassem novas pessoas. Na Libéria e na Guiné as metas foram superadas com a ajuda de doações de quase US$ 1 bilhão pela comunidade internacional. A exceção está em Serra Leoa, onde os objetivos não foram atingidos em muitas regiões. Hoje, 20% dos novos casos continuam aparecendo entre pessoas que tiveram contato com os mortos em enterros. “Houve desaceleração real de novos casos e não vemos mais o crescimento exponencial”, disse o vice diretor da OMS,Bruce Aylward. Ele chegou a alertar em setembro que, por semana, os números poderiam ser de 5 mil a 10 mil novos casos em dezembro. Em 2014,o Ebola já causou 5,9 mil mortes e contaminou 16 mil pessoas. |