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Medicamentos
O mercado negro de medicamentos Após 4 anos, sistema para rastrear medicamentos começa a sair do papel 12/10/2014 - Portal Valor Econômico SÃO PAULO - Após quatro anos, a lei que prevê um sistema nacional de rastreamento de medicamentos começa a sair do papel. O primeiro teste foi realizado nesta quarta-feira na indústria farmacêutica Libbs, em Embu das Artes, na região metropolitana de São Paulo. Com o sistema, cada embalagem terá um código bidimensional e um número único de identificação do medicamento (nos moldes de um RG), acompanhados da data de fabricação, validade e número do lote. O objetivo é controlar o destino dos medicamentos, desde a etapa de produção até a venda ao consumidor. A lei que prevê o Sistema Nacional de Controle de Medicamentos existe desde janeiro de 2009. Inicialmente, a previsão era que o sistema fosse implementado em até três anos. Segundo o ministro da saúde Arthur Chioro, a demora ocorreu devido a discussões sobre o modelo que seria adotado para identificação dos remédios. Em 2011, a Anvisa desistiu de uma proposta de rastreabilidade que envolvia o uso de um selo da Casa da Moeda, tido pela indústria como algo que iria encarecer o produto. “Muitas indústrias também precisavam de tempo para fazer a mudança de sua linha de produção e adaptação”, afirma. O modelo final do sistema foi aprovado pela Anvisa no fim do ano passado. Agora, a meta é que as empresas apresentem uma plataforma piloto do sistema, com pelo menos até três lotes rastreáveis, até dezembro de 2015. A previsão é que o sistema comece a operar em toda a cadeia de medicamentos no ano seguinte, quando termina o prazo para que as indústrias, distribuidoras e farmácias se adaptem às normas. Para Chioro, o sistema deve evitar casos de roubo de cargas, contrabando e falsificação de remédios. Em caso de problemas, o 'RG' do medicamento também deve auxiliar no recolhimento do produto, afirma. “O consumidor que compra o remédio na farmácia terá a certeza que está recebendo um medicamento seguro, que foi acompanhado desde a produção", disse. (Folhapress) Cremesp autoriza médicos a prescrever derivado de maconha 11/10/2014 - Folha de S.Paulo Em decisão inédita, o Cremesp (Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo) publicou norma autorizando os 119 mil médicos paulistas a prescrever o canabidiol (CBD), um dos 80 princípios ativos da maconha. A substância não tem efeitos psicotrópicos. A resolução, publicada no "Diário Oficial do Estado" nesta quinta (9), vale para apenas para os casos graves de epilepsias refratárias aos tratamentos convencionais. Também o Conselho Federal de Medicina (CFM) pode autorizar a prescrição da substância no fim deste mês. A diretoria estuda o tema desde julho. Se aprovada, a prescrição poderá ser feita por médicos de todo o Brasil. Segundo o Cremesp, ensaios clínicos demonstram que o CBD reduz as crises convulsivas em pacientes epiléticos com segurança adequada e boa tolerabilidade. "Isso não é incentivo para o uso da maconha fumada, seja recreativo, seja medicinal. Estamos falando de um componente [CBD] que pode ser isolado ou sintetizado por métodos laboratoriais seguros e confiáveis e que não causa efeitos alucinógenos", afirma Mauro Aranha, coordenador da Câmara Técnica de Psiquiatria do Cremesp. Ele diz que a decisão veio para atender pais aflitos com com uma doença rara, que pode evoluir para retardo mental grave e morte. A epilepsia atinge um a cada grupo de mil nascidos vivos. As formas mioclônicas graves (que causam contrações musculares incontroláveis), atendidas na resolução, afetam um em 20 mil. Para Aranha, a nova norma também tranquilizará os médicos. "Eles ficavam receosos em prescrever [o CBD] porque a substância não tem registro no país", diz. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) permite a importação do CBD mediante prescrição e laudo médico, justificativa para o uso do CDB, termo de responsabilidade e formulário de solicitação de importação para remédios controlados. De abril até agora, a agência autorizou a importação excepcional da pasta com CBD para 113 pessoas, de um total de 167 pedidos. O canabidiol, porém, ainda consta na lista de substâncias proibidas da Anvisa e só tem a importação liberada para uso médico e pesquisa. Em maio, a diretoria da agência discutiu a reclassificação do composto, mas não houve decisão. A agência informa que o tema deve entrar novamente em pauta mas que, em razão da complexidade do tema, não há prazo para que isso ocorra. Para o médico José Alexandre Crippa, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, há evidências suficientes de que o CBD tem potencial para tratar diversas doenças, com um bom perfil de segurança, e não há razão para que permaneça proibido. Segundo ele, a decisão do Cremesp é "histórica". A USP de Ribeirão Preto faz pesquisas com o canabidiol desde os anos 1970. Crippa também foi o médico que fez o laudo para que Anny Fischer, 6, portadora de uma das formas graves de epilepsia, conseguisse importar o CBD. Anny foi a primeira a conseguir usar o composto legalmente. Ela sofre com a doença desde os 45 dias de vida e tinha até 80 convulsões por semana. Com o CBD, a última foi em maio. A família comemora a decisão. "Espero que seja aprovada no Brasil inteiro", afirma a mãe, Katiele Fischer. "É uma nova postura, antes a maconha era tabu", diz o pai, Norberto Fischer. Substância melhora qualidade de vida de paciente com parkinson 11/10/2014 - Folha de S.Paulo Um novo estudo da USP de Ribeirão Preto demonstrou que o canabidiol (CBD) é eficaz para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar geral de pacientes com a doença de Parkinson. O trabalho foi publicado no "Journal of Psychopharmacology", da Associação Britânica de Psicofarmacologia. A pesquisa avaliou durante seis semanas 21 pessoas com diagnóstico de doença de Parkinson, sem demência ou problemas psiquiátricos. Elas foram divididas em três grupos: um recebeu placebo (óleo de milho), o outro recebeu 75 mg de CBD por dia e o terceiro 300 mg --ambos dissolvido em óleo de milho. O estudo foi duplo-cego, ou seja, nem os pacientes nem os profissionais que os acompanharam sabiam a que grupo cada pessoa pertencia. Esse é o primeiro estudo desse tipo usando o CBD em pacientes com Parkinson, de acordo com o médico José Alexandre Crippa, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, um dos coordenadores da pesquisa. O canabidiol foi fornecido em forma de pó, com 99,9% de pureza, por uma empresa alemã. "Não havia nenhum traço de THC [substância responsável pelos efeitos psicoativos da maconha]", afirma. No período em que usaram o CBD, todos os pacientes e seus familiares relataram melhoria de vários sintomas (motores e não motores), em diferentes escalas. "Isso foi significante para os que receberam 75 mg de CBD por dia e ainda maior para os que receberam 300 mg por dia." No grupo que usou placebo, não foi relatada melhoria dos sintomas. Durante o período do estudo, os doentes continuaram tomando os remédios convencionais para o Parkinson. Crippa explica que outra vantagem do composto foi a ausência de efeitos colaterais, como alucinações, náuseas, delírios e complicações motoras, observados nos medicamentos tradicionais. Também não foram relatadas variações de humor comuns em quem utiliza remédios para controle dos sintomas não motores da doença, como depressão e ansiedade. Grippa diz que ainda não é possível saber se, após o estudo e, consequentemente a interrupção do uso do CBD, os pacientes voltaram a apresentar os sintomas de antes. Segundo o médico, outros estudos já demonstraram os benefícios do CBD em pacientes com Parkinson, o que justificaria a autorização da sua prescrição pelos conselhos de medicina e pela Anvisa. Medicamento em falta 13/10/2014 - O Estado de S.Paulo Há dois dias procuro o medicamento para diabetes tipo 2, Forxiga, em praticamente todas as farmácias da Grande São Paulo, até mesmo nas que vendem pela internet. A resposta é a mesma: de que está em falta e há tempos não é entregue. Enviei reclamação à empresa e não recebi resposta. É impressionante como a Bristol Myers Squibb Brasil age sem o menor respeito ao consumidor. Miguel Jorge/SP ? Respostas A Bristol-Myers Squibb diz que a responsável pelo medicamento é a AstraZeneca. A AstraZeneca informa que os estoques de Forxiga foram consumidos rapidamente, por causa da procura, e que o abastecimento será normalizado no fim de outubro. ? Réplica do leitor Recebi resposta de que a Farmácia Soares tinha recebido o Forxiga. Um só lugar! A AstraZeneca diz que vai normalizar no fim de outubro, cinco meses para isso. Prefeitura reduz nº de farmácias de 29 para 9 11/10/2014 - Folha de S.Paulo A Prefeitura de São Carlos cortou de 29 para nove o número de farmácias municipais em função da falta de farmacêuticos. A administração informou que houve cobrança dos conselhos profissionais. A contratação de novos funcionários está impedida por um problema judicial com um concurso e não há data para a retomada dos serviços.
Pesquisa e desenvolvimento Pesquisa cria células produtoras de insulina contra diabetes tipo 1 13/10/2014 - Folha de S.Paulo Uma nova técnica criada por cientistas da Universidade Harvard obteve células humanas produtoras de insulina em quantidade suficiente para serem, um dia, usadas em transplantes para tratar diabetes tipo 1. Liderados por Doug Melton, cujos filhos têm a doença, os pesquisadores partiram de células-tronco embrionárias ou células-tronco de pluripotência induzida (que não requerem o uso de embriões) para obter células do pâncreas maduras e sensíveis à glicose, de modo a produzir a insulina necessária para o organismo. Trabalhos anteriores já tinham conseguido fazer as chamadas células beta em laboratório, mas não com essa sensibilidade nem nos números necessários para uso em transplante, afirma a equipe em artigo na revista "Cell". As células, no entanto, só foram testadas em roedores. Segundo Melton, experimentos em primatas não humanos estão em andamento. Ele espera realizar transplantes das células em humanos em poucos anos. "Muitas pessoas acharam que isso não ia funcionar. Se tivéssemos mostrado que isso não era possível, teria desistido dessa abordagem completamente. Agora estou animado", disse ele. O diabetes tipo 1 é uma doença autoimune, na qual o próprio organismo destrói as células beta do pâncreas, responsáveis por produzir a insulina, que regula os níveis de glicose em circulação. Os transplantes de células do pâncreas de doadores mortos já são usados em pequena escala, mas requerem o uso de remédios contra o ataque do sistema imune. No caso das células obtidas pela equipe de Harvard, isso também seria necessário, mas a ideia é inserir cerca de 150 milhões delas no corpo dos doentes envoltas em uma cápsula, protegidas do ataque do sistema imune. Bolhas contra o infarto 12/10/2014 - Folha de S.Paulo Uma técnica em teste no Incor (Instituto do Coração do HC de São Paulo) pode evitar a morte do músculo cardíaco, em caso de infarto, mais rápido que a cirurgia. Uma injeção de microbolhas contendo gás desobstrui vasos do coração em minutos. O cardiologista Wilson Mathias Junior, diretor do Serviço de Ecocardiograma do Incor e responsável pela pesquisa, explica que as bolhas rompem o coágulo de sangue que impede a chegada de oxigênio ao coração, evitando o dano ao músculo. Até agora, 16 pacientes participaram do estudo. Só metade deles recebeu o tratamento. O objetivo é verificar a diferença que as microbolhas fariam na terapia convencional (medicamentos e cateterismo). Espera-se que até 2016 dados de cem emergências sejam coletados. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) prevê R$ 1 milhão no total para o estudo. No infarto, diz Mathias, a ausência de oxigênio causa necrose no músculo cardíaco, que perde sua capacidade de contração. Quanto maior a extensão dessa necrose, maiores os danos (se mais da metade do coração necrosar, pode haver morte). As bolhas, assim, podem impedir essa necrose --e mais rapidamente que a cirurgia. Para isso, cerca de 2 bilhões de bolhas são injetadas na veia do paciente infartado. Elas "viajam" pelo corpo inteiro, mas só vão se romper na altura do peito, sob o efeito de um ultrassom aplicado na máxima intensidade. "Com o impacto da onda no peito, elas vibram até se romperem", explica Mathias. "O gás de dentro da bolha vira um microjato que pulveriza o trombo [coágulo]." As bolhas são formadas por "um gás denso" e uma camada de lipídios para que não estourem no fluxo do sangue e consigam chegar até a artéria do coração. Hoje, o paciente infartado precisa fazer cateterismo para desobstrução das artérias. No procedimento, um tubo é colocado em um vaso periférico (da coxa, do pescoço ou do braço) para acessar o coração. Isso "limpa" o caminho para o sangue circular. No Brasil, só 30% dos infartados têm acesso ao cateterismo, que requer infraestrutura. A vantagem das microbolhas, segundo Mathias, é a possibilidade de aplicação por um profissional não médico. Ele cita uma situação hipotética em que o infarto poderia ser confirmado por por um médico a distância e, com um ultrassom portátil, as bolhas seriam usadas para reduzir o número de mortes em áreas mais afastadas. O cardiologista Ricardo Pavanello, supervisor de cardiologia do HCor (Hospital do Coração), explica que já existe hoje uma aplicação prática para as microbolhas, em exames diagnósticos. "As bolhas ajudam a entender o fluxo de sangue no interior do coração", diz. "São seguras e sem efeitos colaterais." PERSPECTIVAS A pesquisa no Incor está sendo feita em parceria com a Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos. Lá, o cardiologista Thomas Porter testou as bolhas em laboratório. Ele disse à Folha que a maior vantagem da técnica é intervir mais rápido que a cirurgia. "A técnica poderá ser usada na ambulância ou até na casa do paciente". As bolhas, contudo, não destroem as placas de gordura que estão associadas ao infarto. "Elas quebram o coágulo, que é a causa", explica Porter. "Mas para o trombo impedir a passagem do sangue, muitas vezes, a artéria já está tomada por gordura." Os especialistas afirmam que cerca de 70% dos pacientes vão precisar de cirurgias para retirada de placas de gordura nas artérias para prevenir novos infartos. Já os casos menos graves, nos quais as placas são menos espessas, poderão continuar o tratamento só com remédios. O Tal do TDAH
A sigla se refere ao Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade, doença que praticamente virou moda com o excesso de diagnósticos positivos entre as crianças brasileiras. Pergunta: será que estamos vivendo uma epidemia de crianças com o problema ou é o sistema que não sabe lidar com o comportamento delas e devolve a questão aos pais como se não tivesse nada com isso? A questão é delicada, assim como o diagnóstico. Afinal, quais são os limites entre uma infância saudável e uma disfunção neurobiológica? Sabe aquela criança que tem dificuldade de prestar atenção na aula, passa muito tempo sonhando acordada e se distrai facilmente? Poderia ser qualquer uma, não é mesmo? Porque isso tudo faz parte da infância e a gente está acostumada a lidar com os comportamentos sem se preocupar se eles são saudáveis ou não. Criança é assim. Aliás, a infância é assim: distraída, descompromissada, feliz, sonhadora, imaginária, fugaz e dispersa. Não fossem essas características, ela seria chata, monótona e nunca sairia do trilho. Ou seja, quando a sociedade pede que as pessoas sigam um padrão e executem funções com eficiência e rapidez, nós enfrentamos um problema sério dentro das escolas brasileiras que é o diagnóstico disparado de crianças com TDAH. Cabe aqui uma questão a se pensar: estamos nós, sociedade, empurrando para debaixo do tapete um sistema educacional antigo que não capacita profissionais para lidar com a criança da geração digital que tem o foco dividido e, portanto, uma menor concentração num único assunto? Ou estamos jogando na medicina a causa e a cura das famílias ausentes que suprem a falta disso e daquilo com consumo e deixam de dar atenção e carinho a seus filhos? Dois pontos extremos que geram comportamentos fora da caixinha com os quais não sabemos lidar e diagnosticamos como TDAH. Depois medicamos para deixar essas crianças quietas, mudas e domáveis. Elas passam a fazer aquilo que queremos, do jeito que nós achamos que deveria ser. Quase manipulado. É claro que há um contraponto e que existe, sim, a doença. O questionamento não é esse. É em cima do alarmante número de diagnósticos que temos no Brasil e a forma com que estamos lidando com ele. Esse é o ponto. E entender a doença, as causas, os sintomas e como lidar com o problema é o primeiro passo para a compreensão. Para muitas famílias, essa é a hora de procurar um especialista. É ele que vai avaliar se os comportamentos do seu filho podem ser sintomas do TDAH ou não. Mas muita calma nessa hora! O diagnóstico não é nada simples e deve ser feito com todo o cuidado. O TDAH é uma disfunção neurobiológica de causas genéticas que leva a sintomas como desatenção, inquietude, hiperatividade e impulsividade. O transtorno reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) se manifesta por volta dos 6 anos de idade e, de acordo com a Anvisa, é um dos problemas neurológicos de comportamento mais comuns da infância, atingindo de 8% a 12% de crianças no mundo. O seu diagnóstico é superimportante e deve ser feito por um psiquiatra, mas, para chegar até a consulta, é preciso que os pais fiquem atentos ao comportamento dos filhos. "Normalmente, os pais começam a notar o problema durante a idade escolar, pois é nesse momento que a criança vai ter a chamada disfunção de performance. Mas há um erro grave em achar que o transtorno é relativo apenas aos estudos. E preciso se preocupar com a vida como um todo, inclusive com as relações sociais e familiares", explica o presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), dr. Antônio Geraldo da Silva, psiquiatra e pai de Ana Lui/.a. Ele aborda ainda a questão do preconceito em relação ao TDAH. "Os pacientes que têm o transtorno sofrem porque muita gente ainda acha que isso não existe, que é uma doença inventada por preguiçosos, enquanto, na verdade, eles realmente precisam de tratamento." No tête-à-tête Ir ao médico, agendar um exame, pegar os resultados e pronto - basta levar de volta ao consultório e o diagnóstico será certeiro. Se para tantos outros casos isso é rotina, para o TDAH não funciona. Isso porque nenhum exame laboratorial é capaz de prever esse tipo cie problema. É tudo na base da conversa. "Você senta com o paciente, escuta a queixa e vê se ele se encaixa nos sintomas. É tudo baseado na anamnese, nome que se dá à entrevista feita pelo médico", explica o neuropsiquiatria dr. Paulo Breinis, pai de Jéssica, Giovanna e Dave. Talvez por essa falta de um exame mais concreto, diagnósticos equivocados acontecem. "O que leva ao erro é a consulta malfeita e a pressa na conversa. Existem critérios estabelecidos pela Associação Americana de Psiquiatria para avaliar se o paciente tem TDAH e é preciso ser rígido quanto a eles, mas, infelizmente, nem todos os médicos são", diz o dr. Paulo, que cita um caso para exemplificar um diagnóstico errado: "Uma criança que se comportava normalmente e que mudou, ficando mais inquieta ou desatenta após o divórcio dos pais, provavelmente não tem o transtorno e passa apenas por uma fase que precisa ser isolada no diagnóstico". A drogo da obediência Uma vez diagnosticada com TDAH, o tratamento da criança provavelmente vai precisar de um remédio sobre o qual você já deve ter ouvido falar: a Ritalina. O medicamento feito à base de metilfenidato é um psicoestimulante que promove um aumento da atenção e do controle de impulsos. Uma tentação para pais de crianças mais levadas, não? Aí está o problema. A Ritalina está tão na moda que não é difícil encontrar pais que vão de médico em médico procurando um psiquiatra que finalmente diagnostique seu filho e receite o remédio para mantê-lo calmo. Isso é imprudente e, muitas vezes, basta dar uma atenção especial ao contexto familiar para entender o comportamento da criança. De acordo com a pesquisa feita pela psicóloga Denise Barros, filha de Imaculada Lúcia e José Maria, em sua tese de doutorado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), houve um aumento de 775% no consumo cia droga entre os anos de 2003 e 2012, no Brasil. Porém, é importante destacar que esses números não são relativos apenas a crianças (já que adultos têm TDAH e precisam ser tratados), mas também a pessoas que consomem o remédio de forma indevida, como é o caso de vestibulandos e concurseiros. "Toda a minha pesquisa foi feita com adultos e, mesmo que consumam Ritalina, não querem falar sobre o assunto. A verdade é que não tem nenhum estudo no Brasil sobre o seu uso para aprimoramento cognitivo, mas ele é muito comum", conta Denise, que explica que esses estudantes tomam Ritalina para conseguir se concentrar mais nos estudos. Mas é bom lembrar que a sua venda é controlada por receita especial. "Esses usuários contam que tiveram muita dificuldade para conseguir a receita. Então, a gente não pode generalizar dizendo que todos os profissionais medicam em excesso", cliz a psicóloga. É preciso ter cuidado Apesar de todos os critérios considerados para o diagnóstico, erros acontecem. Seja pela conversa apressada ou pela superficialidade da consulta, há psiquiatras que prescrevem o medicamento baseados apenas em uma entrevista rápida. "A avaliação acaba sendo muito subjetiva. O ideal é que se leve em conta todo o contexto em que a criança vive, escutando os pais e a escola", afirma o psiquiatra de crianças e adolescentes e pai do Arthur, dr. Rossano Lima. "Antes de imaginar que a criança tem o transtorno, é preciso investigar se o comportamento dela tem alguma relação com o ambiente em que vive, com o método pedagógico do colégio ou com alguma situação familiar em que está inserida. São comportamentos antes de serem sintomas. O problema é que esse raciocínio se inverteu", explica o médico. Por fim, nunca é demais lembrar que só o remédio não resolve o problema. "O medicamento nunca dá conta de todas as questões e, muitas vezes, os pais ficam na expectativa de que ele vai resolver tudo. Além disso, quando se suspende o uso do remédio é provável que a criança volte à estaca zero", diz dr. Rossano. Portanto, é essencial que o tratamento de TDAH vá além dos balcões de farmácia e abranja outras áreas, como a psicoterapia, a psicologia, a fonoaudiologia e outras. A atenção dos pais também é imprescindível, claro, sempre com muito carinho e amor. QUANDO SE PREOCUPAR O limite entre a normalidade e a patologia é muito estreito, o que dá espaço a diversas dúvidas. Então, como saber se está na hora de procurar um médico? E difícil, mesmo, mas tem algumas referências que podem ajudar: • é preciso que o problema seja persistente; • o comportamento deve aparecer em diversos ambientes e situações; • o desempenho escolar da criança deve estar aquém do seu potencial; • o problema deve estar interferindo na vida dela de forma prejudicial; • é preciso descartar problemas de fundo emocional em casa ou pedagógico na escola.
11/10/2014 - Folha de S.Paulo Está previsto para o início de 2015 um levantamento do Ministério da Saúde para avaliar a prevalência de HIV em homens que fazem sexo com homens em 12 capitais. O levantamento será feito com 1.300 pessoas e englobará, além de homens gays, travestis, transexuais e mulheres profissionais do sexo. Em prostitutas, a chance de infecção é três vezes maior que a média da população. Em homens que fazem sexo com homens, a taxa é 19 vezes superior à média. "Já sabemos que a Aids se concentra nessas populações, mas é preciso medir o que tem funcionado em termos de campanha e como a epidemia está distribuída regionalmente para que elas sejam dirigidas a áreas de maior prevalência", diz Jarbas Barbosa, secretário de Vigilância em Saúde do ministério. A pesquisa será feita em Belém, Manaus, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, Brasília e Campo Grande. O governo mede a prevalência do HIV na população anualmente a partir de dados coletados no exame pré-natal. O índice atual é de 0,4%. Já o estudo de prevalência em populações vulneráveis ao vírus teve a sua primeira edição há cinco anos. Nela, 48,8% dos entrevistados relataram ter feito o teste no ano anterior e 6,6% eram positivos. Além da prevalência do HIV, serão coletados dados de sífilis e hepatites B e C. Também serão analisados o perfil socioeconômico e comportamental, com atitudes e práticas sexuais. Uma das principais reivindicações de ativistas ligados à Aids são as campanhas dirigidas a essas populações. O Ministério da Saúde informa que parcerias estão sendo feitas com ONGs para fazer ações em locais frequentados por esses grupos. Outra iniciativa é a avaliação do uso de medicamentos para prevenção. Essa medida, já implementada para casais em que um tem HIV e o outro não, pode ser estendida para homens que fazem sexo com homens. Paciente melhora, e infecção por ebola é pouco provável 11/10/2014 - Folha de S.Paulo Souleymane Bah, 47, primeiro caso suspeito de ebola no Brasil, não apresentava febre ou outros sintomas típicos da doença e tinha quadro estável no final da tarde desta sexta (10), de acordo com o Ministério da Saúde. O resultado do primeiro exame laboratorial de Bah, que é guineano, deve ser divulgado neste sábado (11). Ao longo do dia, o ministro Arthur Chioro (Saúde) evitou descartar a infecção do paciente pelo ebola, apesar da ausência de sintomas, mas a Folha apurou que a área técnica da pasta trata o caso como "pouco provável". Se afastada a hipótese, o episódio servirá como um "test-drive" para averiguar o alerta dos serviços de saúde e cada etapa do protocolo de identificação e tratamento de um potencial caso. Durante o dia, foi deflagrada uma grande operação, que envolveu ao menos quatro Estados e o Distrito Federal. "No limite, tivemos um grande aprendizado em uma situação concreta", disse Chioro, para quem seria irresponsável e inadequado tratar o caso de outra forma. Bah desembarcou em Guarulhos (SP) no dia 19 de setembro, vindo da Guiné (um dos países mais afetados) em voo que fez escala no Marrocos, segundo registros oficiais colhidos pelo governo. Ele deu entrada numa UPA (unidade de pronto atendimento) de Cascavel (PR) na tarde de quinta (9), dizendo ter tido febre, dor de garganta e tosse. Apesar de o quadro febril não ter sido confirmado, ele foi classificado como o primeiro caso suspeito por ter vindo da Guiné recentemente e pelo relato de febre. Bah foi isolado na unidade e transferido em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira) para o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, no Rio, na madrugada de sexta. No hospital, foi colhido material para o exame. "Não podemos deixar na interpretação subjetiva do profissional. Foi isso que fez com que, nos Estados Unidos, um caso leve fosse mandado de volta para casa [e depois confirmado para ebola]", disse Jarbas Barbosa, secretário de vigilância em saúde. Ainda está pouco clara a rota do paciente, que se diz refugiado político, até chegar ao interior do Paraná. O governo diz que, porém, essa informação é de pouco interesse, já que o ebola só é transmitido após o início dos sintomas --o que, nesse caso, seria a partir de quarta (8). Técnicos do ministério enviados ao Paraná identificaram 64 pessoas que estiveram em contato com Bah desde o início dos sintomas. Dessas, 60 estavam dentro da UPA e quatro compartilhavam a moradia com o paciente. Três dos contatos da UPA são profissionais de saúde que tiveram acesso direto a Bah e terão suas temperaturas conferidas duas vezes ao dia; os demais terão a temperatura medida uma vez por dia. Até o momento, nenhum deles apresentou sintomas. O ministério classifica como "baixo" o risco de todos. O governo mantém as ações para a identificação do ebola no país. Barbosa argumenta que medidas como o controle de temperatura de viajantes na chegada têm pouco efeito prático, já que eventuais passageiros infectados podem chegar sem os sintomas. Para o secretário, é mais eficaz fortalecer alertas nos serviços de saúde. EUA têm primeiro caso de contágio por ebola 13/10/2014 - Valor Econômico Os EUA confirmaram ontem o primeiro caso de contágio pelo vírus ebola no país. Trata-se de uma integrante da equipe que atendeu a um caso importado de ebola no Texas Health Presbyterian Hospital, em Dallas. O diretor dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) do governo americano, Tom Frieden, disse que "claramente" houve um erro de procedimento da equipe do hospital e que haverá um investigação a respeito. A mulher contagiada está em isolamento. Sua identidade não foi divulgada. Outras 48 pessoas que tiveram contato com ela estão sendo avaliadas. Na semana passada, uma enfermeira também se contagiou na Espanha. Na foto, a casa da mulher, em Dallas, passa por uma limpeza para descontaminação. Primeiro teste de ebola em paciente com suspeita da doença dá negativo 12/10/2014 - Folha de S.Paulo Deu negativo para ebola o primeiro teste laboratorial feito no paciente Souleymane Bah, 47. Ele foi isolado após se apresentar com quadro febril em uma unidade de saúde em Cascavel (PR) na última quinta-feira (9). O paciente veio da Guiné, um dos países da África mais afetados pelo vírus. Uma nova amostra será coletada neste domingo (12) e, se for confirmado o resultado na segunda, a infecção será definitivamente descartada. "Com um primeiro resultado negativo, nossa expectativa é que esse também seja negativo", disse o ministro Arthur Chioro (Saúde). É o primeiro caso de suspeita da doença no país. O ministro afirmou que o Brasil "continua sendo um país com poucas chances de transmissão" do ebola. O guineano ficará em isolamento no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, no Rio, para onde foi transferido na sexta-feira, ao menos até este domingo. De acordo com o ministro, ele não apresenta sintomas, assim como as outras pessoas com quem ele teve contato na cidade paranaense. O ministro criticou reações racistas em redes sociais sobre o episódio. No Rio, segundo médicos que tratam o paciente, Bah passa o tempo vendo televisão e andando pelo quarto. Conversando em inglês e em francês, o africano não mostrou surpresa com o resultado negativo para o vírus. "Ele sempre teve a convicção de que não tinha ebola", disse o médico José Cerbino. Em Cascavel, o monitoramento de pessoas que podem ter contato direto ou indireto com o africano foi ampliado de 64 para 163 pessoas, segundo a prefeitura. Enfermeira é 1ª a contrair ebola nos EUA 13/10/2014 - Folha de S.Paulo Uma enfermeira em Dallas é a primeira pessoa a contrair o vírus ebola em solo americano. A funcionária do Hospital Presbiteriano do Texas cuidou do liberiano Thomas Duncan, que chegou da Libéria infectado e morreu na última quarta-feira (8). Ela se contaminou mesmo usando o equipamento de proteção contra o vírus porque, segundo autoridades, houve "erro de procedimento". Sem ter seu nome divulgado, está na área de isolamento do hospital, em condição estável. O caso indica que outros profissionais de saúde podem ter se contaminado ao tratar Duncan, que permaneceu 11 dias no hospital, afirmou Tom Frieden, diretor dos Centros de Controle de Doenças (CDC) dos EUA. "Em algum momento do tratamento do paciente zero [Duncan] houve quebra de protocolo, que resultou na infecção", disse Frieden. "Como essa profissional se expôs, é provável que outros também tenham se exposto." Uma investigação do CDC vai focar nas possíveis falhas ocorridas durante dois "procedimentos de alto risco" de contaminação realizados em Duncan --diálise e entubação. Mas também há a possibilidade de que a enfermeira tenha se contaminado ao tirar o macacão de proteção. As autoridades estão sendo alvo de críticas porque a enfermeira infectada não estava entre as 48 pessoas monitoradas por terem, possivelmente, entrado em contato com o liberiano. "Infelizmente, é possível que tenhamos mais casos de ebola nos próximos dias", disse Frieden. A epidemia de ebola já contaminou 8.300 pessoas e matou 4.033, principalmente na Libéria, Serra Leoa e Guiné, países do oeste africano. O vírus causa febre hemorrágica e só é transmitido por meio de sangue, vômito ou outros fluidos de doentes que apresentam sintomas. Essa é a segunda vez que uma pessoa se contamina fora da África --foi anunciado na semana passada que está infectada uma enfermeira na Espanha, que cuidou de dois padres doentes. Frieden afirmou que será intensificado o treinamento de funcionários de saúde e que haverá esforços para reduzir o número de pessoas tratando diretamente pacientes ebola. O hospital do Texas já havia enfrentado críticas por causa da maneira como lidou com o liberiano infectado. Com febre, Duncan procurou o hospital, dizendo que vinha da Libéria. Mesmo assim foi mandado de volta para casa apenas com analgésicos e antibióticos. O presidente Barack Obama determinou que o governo adote medidas adicionais para que o sistema de saúde siga o protocolo necessário para evitar o alastramento do ebola, informou um comunicado da Casa Branca neste domingo (12). Novo exame de paciente será divulgado hoje 13/10/2014 - Folha de S.Paulo O Ministério da Saúde divulga nesta segunda-feira (13) o resultado do segundo exame de sangue do paciente Souleymane Bah, 47, que está isolado sob suspeita de ebola. Se confirmada a avaliação negativa, a hipótese de contágio do vírus será definitivamente descartada. A amostra de sangue foi coletada no Rio pela manhã e levada para análise em laboratório especializado no Pará. O caso foi considerado suspeito após Bah se apresentar a uma UPA (unidade de pronto atendimento) em Cascavel (PR) dizendo ter tido febre, dor de garganta e tosse. Ele havia desembarcado no Brasil no dia 19 de setembro, vindo da Guiné --um dos países da África Ocidental mais afetados. No sábado, o ministro Arthur Chioro (Saúde) relatou que o quadro de saúde de Bah era estável, sem manifestação de nenhum sintoma. Se for confirmado o resultado negativo, ele sairá do isolamento. Epidemia de ebola já matou 4.033 pessoas, diz OMS 10/10/2014 - Portal Valor Econômico SÃO PAULO - O vírus do ebola já matou mais de 4.033 pessoas, sendo que 4.024 mortes ocorreram nos três países mais afetados pela epidemia na África Ocidental, Libéria, Serra Leoa e Guiné, segimdo informou nesta sexta-feira a Organização Mundial de Saúde (OMS). Segundo a OMS, até a quarta-feira (8) foram reportados 8.399 casos confirmados em sete países, dado que inclui Nigéria, Senegal, Estados Unidos (um morto) e Espanha. Mais da metade das mortes ocorreram na Libéria, que registrou 2.136 óbitos, enquanto Serra Leoa registrou 930 mortes e Guiné 778. De acordo com as Nações Unidas, do total de mortos, 233 são trabalhadores de saúde que atuavam na África Ocidental no combate à epidemia. Libéria Em meio à pior crise de ebola da história, os parlamentares liberianos recusaram nesta sexta-feira a conceder poderes adicionais para a presidente Ellen Jonhson Sirleaf enfrentar a situação. A presidente já decretou estado de emergência na Libéria, o que permite ao executivo impor quarentenas. Um parlamentar liberiano disse à BBC News que a concessão de poderes extras ao executivo poderia tornar a Libéria um país em um “Estado policial”. A epidemia do medo 13/10/2014 - Carta Capital A partir do sábado 11, passageiros provenientes de Serra Leoa, Libéria e Guiné passarão por uma inspeção extra no aeroporto JF Kennedy, em Nova York. Terão suas temperaturas medidas e responderão a um longo questionário. Quem estiver com febre ou revela r qualquer contato com cidadãos suspeitos de infecção pelo ebola ficará de quarentena. Os demais passageiros serão intimados a checar a temperatura do corpo diariamente e informar o Centro de Controle de Doenças Infecciosas do governo dos Estados Unidos em caso de alterações ou dúvidas. As medidas serão adotadas nos dias subsequentes nos aeroportos de Washington, New Jersey, Chicago e Atlanta, destinos de 94% dos passageiros dos três países, além de Nigéria e Senegal, onde a febre hemorrágica causada pelo vírus causou até agora ao menos 3.879 mortes em sua mais recente epidemia, segundo a Organização Mundial da Saúde. A decisão de aumentar a proteção nos aeroportos foi apressada após a morte, na quarta--feira 8, do liberiano Thomas Eric Duncan, de 42 anos. Dun-can desenvolveu os sintomas do ebola em Dallas, no Texas, e sua morte aumentou o pânico no país, estimulado pela histeria da mídia e pelos ataques da oposição a Barack Obama às vésperas das eleições legislativas, na qual os republicanos têm chances de ampla vitória, apontam pesquisas. Os erros cometidos pelas autoridades de saúde no caso de Duncan, cuja companheira vivia em um bairro de classe mé-dia-baixa de Dallas, os Five Points, agora estigmatizado pela doença, foram muitos. Ao ser levado para o hospital com febre alta, vômito, sangramento e dores no corpo, o paciente anunciou ter chegado recentemente da Libéria. Os médicos ignoraram a informação, lhe deram remédio e o mandaram para casa. Ele só voltaria ao hospital em estado mais grave, com a doença em estágio avançado. Descoberto em 1976 no Congo, o ebola era, para a população da maior economia do planeta, até recentemente, um vírus relacionado unicamente a áreas rurais e pobres do mundo subdesenvolvido. O fato de a atual epidemia ser a primeira a alcançar centros urbanos na África e de casos serem registrados em nações consideradas exemplares no combate a doenças infecciosas, entre elas a Espanha, serviram para aumentar a pressão da opinião pública a favor do anúncio de medidas de proteção mais concretas do governo federal e autoridades locais. Duncan entrou no país por Washington. "Como vimos em Dallas, não há margem para erros. Se não seguirmos os protocolos predeterminados, colocaremos nossas comunidades em risco. Essas medidas são apenas mais uma peça no quebra-cabeça que começa nos procedimentos que ajudamos a criar em vários aeroportos mundo afora", defendeu-se Oba-ma. Nos últimos dois meses, informa o governo, perto de 36 mil passageiros passaram pelo pente-fino da imigração antes de saírem da África em direção aos EUA. Destes, 77 apresentaram sintomas possivelmente ligados ao ebola e foram impedidos de viajar. Para sorte dos mesmos, nenhum deles, afirma o diretor-geral do CDC, Tom Frieden, portava o vírus. Especialistas na área de saúde concordam que as medidas anunciadas pelo CDC têm por objetivo principal acalmar uma população ignorante em relação à doença. Uma pesquisa da Universidade Harvard aponta: 70% dos norte--americanos acreditam haver uma vacina eficiente contra o vírus. O sistema pro- vavelmente não teria assegurado a vida de Duncan, cujos sintomas só apareceram dias depois de sua entrada no país, mas funciona, quiçá, como possível antídoto à direita mais radical, apressada em culpar a administração democrata pelo desfecho da história. Senadores notórios por sua virulência, incluído o texano Ted Cruz, alinhado ao Tea Party, pediram publicamente a proibição do ingresso de todo e qualquer passageiro do Oeste da Áfri-caatéaOMSindicarofimda epidemia. A propostafoi repudiada pela Casa Branca. Curiosamente, teria sido um cidadão libe-riano de origem americana, Patrick Sawyer, o responsável por espalhar o vírus na Nigéria, o mais populoso país africano. A histeria não se restringiu aos meios políticos mais radicais. A revista B/oom-berg Businessweek trouxe uma reportagem de capa com o título "O ebola está a caminho", as letras garrafais manchadas de sangue em uma pichação de muro. E quando se soube que um cidadão suspeito de ter contraído o vírus havia sido levado parao Hospital Mount Sinai, o tabloide Daily News não se conteve: "O ebola traz pânico à cidade", com foto de um médico vestido como se estivesse em uma missão lunar dos anos 1960. A notícia de que o paciente não tinha a doença mereceu, dias depois, um pequeno registro no fim de uma página. Até a quinta-feira 9, pacientes foram tratados nos EUA e na Europa Ocidental por conta da febre hemorrágica causada pelo ebola, seis nos EUA. Destes, três morreram, um em Dallas e dois em Madri. Outros seis se recuperaram. Não há vacina contra o vírus, cuja forma de transmissão se dá pela troca de fluidos e secreções. Drogas experimentais estão em teste nos EUA e o isolamento dos pacientes e a prevenção são as medidas imediatas em casos confirmados. Em Nova York, quem liga com febre para o icônico número de emergência 911 ouve, do outro lado da linha, profissionais preocupados em saber se o enfermo esteve recentemente na África e se teve contato com algum suspeito de contaminação. "O procedimento não levanta uma cortina de ferro de proteção. No máximo, reduz a ansiedade. Mas isso é alguma coisa, pois no momento a epidemia que se detecta dos Estados Unidos não é a do ebola, e sim a do medo", sintetizou William Schaffner, catedrático de mediei na preventiva da Universidade Vander-bilt e ex-presidente da Fundação Norte--Americana de Doenças Infecciosas. • Bill Gates entra na guerra contra o ebola 13/10/2014 - IstoÉ Dinheiro Em 1985, Hollywood usou a primeira epidemia de ebola, uma doença emergente transmitida por um vírus, até então desconhecido, como mote para uma produção no melhor estilo cinema catástrofe. No filme Epidemia, o ator Dustin Hoffman encarna um cientista encarregado de lidar com a doença que atinge uma pequena cidade da Califórnia. Para convencer o governo a dar carta branca à equipe de campo, um militar vivido por Morgan Freeman faz um relato alarmante, segundo o qual, em apenas 48 horas, o vírus contaminaria todo o país. No final, o vírus acaba sendo apropriado como uma espécie de “arma militar”. Felizmente, a vida não imita a arte. Mas é certo que o ressurgimento da doença, 38 anos após a sua descoberta, em 1976, na África, indica que alguma coisa deu errado. E a responsabilidade recai sobre os governos locais, os organismos internacionais de saúde pública e até mesmo os laboratórios farmacêuticos. Afinal, graças ao poder deletério do vírus, que causa febre hemorrágica e pode levar à morte em poucas semanas, e à sua capacidade explosiva de propagação, seria uma questão de tempo para que o ebola chegasse aos Estados Unidos, à Europa e, possivelmente, ao Brasil. Na sexta-feira 10, o africano Souleymane Bah, 47 anos, foi transportado de Cascavel (PR) para o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, no Rio de Janeiro, sob suspeita de ter contraído o vírus em viagem à Guiné, um dos países mais afetados pela epidemia. Diante disso, surge a seguinte questão: por que, então, nada ou muito pouco foi feito até agora em relação à produção de um antídoto capaz de brecar o ebola? “Os laboratórios privados se movem pela lógica do lucro”, afirma Francisco Lira, analista da consultoria Lafis, de São Paulo. “Por isso, só investem em projetos de pesquisa com chances efetivas de gerar retorno financeiro.” De fato. Na verdadeira guerra na qual se transformou o combate à doença na Guiné e na Libéria, quem chegou primeiro foram as ONGs. Entidades como Médicos Sem Fronteiras, organizações ligadas à igreja e até empresas privadas, como a Firestone (leia o texto ao final da reportagem), assumiram o papel do Estado. Pelo lado da pesquisa, uma das personalidades que estão liderando os esforços para a descoberta da cura é o bilionário Bill Gates, fundador da Microsoft e um dos homens mais ricos do planeta. Em 2000, ele surpreendeu o mundo ao doar metade de sua fortuna à Fundação Bill & Melinda Gates, que hoje administra um patrimônio estimado em US$ 40 bilhões. Entre seus projetos constam o financiamento de medicamentos e vacinas para doenças que atingem majoritariamente os países pobres. Foram quase US$ 1 bilhão desembolsados, no ano passado. Nesse bolo estão contabilizadas ações de prevenção e controle, nas quais a fundação já aplicou US$ 60 milhões, apenas no período agosto-outubro. A maior fatia desse dinheiro envolveu a viabilização da produção em série de uma droga experimental. “Fizemos uma modesta contribuição para acelerar a produção do ZMapp”, disse em comunicado enviado à DINHEIRO Christo-pher Williams, porta-voz da fundação. O medicamento é visto como o primeiro capaz de curar pacientes infectados com o vírus. “Além disso, estamos investindo na descoberta de outras drogas para a doença.” Pesquisas desse tipo costumam levar um bom tempo para gerar resultados satisfatórios. Daí a importância de os laboratórios de biotecnologia contarem com recursos de instituições de porte que lhes permitam acelerar o processo. “A Fundação Gates está cumprindo seu papel como entidade filantrópica”, afirma o consultor Lira, da Lafis. Isso é especialmente importante quando se trata de uma enfermidade com o poder devastador do ebola. Além da perda de vidas, o vírus ajuda a desorganizar a economia dos países afetados. A Organização Mundial da Saúde já estima a morte de 3,5 mil pessoas na Libéria, Guiné, Serra Leoa, Nigéria e República Democrática do Congo. Segundo o Banco Mundial, se nada for feito os países infectados sofrerão perdas de até US$ 32 bilhões, até o fim de 2015. A luta contra o ebola entrou no radar de Bill Gates e de sua mulher, Melinda, muito antes da nova epidemia. Incomodado com o descaso dos grandes laboratórios em relação às doenças tropicais, como a malária, cuja incidência é maior em países pobres, o fundador da Microsoft resolveu agir. Também fez o mesmo em relação à Aids, subsidiando a compra de medicamentos ou bancando pesquisas. Seu trabalho chamou a atenção do mago das finanças, seu compatriota Warren Buffett. “Bill e Melinda vêm encorajando outros milionários a aderirem às causas sociais e à filantropia”, diz Williams, porta-voz da fundação Gates. “Mas eles nunca falam de uma causa específica.” ------ A receita da Firestone A forma como os governos lidam com grandes catástrofes diz muito sobre sua natureza. No caso da crise do ebola, não é diferente. Enquanto chefes de Estado dos países infectados se mostraram lentos, ONGs e empresas vêm saindo na frente. Uma delas é a fabricante de pneus Firestone, do grupo japonês Bridgestone, que usou seus mecanismos de gestão para transformar sua base produtiva na empobrecida Libéria, na África, em um “oásis” em meio à devastação causada pela epidemia. Eles aprenderam a lidar com o problema na prática, de acordo com relato feito ao The Wall Street Journal pelo gestor de uma das fazendas onde a companhia cultiva vastos seringais. “Foi como pilotar um avião lendo o manual”, afirmou o presidente da Firestone Natural Rubber Company, Ed Garcia. O primeiro caso surgiu em março. Desde então, foram reforçadas as medidas de precaução, especialmente as sanitárias. Os infectados foram tratados em enfermarias instaladas dentro de contêineres, isolados com revestimento de plástico. Na última semana nenhuma ocorrência de infecção pelo vírus havia sido constatada nos 8,5 mil funcionários e seus familiares. |