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Medicamentos

Adicional de insalubridade
11/11/2014 - Valor Econômico


Um propagandista de produtos farmacêuticos que trabalhava dentro de hospitais convencendo médicos a prescrever medicamentos comercializados pela Dr. Reddy’s Farmacêutica do Brasil não vai receber adicional de insalubridade.
Para os ministros da 8a Turma do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ele não tinha contato direto e permanente com pacientes nem com agentes biológicos infectocontagiosos que justificassem o adicional. O propagandista disse na reclamação trabalhista que frequentava hospitais e clínicas, e pediu insalubridade em grau máximo devido à exposição frequente a agentes insalubres conforme a Norma Regulamentadora 15 do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Em defesa, a empresa argumentou que as visitas eram realizadas apenas em áreas comerciais dos hospitais e clínicas, em salas de reunião, recepções e dentro dos consultórios, sem qualquer contato com pacientes ou pessoas doentes.



Pesquisa e desenvolvimento

 

Odores aceleram regeneração celular
11/11/2014 - Folha de S.Paulo

Apesar de ser um dos sentidos humanos mais antigos, o odor foi um dos últimos a ser estudado. Nos últimos dez anos, mais ou menos, cientistas descobriram que os receptores olfativos não estão presentes apenas no nariz, mas estão em todo o corpo, exercendo papel crucial em uma série de funções fisiológicas.
Agora uma equipe de biólogos descobriu que nossa pele está cheia de receptores olfativos.
Não apenas isso: a exposição de um desses receptores a um odor sintético de sândalo, conhecido como Sandalore, desencadeia uma enxurrada de sinais moleculares que parecem induzir à cura de tecidos lesionados.
Numa série de testes, Hanns Hatt, da Universidade Ruhr Bochum, na Alemanha, constatou que a pele se recupera 30% mais rapidamente de abrasões quando há Sandalore presente. Cientistas acham que a descoberta pode levar à criação de produtos contra o envelhecimento da pele e de novos tratamentos para traumas físicos.
A presença de receptores olfativos fora do nariz pode parecer estranha à primeira vista, mas, como observaram Hatt e outros, esses receptores estão entre os sensores químicos mais evolutivamente antigos do corpo, sendo capazes de detectar compostos de inúmeros tipos.
"Se pensamos nos receptores olfativos como detectores químicos especializados, em vez de receptores nasais capazes de detectar odores, então faz muito sentido que eles estejam em outros lugares", comentou Jennifer Pluznick, professora de fisiologia na Universidade Johns Hopkins em Baltimore. Em 2009, ela descobriu que os receptores olfativos ajudam a controlar a função metabólica e a regular a pressão sanguínea dos rins de camundongos.
Pense nos receptores olfativos como um sistema de fechadura e chave, sendo uma molécula de odor a chave da fechadura do receptor. Apenas certas moléculas se encaixam com certos receptores. Quando a molécula correta aparece e pousa sobre o receptor que corresponde a ela, desencadeia o envio de um sinal nervoso ao cérebro, que nós apreendemos como odor. Mas o mesmo sistema pode cumprir outras funções.
Em um estudo publicado em 2003, Hatt e seus colegas escreveram que receptores olfativos encontrados no interior dos testículos funcionam como uma espécie de sistema químico de orientação que possibilita aos espermatozoides encontrar o caminho até um óvulo não fertilizado.
Desde então, Hatt já identificou receptores olfativos em vários outros órgãos, incluindo fígado, coração, pulmões, cólon e cérebro. Evidências genéticas sugerem que quase todos os órgãos do corpo contêm receptores olfativos.
Em 2009, por exemplo, Hatt e sua equipe informaram que a exposição de receptores olfativos na próstata humana ao beta-ionona, composto odorífero primário presente em violetas e rosas, parece inibir a disseminação de células cancerosas da próstata.
No mesmo ano, a bióloga Grace Pavlath, da Universidade Emory, em Atlanta, publicou um estudo sobre receptores olfativos em músculos esqueléticos. Ela descobriu que, quando os receptores são banhados em Lyral, fragrância sintética com perfume do lírio do vale, ocorre a regeneração do tecido muscular. O bloqueio desses receptores inibe a regeneração muscular, sugerindo que os receptores olfativos são necessários ao complexo sistema de sinalização bioquímica que leva células-tronco a se transformarem em células musculares e a substituírem tecidos lesionados.
Os receptores olfativos são o maior subconjunto de receptores acoplados à proteína G, família de proteínas encontrada na superfície de células que permite às células detectar o que se passa à sua volta. Esses receptores são alvo comum de medicamentos, e esse fato é um indício positivo para o que se poderia descrever como medicina baseada nos cheiros.
Mas, devido à complexidade do sistema olfativo, essa medicina pode estar distante. Os humanos possuem cerca de 350 tipos distintos de receptores olfativos. Até agora, os cientistas encontraram a correspondência de apenas um punhado deles com os compostos químicos que eles detectam. Há pouco conhecimento sobre o que faz a maioria dos receptores.
Também não está claro se os receptores olfativos têm sua origem evolutiva no nariz. "Eles são chamados receptores olfativos porque os encontramos primeiro no nariz", disse Ben-Shahar. "Mas não se sabe quais evoluíram primeiro."



Luto em vida
11/11/2014 - Folha de S.Paulo


Colunista: Suzana Herculano-Houzel

Como já escrevi aqui antes, o luto é o processo de convencimento do cérebro de que todas as expectativas que envolvem uma pessoa querida não se realizarão mais. Em geral, o luto é póstumo. Mas às vezes, tristemente, é um processo que acontece ainda em vida.

Luto em vida é o que faz a família de quem sofre de alzheimer e outras demências semelhantes.

Como as primeiras regiões do cérebro a serem mais afetadas, perdendo sinapses e neurônios, incluem o hipocampo, região necessária para a formação de novas associações, primeiro se vai a memória recente: o registro do que se comeu no café da manhã, do que se fez ontem, do jogo que acabou de passar na televisão.

Depois, conforme a degeneração se agrava e se espalha para outras regiões do córtex cerebral, vão-se memórias cada vez mais distantes: do endereço de casa, dos amigos recentes e, por fim, dos próprios filhos.

Aqui começa o luto em vida: quando a família precisa se convencer de que aquela pessoa não mais habita seu corpo ainda vivo. O aspecto misericordioso da doença é que, passados os estágios iniciais, o próprio doente não tem mais ciência do seu estado: ele vive num fluxo constante de confabulação, conforme seu cérebro conjura histórias com os elementos mais acessíveis.

Contestar declarações absurdas como "eu tive um cachorro como o que aparece na televisão" ou "você não é minha filha, onde está minha filha?" torna o convívio ainda mais sofrido --e para os dois lados.

Inesperadamente, um casal de atores nos EUA descobriu um jeito de amenizar esse sofrimento dos dois lados, ao lidar com sua própria idosa doente, usando uma técnica de... teatro de improviso.

A base do improviso é jamais dizer "não". Um lado nunca contesta o outro. A regra é entrar no jogo, mesmo que a proposta seja impossível. "Então a cadela Lassie era da senhora? Que máximo, como ela era?" é um exemplo fácil.

É mais difícil entrar no jogo quando é preciso negar que a filha é você e dizer que a filha real saiu e mandou você em seu lugar. Mas talvez ainda ganhe da alternativa. No mínimo, tem uma vantagem. Além de não irritar e confundir ainda mais a pessoa demenciada, ajuda quem fica a criar uma nova relação com a pessoa desmemoriada que agora habita aquele corpo e fazer o luto em vida da mente que se foi.

SUZANA HERCULANO-HOUZEL é neurocientista, professora da UFRJ, autora do livro "Pílulas de Neurociência para uma Vida Melhor" (ed. Sextante) e do blog www.suzanaherculanohouzel.com


A Johnson & Johnson
11/11/2014 - Valor Econômico


A Johnson & Johnson está buscando aquisições na China para aumentar suas vendas de produtos farmacêuticos, disse ontem ao WSJ o diretor-presidente da empresa americana, Alex Gorsky. Ele acrescentou que pretende se concentrar no tratamento de doenças prevalentes, como câncer de pulmão.
 


Saúde



Epidemia de ebola expõe erros de presidente liberiana
11/11/2014 - Folha de S.Paulo


MONRÓVIA, Libéria - A presidente esperou até seus familiares estarem acomodados em volta da mesa do jantar para anunciar, sem fanfarra, a deserção mais recente de um membro de seu gabinete. "Perdi meu ministro da Justiça hoje", disse.

Enquanto pipocavam perguntas em volta da mesa, a presidente, tendo dito tudo o que pretendia, terminou seu almoço de "corned beef" enlatado e arroz -o equivalente na Libéria a um prato de miojo- e se levantou.

"Estamos atrasados", anunciou, sem mencionar o fato de que todos a tinham esperado por quatro horas. "Vamos andando."

Nos últimos oito anos, a presidente Ellen Johnson Sirleaf, 76, vem percorrendo uma corda bamba política precária. Como a primeira líder eleita da Libéria, após uma guerra civil devastadora, ela tem tido que manobrar inimigos e aliados enquanto impulsiona o país em sua primeira trajetória de crescimento econômico em décadas.

Agora o ebola interrompeu muitos desses avanços. Os investidores estrangeiros que cortejaram Johnson Sirleaf, ex-burocrata do Banco Mundial, fugiram. Empresas foram fechadas, funcionários foram embora e a construção de rodovias parou.

Num país onde menos de 50% das crianças em idade escolar estavam matriculadas na escola primária, as escolas públicas estão fechadas há meses. O Banco Mundial avisa que o ebola pode fazer a frágil economia da Libéria despencar quase 12%. Todas menos duas linhas aéreas estrangeiras suspenderam seus voos ao país.

"No momento, toda a atenção internacional está voltada ao ebola", disse a presidente, aludindo aos críticos, entre os quais figura a ONU, que dizem que ela tem estado mais preocupada com a economia que com a catástrofe de saúde. "Se não nos concentrarmos sobre nossa economia, não poderemos sustentá-la quando essa atenção acabar."

Johnson Sirleaf é a primeira mulher a ser eleita presidente de um país africano, é ganhadora do Nobel da Paz e provavelmente a líder mais conhecida do continente. Depois de ocupar um cargo burocrático de baixo nível, ela se tornou uma das poucas altas funcionárias liberianas não executada por pelotão de fuzilamento no golpe militar de 1980.

Mas o ebola ameaça acabar com esse legado. A epidemia expôs deficiências avassaladoras no sistema de saúde público liberiano, infraestrutura decrépita que não foi modernizada mais de uma década depois da guerra e corrupção endêmica que, não obstante as declarações de "tolerância zero" feitas por Sirleaf, continuam a caracterizar as interações entre os liberianos e o governo.

Karin Landgren, representante especial na Libéria do secretário-geral da ONU, disse: "O ebola mostrou as muitas coisas que não foram feitas adequadamente. Coisas muito concretas, como o sistema de saúde."

Quando Johnson Sirleaf assumiu o poder, em 2006, o índice de desemprego era tão alto que ninguém mais se dava ao trabalho de calculá-lo. Não havia água corrente ou luz elétrica, porque milicianos tinham bombardeado a usina elétrica do país. As crianças morriam de doenças curáveis como tuberculose, malária e sarampo. Mesmo entre as que não adoeciam, poucas frequentavam a escola. A dívida da Libéria chegava a US$ 4,7 bilhões.

De acordo com todos os indicadores econômicos, o país avançou muito desde então. Muitos liberianos, incluindo alguns críticos de Johnson Sirleaf, dizem que a Libéria não tem outro líder político que seja capaz de conduzir o país para fora da crise do ebola. Quando ela, em 9 de setembro, escreveu uma carta ao presidente Obama, pedindo ajuda, a resposta chegou dias depois e superou de longe as expectativas: 4.000 militares americanos para construir 18 unidades de tratamento do ebola.

Agora a presidente está tentando fazer uso do ebola para levar adiante projetos econômicos mais amplos, como o conserto da pista de pouso do aeroporto. "O apoio que está chegando ao país não pode ser todo voltado ao ebola", disse Sirleaf.
 



Malhação contra a dor
11/11/2014 - Folha de S.Paulo

Música alta e corpos sarados? Não nestas academias, que estão mais preocupadas em tratar lesões e em envelhecer com bem-estar.
Voltadas para idosos e para pacientes em tratamento de lesões, as "academias terapêuticas", como são chamadas por seus donos, começam a surgir em São Paulo.
Heloísa Fleury, 62, é uma cliente. Antes de entrar na B-active, em Higienópolis, zona oeste de São Paulo, sentia dores na coluna lombar. "Precisava ganhar massa muscular", afirma ela. As dores desapareceram.
A finalidade estética, embora presente, fica em segundo plano nas academias terapêuticas. Isso porque um dos processos que ocorrem com o envelhecimento é o desgaste das articulações. Daí surgem as dores que tanto incomodam os idosos.
A alternativa que resta para frear o desgaste das articulações, que gera a dor, é justamente o fortalecimento dos músculos, diz o ortopedista Benjamin Apter, dono da B-active, que já conta com cinco unidades na cidade.
O médico defende que os pacientes evoluam, após a fisioterapia, para a musculação terapêutica, que teria resultado mais expressivo.
APARELHOS Várias dessas academias têm aparelhos especiais, projetados para reduzir o nível de esforço necessário no começo e no fim do movimento, momentos em que o risco de agravamento de lesões é mais crítico.
O fisiatra e reumatologista José Maria Santarém, proprietário do Instituto Biodelta, centro de ensino e pesquisa que também conta com uma academia, foi um dos pioneiros no ramo de academias terapêuticas e projetou ele mesmo vários desses aparelhos.
A analista de RH Jeni Idy, 53, realizou toda sua reabilitação em uma das academias que utilizam esses aparelhos, a CQV, na Vila Mariana em São Paulo. Antes de chegar na musculação, passou por hidroterapia e RPG. Ela avalia que a dor, antes constante, hoje "aparece raramente".
Caso semelhante ocorreu com o engenheiro Sebastião Costa, 66, que procurou a academia para tratar um problema na coluna cervical.
Segundo Santarém, esses equipamentos especiais não são mais caros do que os tradicionais. "Eles também podem ser utilizados por esportistas", afirma.
MERCADO Os empresários do setor apontam que o mercado de pacientes e idosos é a próxima fronteira na expansão das academias --no fim de outubro, uma pesquisa do Ministério da Saúde mostrou que já há mais brasileiros praticando a musculação do que jogando futebol.
"Já existem academias para mulheres, para crianças e para a classe C --a "smart", que custa menos. Por que não ter uma para a terceira idade?", indaga Waldyr Soares, empresário no mercado de fitness há mais de 30 anos.
Ele lembra que o Brasil passa por um processo de envelhecimento da população. "A demanda é real. É um segmento que chega muito forte." Para ele, as grandes redes de academias ainda não conseguiram entender e explorar bem esse nicho.
Um problema das academias especializadas ainda é o preço. Na CQV, na Biodelta e na B-active, duas aulas semanais (de 1h) custam cerca de R$ 300 por mês.
Entre os mais pobres, políticas públicas têm também estimulado a demanda. No Estado de São Paulo, por exemplo, o Cartão VidAtiva, criado no fim de 2013, oferece a idosos que ganham até três salários mínimos R$ 57 por mês para gastar em uma das 130 academias cadastradas. Há hoje 3.340 beneficiados.
Um benefício das academias é que elas são também local de interação social. "Tem até paquera na terceira idade", conta Santarém.



Auditoria da CGU encontra problemas na prestação de contas da Saúde
11/11/2014 - Folha de S.Paulo

Auditoria da Controladoria-Geral da União constatou prestação inadequada de contas e falhas de gestão e de controle interno do Ministério da Saúde no ano passado.
"Os aspectos relacionados aos controles internos administrativos da gestão de transferências voluntárias, envolvendo, entre outros, celebração, fiscalização e análise de prestação de contas, são frágeis ou inexistentes", diz o relatório da CGU, concluído em julho deste ano.
Auditores apontaram prestação de contas inadequada, no valor de R$ 150,7 milhões, gastos com vacinas contra "influenza", adquiridas da Fundação Butantan.
Além da "ausência de comprovação da boa e regular aplicação" desses recursos, a CGU assinalou um dano potencial aos cofres públicos no valor de R$ 3,8 milhões, diante das falhas na composição dos custos da vacina.
De acordo com a CGU, a Fundação deveria ser responsável por produzir a totalidade de 99 milhões de doses, mas acabou adquirindo uma grande parte das vacinas de uma empresa francesa.
O Ministério da Saúde afirma que não há irregularidade porque havia parceria para transferência de tecnologia. Diz ainda que conseguiu reduzir o preço da dose, economizando R$ 31,96 milhões.
Esclarece também que atendeu a recomendação da CGU e solicitou os documentos referentes ao convênio para avaliar os custos.
DESCONTROLE Os auditores também apontaram o recebimento de hemoderivados com prazo de validade menor do que o estabelecido em contrato, o que provocou, segundo a CGU, perda de medicamentos sem sua imediata substituição. Entre as falhas detectadas nesse setor, foram listadas ainda descontrole de estoques e interrupção da assistência farmacêutica.
O Ministério da Saúde afirma que não houve desabastecimento nem desassistência a pacientes hemofílicos.
A CGU explica que as falhas identificadas não resultaram em certificação irregular das contas do Ministério da Saúde porque os fatos não podem ser atribuídos à secretaria executiva da pasta –principal alvo da auditoria.
"Foram informadas todas as falhas cometidas pelos demais agentes da Secretaria Executiva e recomendadas as devidas apurações. Desse modo, cabe sim, a apuração e eventual responsabilização, não somente de outros agentes públicos do Ministério", esclareceu a CGU, por meio da assessoria de imprensa.
O Ministério da Saúde assegurou que está tomando todas as medidas necessárias para aplicar eventuais sanções e também para averiguar falhas e irregularidades apontadas pelos auditores.



O perigo aumentou
11/11/2014 - O Estado de S.Paulo


O Ministério da Saúde lançou nova campanha para combater um velho problema – o das doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti. E seu slogan – “O perigo aumentou” –mostra que, além de antigo, o problema agora é maior. O Aedes aegypti ficou duplamente perigoso – além da dengue, está transmitindo a febre chikungunya.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta o Brasil como um dos 30 países que mais sofrem com a dengue, mal que atinge anualmente 390 milhões de pessoas no mundo. Ocupação urbana desordenada, crescimento demográfico mais acelerado do que a expansão do saneamento e controle ineficaz do mosquito são as causas do que a OMS chama de desastre silencioso.
É desigual a capacidade de combater o mosquito nas várias regiões. O planejamento também é falho, assim como a execução dos programas, que não contemplam a vigilância permanente, mas apenas ações preventivas de curto prazo ou mutirões em situações críticas.
Ano após ano, relatórios do Ministério da Saúde mostram Estados e municípios que se mantêm alertas no controle da doença ao lado de outros que pouco investem na educação da população, no treinamento de agentes para o controle dos focos do mosquito e na adequação da rede de saúde.
Sem a vigilância permanente nem planejamento que considerem mudanças do cenário urbano (invasões de terra, grandes obras públicas, aumento de imóveis vagos, entre outros), os resultados positivos não se sustentam e, frequentemente, regiões que ocupam condição exemplar num ano migram para o ranking das que sofrem com a doença no período seguinte.
Mesmo São Paulo, a cidade mais rica do País, tem vivido esse movimento pendular. Entre janeiro e junho, dez pessoas morreram vítimas da dengue; no ano passado, foram duas. A cidade acumulou, no primeiro semestre deste ano, 12.531 casos da doença, um volume 400% maior do que o registrado no mesmo período do ano passado. Antes disso, em 2010 ocorreu o que foi considerado o pior surto de dengue dos últimos dez anos. Mesmo assim, o número de casos ficou em 6 mil na época, menos da metade do registrado nos primeiros seis meses deste ano.
O Levantamento Rápido do Índice de Infestação pelo Aedes aegypti (Liraa) aponta para a situação de alerta em dez capitais brasileiras: Belém, Porto Velho, Maceió, Natal, Recife, São Luís, Aracaju, Vitória, Cuiabá e Porto Alegre. Dos 1.463 municípios pesquisados, 533 estão em situação de alerta e 117 correm o risco de sofrer uma epidemia da doença.
As causas mais comuns da proliferação do Aedes aegypti são o lixo domiciliar e depósitos residenciais, como vasos de plantas e calhas entupidas, etc. Na Região Metropolitana de São Paulo, que atualmente sofre com a seca, autoridades temem que o armazenamento incorreto da água possa ampliar ainda mais os criadouros.
O ministro da Saúde, Arthur Chioro, considera delicada a situação.
Segundo ele, o País vai pagar um preço alto se houver negligência no controle do mosquito. Por isso, o governo pretende reforçar o combate ao Aedes aegypti no verão.
Dados do Ministério da Saúde indicam que o primeiro caso da febre chikungunya foi registrado em setembro no Brasil e, até 25 de outubro, outros 824 surgiram, sendo 785 autóctones.
Conforme a OMS, o custo do tratamento de um paciente com dengue ou febre chikungunya é de US$ 1,5 mil e a esse valor deve ser somado o de 19 dias de trabalho perdidos.
Portanto, mais do que o fumacê, que só mata o mosquito adulto, não atingindo as larvas, e curtas campanhas de conscientização da população, são necessários a preparação dos profissionais de saúde e o envolvimento das autoridades responsáveis pelo planejamento urbano, pela rede de ensino, pelo saneamento e por todas as áreas que podem colaborar nessa missão. E, na rede de saúde, médicos e enfermeiros devem se atualizar para não confundir os sintomas das duas doenças, uma vez que vários deles são comuns e a demora no tratamento agrava significativamente a situação do paciente.



A luta das crianças para vencer o Ebola
11/11/2014 - O Estado de S.Paulo


Logo depois de perder os pais para o Ebola, Junior Samuel, de 8 anos, caiu doente em uma cadeira de plástico em um centro de tratamento na Libéria, o país mais afetado pela epidemia. Apático, febril e atormentado por dores, após um dia, ele começou a sangrar pela gengiva, um dos sintomas mais ameaçadores da doença.
Dez dias depois, Rancy Willie, de 9 anos, que havia perdido a mãe, chegou à mesma unidade de tratamento que Junior e com os mesmos sintomas: fraco, com febre e com dificuldade de engolir após estar deitado durante um dia inteiro ao ar livre enquanto aguardava ajuda.
Os dois garotos compartilharam o quarto no hospital mantido pela organização humanitária americana International Medical Corps (Corpo Médico Internacional em português). Eles receberam essencialmente o mesmo tratamento, mas Rancy morreu horas antes de Junior ir para casa curado. Ao mesmo tempo, médicos e enfermeiros estavam lutando pela vida de um terceiro menino, Williams Beyan, de 5 anos.
A cada dia, os médicos se sentem mais confusos sobre os diferentes destinos de pacientes cujos os casos, à primeira vista, parecem semelhantes. “Não importa quanto tempo passamos lá, nós não sabemos como prever isso”, disse Steve Whiteley, médico especialista em emergência da Califórnia que trabalhou como voluntário.
Eles dizem que ficam especialmente perplexos com o que Whiteley chamou de “efeito lâmpada” - quando o paciente parece ter melhorado e, de repente, morre.
Tentando entender porque os dois meninos reagiram de forma diferente à doença, os médicos buscam responder às seguintes perguntas: será que as crianças estavam lutando contra diferentes níveis do vírus desde o início? Um estava mais saudável do que o outro ao ser infectado? Será que os genes ou o sistema imunológico ajudam a determinar o destino do paciente? E o que os profissionais de saúde podem fazer para aumentar as chances das crianças? Um estudo publicado em outubro no periódico Doenças Infecciosas Emergentes mostra que crianças que sobreviveram a um epidemia tendem a ter níveis mais altos de um ativador do sistema imunológico no sangue, enquanto aquelas que morrem costumam ter níveis elevados de substâncias que indicam disfunção das células que revestem os vaso sanguíneos, o que pode levar à falência dos órgãos.
Entre os adultos, os níveis dessas proteínas não estão associados à sobrevivência ou morte.
“As crianças não são adultos. Elas respondem de forma diferente ao vírus”, disse Anita McElroy, médica e professora assistente na Escola de Medicina da Universidade de Emory, na Geórgia, Estados Unidos, e uma das autoras do estudo.
Os pesquisadores especulam que as crianças poderiam se beneficiar de certos tratamentos, como estatinas que atuam sobre as células que revestem os vasos sanguíneos. No entanto, esses medicamentos não têm sido estudados em seres humanos com Ebola e haveria uma chance de que eles possam piorar os resultados.
anos; embora as crianças menores de 5 anos sejam mais vulneráveis. Para os pesquisadores, isso pode estar relacionado à imaturidade do sistema imunológico ou ao fato de elas estarem mais expostas ao vírus por causa do contato muito próximo com as mães. De acordo com as estatísticas da OMS, os menores de 15 anos, em média, não têm uma vantagem de sobrevida global nessa epidemia.
No centro de tratamento da International Medical Corps, pouco menos da metade das crianças com menos de 15 anos sobreviveram, uma taxa semelhante a de pacientes em geral. Dessa faixa etária, 15 crianças já receberam alta ou morreram desde que o centro foi construído, em setembro, pela organização Save the Children. Oito estão sendo tratadas depois que uma onda de pacientes preencheu os 26 leitos da unidade.
Junior, que era muito pequeno e pesava somente 20 quilos, parecia muito doente ao chegar ao hospital. Ele não tinha parentes para cuidá-lo e os funcionários do hospital, sempre com roupas de proteção, não dispunham de tempo. Como os outros dois garotos com os quais ele estaria na enfermaria, a carga viral de Junior estava bastante elevada, um mau sinal. Os médicos lhe inseriram uma linha intravenosa e ele passou a tomar líquidos com eletrólitos para combater a desidratação.
Durante os dias, a trajetória de Junior Samuel foi anotada: 3 de outubro: ele foi admitido com febre, vômito, diarreia, perda de apetite, dificuldade de engolir, além de dores no abdome, peito e cabeça.
4 de outubro: sangramento das gengivas. “Nesse momento, havia apenas mais um menino na enfermaria que estava muito assustado de estar no mesmo quarto que Junior”, conta Audrey Rangel, uma enfermeira americana no centro.
5 de outubro: diarreia e vômito.
7 de outubro: estável 10 de outubro: febre de 39 graus Rancy Willie chegou ao hospital três dias depois. Rangel ajudou a pesá-lo: somente 16 quilos. A enfermeira amarrou uma luva em torno do braço de Rancy e teve dificuldade em encontrar uma veia. Rancy começou a choramingar de dor, mas era difícil enxergar bem à noite na unidade de tratamento e o menino estava severamente desidratado. Uma outra enfermeira tentou inserir a agulha, mas também não conseguiu. A equipe decidiu esperar até a manhã quando a enfermeira com mais experiência em pediatria estaria de plantão.
Depois de cobrir o garoto, Rangel o ajudou a tomar um solução para reidratação.
Seus goles eram muito pequenos, ainda assim, ele mal conseguia engolir. Minutos depois, a enfermeira ouviu Rancy gemendo. Ele havia vomitado na cama. Todos chamavam Rancy por seu sobrenome “Willie” porque não havia nenhum parente para corrigi-los. A voz do menino era fraca e difícil de ouvir, abafada pelo capacete - parte da roupa de proteção dos profissionais de saúde.
Rancy foi transferido para o quarto de Junior, na ala dos casos confirmados. Duas noites depois, ele caiu, bateu a cabeça e começou a sangrar de forma abundante.
Demorou uma hora e meia para que uma enfermeira o encontrasse uma vez que toda a equipe estava ocupada recebendo novos pacientes com suspeita de Ebola.
“Eu tive que fazer uma escolha” explicou a enfermeira americana, Bridget Ann Mulrooney, a seus colegas naquela noite. Havia um limite de tempo para usar as roupas de proteção e, por isso, muitas tarefas deveriam ser feitas ao mesmo tempo.Bridget enfaixou Rancy e o colocou na cama, mas no meio da noite, ele se levantou confuso e começou a vagar, nu, pelo quarto. Junior, assustado com o que ele pensou em ser o fantasma de Rancy, fugiu e encontrou uma cama em outra parte da enfermaria.
Junior não teve mais febre e começou a sentar-se do lado de fora durante o dia e a comer de novo. Seu rosto se iluminava com um sorriso sempre que alguém o cumprimentava. A cada dia, ele parecia melhor.
No dia 17 de outubro, seu quinto dia no hospital, Rancy gemia. “O que você quer” perguntou uma enfermeira. Ela e um médico limparam a diarreia e deram ao menino um analgésico e um sedativo. Ele sangrava pelos olhos, pelo nariz e pela boca. A irmã e o primo do menino haviam sido admitidos no hospital e haviam tomado o lugar de Junior na enfermaria. Mas eles estavam muito doentes para oferecer conforto. Rancy, que adorava dançar e jogar futebol e queria ser engenheiro civil, não resistiu e morreu antes do amanhecer.
Naquela manhã, depois de dois dias no centro de tratamento, Junior recebeu alta.
Como o vírus não foi mais detectado em seu sangue, ele foi viver com os tios. Ele sorriu e disse que não tinha tido medo até as pessoas envolta dele começarem a morrer. Ele disse, por telefone, que esperava poder ir à escola um dia, algo que ele nunca havia feito.
William, de 5 anos, ainda era paciente do hospital quando Junior foi embora. Seu pai, George Beyan, havia recebido alta no mesmo dia que o teste de Ebola deu positivo para William. A equipe médica aconselhou Beyan a voltar à enfermaria para ajudar a cuidar do menino.
Durante a triagem, a enfermeira checou todos os sintomas do caso de William: febre, vômito, dor no estômago, peito, músculos e juntas, dificuldade de engolir e respirar, além de erupção cutânea e olhos vermelhos.
Beyan encorajou o filho a comer e beber, pediu suco extra e até caminhava do lado com o garoto, conforme orientação, para que ele tivesse um pouco de ar fresco e luz solar. A quem perguntasse, o pai diria que William estava ficando melhor pouco a pouco. Os médicos queriam acreditar, mas a febre continuava alta e a diarreia também não cedia.
A sobrevivência de Junior havia surpreendido a todos e enchido Beyan de esperança pelo filho. Ele mesmo havia chegado ao hospital muito fraco e soluçado durante dias, um sinal fortemente associado à morte por Ebola. A doença é caprichosa e os médicos ainda estavam aprendendo a lidar com ela.
Uma noite, William começou a gemer, depois de ter uma febre de 40 graus durante o dia. Ele havia estado do lado de fora assistindo um filme e então, faleceu.
O pai estava inconsolável. “Meu menininho”, soluçava. /Tradução de Maria Tereza Matos




 

 

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