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Ritalina: A nova droga dos concurseiros
01/09/2014 - Jornal Pampulha

Depois de ganhar a fama como a droga da obediência" por ser muito receitada para crianças com sintomas de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o metilfenidato - mais conhecido pelo nome comerciai Ritalina vem agora sendo usado de forma indiscriminada e, na maioria das vezes, sem orientação médica por estudantes e concurseiros.

Pelas redes sociais não é difícil encontrar alunos relatando o uso da pílula da inteligência" ou a "droga dos concurseiros" para "turbinar* os estudos. Um exemplo é a estudante de obstetrícia Pollyana Garcia, 18, que usou o remédio "para se concentrar melhor". "Eu usei uma vez porque estava muito nervosa com a prova e passei quase a noite inteira estudando. Minha mãe falou para eu tomar, mas que seria a única vez porque ela também tinha medo de causar dependência. Eu consegui fazer a prova sem ficar muito nervosa".

Essa prática perigosamente comum atualmente de fazer uso do medicamento como aprimoramento cognitivo, ou seja, com a finalidade de melhorar o desempenho nos estudos e no trabalho, e um dos motivos para o crescimento de 775% no consumo da droga, entre 2003 (94 kg) e 2012 (875 kg), segundo a psicóloga Denise Barros.

O número faz parte de sua tese de doutorado pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), com base cm dados da Organização das Nações Unidas (ONU).

"Ainda não existem muitas pesquisas clínicas sobre os efeitos e consequências desse uso por pessoas saudáveis, mas o que já se tem notícia é que a Ritalina é uma medicação com grande risco de abuso e classificada pela ONU entre os grupos de maior perigo para a saúde", alerta.

A estudante de farmácia, Daniele Santos, 25, também conta que usou a Ritalina por dois anos sem indicação médica. "O meu objetivo era ter mais concentração, mas sentia muitos efeitos colaterais, como irritabilidade, corpo cansado e insônia, comenta.

CONSUMO

De 2010 para 2013, o número de caixas de Ritalina vendidas no Brasil passou de 2,1 milhões para 2,6 milhões, de acordo com os dados da Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Para tentar entender o uso do medicamento, Denise entrevistou 11 homens e cinco mulheres, entre 23 e 48 anos, c percebeu que a maioria dos entrevistados que usavam a droga tiveram a indicação primeiramente de um amigo. Por isso, ela acredita ser difícil avaliar até onde os resultados significavam um efeito do próprio remédio ou como se fosse um placebo, uma vez que os usuários já sabiam do funcionamento da Ritalina.

Além disso, as entrevistas demonstraram que, quando a medicação foi receitada por médicos, as indicações eram para cansaço, falta de concentração e distração nos estudos. Hoje em dia, as pessoa são muito mais requisitadas para ter uma maior disciplina da atenção e isso torna qualquer falha mais prejudicial, fazendo com que elas se pareçam mais desatentas. O papel do médico e dos remédios na vida das pessoas mudou", afirma.

Para Denise, como o medicamento favorecia que os usuários se concentrassem em atividades chatas, eles acabavam não avaliando se era isso mesmo o que eles queriam da própria vida ou não. O remédio aumentava o ritmo sem que eles fizessem uma avaliação", afirma.



Novas pílulas de esperança
30/08/2014 - Zero Hora


Diariamente, há mais de cinco anos, Mara Aparecida Perez Silva, 52 anos, de Santa Maria, aplica injeções para se tratar de esclerose múltipla, doença degenerativa que afeta o sistema nervoso central. Hoje, dia nacional de conscientização sobre a doença, ela e outros pacientes celebram a notícia de que, a partir de janeiro de 2015, passa a ser distribuído pelo Sistema Único de Saúde (SUS) o fingolimode, tratamento oral que substitui as aplicações injetáveis.

Mara descobriu o problema em 2009. No único surto que teve, caiu na rua Após internação e tratamento, está ansiosa pela distribuição da nova droga.

- Nunca vamos aceitar (a doença), mas temos de conviver com ela a vida toda. Então, temos de reagir - diz Mara.

Segundo o neurologista especialista em esclerose múltipla Juarez Lopes, o novo remédio, além de evitar as injeções, é mais eficaz que os demais cm pelo menos dois aspectos: diminui o número de surtos e protege o cérebro de atrofia. Liberada pela Anvisa há quatro anos, a medicação só era conseguida de graça por via judicial. Em julho deste ano, uma portaria publicada no Diário Oficial da União liberou a distribuição pelo SUS.

A notícia da nova medicação traz alívio em Santa Maria. Um estudo feito por Lopes, com a ajuda de outros três pesquisadores, apontou que o município é o que tem a maior proporção da doença no país. São 27 pacientes para cada cem mil habitantes, quando a média nacional é de 15 a 18. A explicação estaria na origem européia de boa parte da população - a Europa registra números altíssimos de casos - e no clima frio.

- A dúvida é se nas outras cidades há um número menor de casos ou de diagnósticos - afirma o médico.

Ajuda por blog virou romance

Nem só de tratamento químico se alivia o drama da doença. Bruna Rocha Silveira recebeu o diagnóstico de esclerose múltipla aos 14 anos e achou que teria de largar a escola Apavorada com as informações que obteve em um site de buscas, ficou crente de que morreria em cinco ou 10 anos. Hoje, aos 28, ela está produzindo sua tese de doutorado em Educação pela UFRGS:

- Ninguém está preparado para ser diagnosticado com nada, nem com uma gripe. Mas tem de entender que a vida continua

A passo-fundense criou o blog Esclerose Múltipla e Eu em 2009 para divulgar informações sobre a enfermidade e aproximar as vítimas da doença

Foi por meio do site que conheceu, em 2012, o paulista Jaime Fernando dos Santos Jr., o Jota, 31 anos. Duas semanas depois de diagnosticado com a doença, Jota contatou Bruna no blog, questionando se é possível conciliar a doença com viagens acadêmicas - estava ingressando em um mestrado cm História. Além da esclerose múltipla o casal descobriu cm comum a determinação pelos estudos, o gosto por música c literatura. Alguns meses depois, ofereceu estadia a Bruna, que participaria de um seminário em São Paulo. Hoje estão noivos.

Na última quarta-feira, Bruna buscou Jota no aeroporto, de mala c a cuia, que ela lhe deu. "A esclerose foi o que nos apresentou, mas são nossas semelhanças e sonhos que nos unem", frisaram em um post, ao anunciar o noivado.

GUIA PARA AUXILIAR OUTROS PACIENTES


O casal elabora, por meio da Amigos Múltiplos pela Esclerose (AME), de Guarulhos (SP), o Guia do Viajante Esclerosado, que deve ser lançado em dezembro em PDF e blog. Pretendem estimular as pessoas que têm a doença a conhecer lugares novos e dar dicas para administrar a diversão entro dos cuidados.

Bruna e Jota entendem a seriedade da doença - no momento, a doutoranda sente parte do corpo dormente e o noivo está com os movimentos limitados -, mas não dispensam o bom humor. Bruna brinca que vai escrever o Kama Sutra dos esclerosados. Jota ri ao se descrever consolando um professor, ao noticiar que tinha a doença.

- Esse aqui é o banquinho que vai ficar do lado da pia. Ninguém vai ter desculpa para não lavar a louça por causa de fadiga - disparou Bruna enquanto apresentava a ZH o apartamento que o casal comprou e está reformando na Capital.

Depois de alguns surtos e várias quedas, Bruna descobriu que a doença pode ser ainda mais teimosa que ela. Mas sabe que se o portador respeitar os horários de remédio, de descanso, de fisioterapia, de consultas, pode levar uma vida normal. Ou, no caso deles, mais feliz do que nunca.

 

Pesquisa e desenvolvimento 


Crianças hipertensas
01/09/2014 - Carta Capital

A prevalência de pressão alta em crianças e adolescentes cresce na esteira da epidemia de obesidade infantil, no mundo todo. Nesses grupos etários, os critérios para o diagnóstico costumam basear-se em tabelas obtidas a partir dos níveis de pressão apresentados por milhares de crianças e adolescentes.

Consideramos hipertensão quando uma criança apresenta pressão máxima (sistólica) ou mínima (diastólica) acima de 95% das outras do mesmo sexo, idade e altura. Quando esses níveis caem na faixa dos 90% a 95% mais altos, classificamos como pré-hipertensão.

Para o diagnóstico, a pressão deve ser confirmada pela média de três medições consecutivas, com aparelho adequado ao tamanho da criança e em obediência à melhor técnica (criança em repouso, pernas descruzadas, sentada, com o manômetro insuflado no braço posicionado à altura do coração etc.).

Esses cuidados são exigidos para evitar exames desnecessários e condutas equivocadas. Um estudo publicado em 2012 no Journal of Clinical Hipertension, com crianças encaminhadas para clínicas especializadas, revelou que em 30% a 40% delas a elevação da pressão era provocada pela chamada "síndrome
do avental branco", segundo a qual a subida acontece por desequilíbrio autonômico causado pela intimidação que a figura do médico traz.

Um inquérito populacional publicado em 2013 na revista Pediatrics, comparou os níveis de pressão arterial em crianças e adolescentes de diversos países. A prevalência de hipertensão foi de 17,3% no Brasil, 12,3% a 15,1% na Grécia e 13,8% nos Estados Unidos, por exemplo.

E importante identificar precocemente esses casos, para evitar complicações futuras. Estudos mostram que 40% dos adolescentes recém-diagnosticados como hipertensos já apresentam hipertrofia do ventrículo esquerdo, alteração associada ao desenvolvimento de insuficiência cardíaca.

Aumento da mortalidade, insuficiência cardíaca prematura, endurecimento das artérias e doença coronariana em adultos com menos de 55 anos de idade têm sido atribuídos a níveis elevados de pressão desde a infância e adolescência.

O tratamento da pressão alta dependerá das causas. Se não existirem razões orgânicas que a justifiquem, o primeiro passo é iniciar programas de exercícios aeróbicos, dietas balanceadas (mais frutas e verduras, menos gorduras e carboidratos) e redução de sal. Os resultados são claros: perdeu peso, a pressão cai, ganhou, a pressão sobe.

Quando a hipertensão persiste, é indicado o tratamento farmacológico com as mesmas drogas empregadas no caso dos adultos. Como não existe consenso em relação à melhor terapia inicial, agentes de diversas classes são considerados opções razoáveis.

Manter crianças e adolescentes em dietas restritivas e cobrar deles a disciplina necessária para aderir à prescrição de medicamentos de uso diário não é tarefa corriqueira.




Os eletrossensíveis
01/09/2014 - IstoÉ

 

Você pode imaginar professores de tecnologia da informação, neurologistas, sociólogos e crianças deixando suas casas para viver em cavernas ou em vilas e abrigos projetados para bloquear ondas eletromagnéticas? Pois eles existem e são cada vez mais numerosos. São chamados de eletro-hipersensíveis ou EHS, sigla em inglês para designá-los. Se expostos a campos de radiação eletromagnética, apresentam sintomas como dores de cabeça e no corpo, fadiga, estresse, distúrbios do sono. Seja qual for a sua causa, os sintomas de EHS são reais e, por vezes, incapacitantes.

No mundo, portadores de EHS se mobilizam para que a condição seja declarada uma doença. Na semana passada, muitos se reuniram em uma zona criada para eles na região de Saint-Julien-En-Beuchene, nos Alpes franceses. É uma área livre de antenas de telefonia e distante de linhas de transmissão de energia elétrica. Até aparelhos eletrodomésticos são evitados e as pessoas deixam o celular na entrada. A francesa Anne Cautain, 55 anos, por exemplo, hoje mora em um trailer revestido de alumínio em uma dessas áreas.

 

Sob um toldo protetor, membros dessa comunidade e líderes como Phillipe Triauadou, da ONG Une Terre pour Les EHS, fizeram um balanço das conquistas e desafios. Há 15 dias, a Comissão de Deficientes de Essonne, na França, concedeu, pela primeira vez, ajuda financeira permanente a um indivíduo com diagnóstico de eletro-hipersensibilidade. Antes, outros haviam obtido auxílio para comprar equipamentos de proteção, como medidores de ondas eletromagnéticas. Na prática, a vulnerabilidade de cada indivíduo com EHS é variável. Vai desde quem é gravemente afetado pela exposição, como Triauadou, que precisou se mudar para uma caverna, até uma alergia por causa da proximidade com computadores ou linhas de energia.

A medicina considera o tema controverso. Há quem julgue o conjunto de dados suficiente para caracterizar a doença, enquanto outros especialistas acreditam que os sintomas se misturam aos de outras patologias, como a intoxicação por metais pesados. Entre os estudos em andamento, um deles está sendo realizado pelas autoridades de saúde francesas e tem resultados previstos para 2015. Mas há países que já tomaram medidas com base nas evidências científicas disponíveis. Na Suécia, a hipersensibilidade elétrica é reconhecida como um comprometimento funcional. “Existem cerca de 250 mil suecos com essa deficiência”, disse à ISTOÉ o cientista Olle Johansson, do Instituto Karolinska, em Estocolmo. “Essas pessoas merecem respeito e tratamento. Jamais discriminação”, diz. Lá, a associação para hipersensíveis recebe subsídio governamental. Na Espanha, Alemanha e EUA o problema é classificado como deficiência. No Brasil, pesquisas são feitas na Universidade Federal de Minas Gerais.

 

Na América Latina, um caso grave é o do psiquiatra e neurologista colombiano Carlos Sosa. “Fui diagnosticado em 2006 e precisei mudar radicalmente de vida”, disse à ISTOÉ. Aos 47 anos, vive sozinho nos arredores de Medellín em uma casa na qual possui algo que chama de gaiola de Faraday, para se proteger das ondas eletromagnéticas. Sosa suporta cerca de 20 minutos de conversa pelo telefone ou computador até que apareçam sintomas como dores de cabeça e náusea. Em 2006, saiu de sua casa porque percebeu que a origem do mal-estar intenso que sentia havia três anos era a proximidade com uma antena de micro-ondas/Internet e Wi-Fi (sem fios). “Precisei me mudar quando a cidade em que vivia foi inundada por cerca de quatro mil antenas”, contou.

O agravamento dos sintomas o levou a parar de trabalhar, lançando-o em uma vida de dificuldades financeiras. Ele não tem ajuda alguma. “Mas os estudos provarão que essas ondas são tão perigosas para a saúde como o tabaco e o amianto”, acredita. O cientista sueco Johansson diz que a ciência está mostrando que as ondas eletromagnéticas não são inócuas como muitos defendem. “Precisamos investigar em profundidade os efeitos desse novo fenômeno que se expande tão rapidamente pelo mundo por meio de dispositivos móveis.”

 


 

 

Bem no Alvo

01/09/2014 - Estado de Minas

 

O câncer não é mais visto como uma única doença. Técnicas cada vez mais modernas permitem identificar as alterações genéticas que estimulam o crescimento das células cancerígenas de cada tipo de tumor. Com isso, os tratamentos passam a ser direcionados a alvos específicos e os ganhos na oncologia se mostram expressivos. As novas opções terapêuticas levam esperança para os pacientes e indicam que a medicina personalizada, uma realidade em todo o mundo, pode ser mesmo promissora.

 

O tratamento do câncer começou a mudar a partir do Projeto Genoma Humano, concluído em 2003, que mapeou toda a sequência do DNA. Em seguida, surgiram análises moleculares precisas, que permitiram dividir a doença de acordo com a alteração genética relacionada a cada tumor, lá se sabe, por exemplo, que existem mais de 30 tipos de câncer de pulmão. "O câncer está sendo estratificado segundo alterações moleculares passíveis de ser tratadas por medicamentos específicos. É como se estivéssemos tratando doenças completamente diferentes, entre elas doenças raras, que atingem 1% dos pacientes", informa o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SROC). Evanius Wiermann.

 

Os avanços apontam para o que se chama de medicina personalizada, em que medicamentos são desenvolvidos para combater um determinado tipo de tumor. A terapia-alvo é uma das estratégias que revolucionaram o tratamento do câncer, por ser capaz de atingir partes específicas das células cancerígenas, oferecendo menos danos às células saudáveis e reduzindo efeitos colaterais. "Individualizar o tratamento não é nada mais que conhecer melhor a doença, descobrir o que está ocorrendo e usar a droga certa. Se sei que as células cancerígenas precisam de novos vasos sanguíneos para se desenvolver, vou inibir o processo", esclareceu o diretor do Grupo Latino-americano de Pesquisa em Oncologia (Lacog) e do Instituto do Câncer do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre. Carlos Barrios. "Poderei não curar, pois o câncer é inteligente e cria outros mecanismos, mas vou mudar o curso da doença."

 

Os primeiros a se beneficiar da terapia-alvo foram pacientes diagnosticados com leucemia mieloide crônica, que passaram a ser tratados com inibidores de tirosina quinase, remédios que conseguem destruir a proteína ligada ao crescimento das células cancerígenas. A doença é controlada de tal maneira que os pacientes vivem décadas com qualidade de vida e virtualmente curados. As novas drogas também aumentaram a sobrevida de pacientes com câncer de pulmão originado por uma mutação genética específica. Eles chegam a viver três vezes mais. "Estamos caminhando para descobrir outras moléculas que podem ser alvo de bloqueio. Não quer dizer que vamos ficar sem o tratamento convencional com quimioterapia, mas significa que, às vezes, vamos associá-lo com outros medicamentos", pontua o diretor de relações institucionais do Cetus Hospital Dia, Charles Pádua.

 

RESULTADOS Duas pacientes do centro de oncologia participam de um estudo internacional que analisa a eficácia de um medicamento oral, testado em estágio avançado de câncer de mama. O tratamento tenta bloquear um mecanismo intracelular intimamente relacionado com a resistência do tumor. "O medicamento está sendo associado à droga convencional para reverter o mecanismo de resistência que é adquirido ao longo do tratamento das mulheres. Em determinado momento, temos que mudar a estratégia, porque o câncer fica resistente à droga", explica Pádua. o único investigador de Belo Horizonte. O oncologista já utiliza outros medicamentos que interferem em diferentes alterações genéticas ligadas ao câncer de mama.

 

Outra maneira de personalizar o tratamento do câncer é utilizar a imunoterapia, cujas drogas estimulam o sistema imunológico, em vez de atuar diretamente no tumor. "Por algum motivo que não conhecemos, os mecanismos naturais de defesa acabam falhando no combate à doença. A ideia é fazer com que o corpo reconheça como estranhas as células tumorais e possa combatê-las", informa o oncologista clínico do A.C. Camargo Câncer Center, Fábio Nasser Santos. Estudos internacionais mostram resultados promissores em pacientes com melanoma, câncer de pele mais agressivo ligado a uma mutação específica. Até então, não havia nenhuma opção terapêutica para eles. Ainda não se pode falar em cura no contexto da doença avançada, mas Santos diz que o novo tratamento consegue controlar o câncer por mais tempo. A sobrevida dos pacientes com melanoma, que antes era, em média, de nove a 10 meses, pulou para 20 meses com a imunoterapia, ganho significativo para a oncologia.

 

Novas mutações genéticas

 

É bem provável que o caminho para a cura do câncer passe pela medicina personalizada. Por isso, o oncologista clínico do A.C. Camargo Câncer Center, Fábio Nasser Santos, lembra que falta aprofundar os estudos de novos medicamentos, pois a solução para o problema não está em simplesmente desenvolver drogas que atuam em determinado mecanismo celular. O desafio, na opinião do especialista, é entender por que certos tratamentos funcionam por um determinado tempo e descobrir uma maneira de combater a resistência do câncer, já que células cancerígenas mais resistentes acabam sobrevivendo e voltam a se multiplicar. Assim, será possível oferecer aos pacientes medicamentos que agem em novas mutações genéticas, permitindo que eles respondam melhor ao tratamento e vivam por mais tempo.

 

Curado de um melanoma

 

O diagnóstico se confirmou há nove anos. Ricardo descobriu que uma verruga no braço era sinal de melanoma, câncer de pele mais agressivo. Cinco anos depois, o militar carioca teve que operar para retirar três nódulos nos pulmões e um na coxa direita. Um deles voltou no ano seguinte. Como se recusou a ir de novo para a sala de cirurgia. Ricardo buscou outra alterna tira. Começou primeiro pela quimioterapia, mas o tumor voltou a crescer. Foi então que os médicos decidiram testar um novo medicamento com probabilidade de 5% de resultado positivo, e o câncer de Ricardo desapareceu. Nem a equipe responsável pelo exame que constatou o sumiço acreditou, pois nunca tinha visto um melanoma regredir. "Ainda existe uma chance de o câncer voltar, mas do jeito que o remédio atacou meu organismo, não acredito. Em novembro, vai fazer dois anos que não estou tomando mais nada", comemora. Ricardo conseguiu fazer o tratamento gratuitamente no A.C. Camargo Câncer Center, em São Paulo.

 

Menos agressivo

 

Fora do Brasil, é realidade a terapia celular, considerada um estágio mais avançado da imunoterapia. Médicos norte-americanos e europeus podem recorrera uma droga que funciona como vacina para tratar câncer de próstata avançado. O medicamento é produzido a partir de células do próprio paciente, manipuladas em laboratório para que possam combater o tumor. A vantagem da terapia celular é ser um tratamento pouco agressivo e aumentar em quatro meses a sobrevida dos pacientes.

 

Além de desenvolver medicamentos dirigidos, individualizar o tratamento é identificar os pacientes que podem se beneficiar dele. O diretor de relações institucionais do Cetus Hospital Dia. Charles Pádua, lembra que, num passado não muito distante, todas as mulheres com câncer de mama eram submetidas à quimioterapia para complementar o tratamento cirúrgico. "Hoje, temos testes genéticos que podem determinar se a pessoa com tumor em estágio inicial está ou não em determinado grupo de risco. Isso nos possibilita avaliar quem vai ser eleito para a quimioterapia", destaca. O problema é que o exame custa cerca de R$ 10 mil e não está disponível no Sistema Único de Saúde (SUS).

 

"Infelizmente, individualizar o tratamento não é barato. A medicina personalizada economiza recursos, porque você tem a possibilidade de saber quem são os pacientes que vão precisar daquela droga, mas é tudo muito caro", lamenta o presidente da SBOC. Evanius Wiermann. Considerando que quase 80% da população no Brasil é dependente do SUS, o oncologista percebe que os brasileiros acabam divididos entre os pacientes de convênio, que conseguem ter acesso aos medicamentos, e os da saúde pública, que estão restritos a poucas opções terapêuticas. O desafio dos países em desenvolvimento, de oferecer os novos tratamentos para toda a população, será discutido no congresso da SBOC do ano que vem.

 

CUSTO ALTO Cada dose do medicamento da linha de imunoterapia que trata pacientes com melanoma custa aproximadamente RS 70 mil. É preciso tomar pelo menos quatro, o que gera um custo de RS 280 mil. Alguns convênios cobrem o tratamento, mas o SUS não. Para ter acesso à vacina para câncer de próstata, os brasileiros precisam ir aos Estados Unidos. Wiermann teme que a droga nem chegue ao Brasil devido ao alto custo (mais de R$ 200 mil por três aplicações). "Muitas das patentes vão cai r ao longo do tempo e dar espaço para os medicamentos similares, forçando a queda dos preços", enxerga. Por enquanto, muitos pacientes precisam recorrer à Justiça para receber do governo o tratamento gratuito.

 

Por outro lado, o oncologista Charles Pádua acredita que é preciso ter critério para incluir tanto na rede pública quanto na privada tratamentos que realmente deem resultados. "Temos que tirar o foco do valor do remédio e pensar na pessoa que precisa dele. Não importa se custa R$ 1 mil ou R$ 100 mil. desde que mude a vida do paciente", pontua. No início do ano, foram incluídos no rol da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) vários novos medicamentos para o câncer, que devem ser oferecidos pelos convênios. O SUS também passou a oferecer novas drogas, mas ainda não abrange todos os tratamentos.



 

Saúde 

É preciso integrar a universidade e o SUS
30/08/2014 - Folha de S.Paulo

Os princípios do SUS (Sistema Único de Saúde) preveem a estruturação de uma rede de serviços de saúde de complexidade tecnológica crescente, regionalizada e integrada, desde a atenção básica até a hospitalar, e sob gestão de um dos entes federados. Todavia, a integração dos hospitais universitários com o SUS ainda não se consolidou.

Diante disso, a atual gestão da Universidade de São Paulo encomendou um estudo para mapear aspectos da interação e da organização de seus hospitais --o Universitário (HU), em São Paulo, e o de Anomalias e Reabilitação Craniofacial (HRAC), em Bauru-- com as unidades de ensino e o SUS.

Dentre outros aspectos, o estudo comparou os indicadores acadêmicos, assistenciais e hospitalares das duas instituições da USP com os de hospitais de ensino geridos pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (FMRP), mas vinculados administrativamente ao SUS, por meio da Secretaria de Estado da Saúde, na forma de autarquia e de organizações sociais de saúde.

O Hospital Universitário tem perfil semelhante aos três estaduais -- de Ribeirão Preto, Mater e Américo Brasiliense--, enquanto o de Bauru tem complexidade que se assemelha ao HC de Ribeirão Preto (Hospital das Clínicas da FMRP).

Observou-se que os hospitais universitários mantêm tarefas conflitantes com os princípios de organização do SUS, pois abrigam serviços que deveriam estar no âmbito pré-hospitalar, como a Unidade de Pronto Atendimento, que funciona junto à unidade de urgência hospitalar no Hospital Universitário.

Esses dois hospitais também necessitam de investimentos na infraestrutura predial e recomposição do quadro de pessoal (no Hospital Anomalias e Reabilitação Craniofacial, por exemplo, são 200 servidores para manter o seu funcionamento e 422 para ativar a nova construção do hospital).

A relação pessoal/leito no Hospital Universitário da USP, em 2013, foi de 11,7 funcionários por leito, enquanto nos hospitais estaduais foi de 5,9. Em Bauru, a relação foi de 9,3 e no HC de Ribeirão Preto, de 7,5. As despesas com leito por ano nos hospitais exclusivamente da USP foram mais que o dobro (no HU, R$ 1.459.097, e R$ 1.495.454 em Bauru), se comparadas às do HC de Ribeirão Preto (R$ 679.989) e dos hospitais estaduais (R$ 445.050).

Recomendou-se a vinculação do Hospital Universitário ao Hospital das Clínicas de São Paulo após considerar o sucesso das vinculações do HC de São Paulo e do HC de Ribeirão Preto ao SUS, a discrepante relação de custos entre os hospitais e a importância da interação dos espaços de formação e pesquisa com as estratégias das políticas públicas do Estado.

Recomendou-se também a transformação do hospital de Bauru em autarquia vinculada à Secretaria da Saúde e associada à USP, sob administração da Faculdade de Odontologia de Bauru, medida recém-aprovada pelo Conselho Universitário.

Há 23 anos, prosperou a vinculação do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto ao SUS. Foi assim que a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto associou-se a uma rede composta por oito unidades de saúde da família, três unidades básicas de saúde, uma unidade de pronto atendimento, um centro de especialidades, três hospitais de média complexidade e fortaleceu o papel do Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto como referência.

Com esse modelo, a Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto ampliou os horizontes da extensão, de ensino e pesquisa e a interação com a comunidade. Fica a expectativa de que, mais uma vez, se aproveite a oportunidade de fortalecer a relação da USP com a sociedade e o SUS.



Grávidas fazem périplo para achar vaga
31/08/2014 - Folha de S.Paulo


Com menos vagas em maternidades, algumas grávidas têm que fazer quase uma peregrinação para obter atendimento e chegam a ficar horas afastadas dos bebês.

A técnica em ótica Allana Beatriz Inácio Silva, 22, teve o filho Pietro em maio deste ano no Hospital Sepaco, na zona sul de São Paulo. Mas só conseguiu ficar com ele quase 11 horas após o parto.

Motivo: com a maternidade lotada, ela teve que esperar sozinha em uma sala de recuperação até que houvesse um quarto disponível.

Durante a espera, questionou sobre amamentar o filho e foi informada que o bebê já havia sido alimentado no berçário. "O primeiro leite não foi o meu. Chorei muito e sofro até hoje com isso", diz Allana, que pretende processar a maternidade.

Segundo obstetras, situações como essas têm ficado mais comuns nos últimos anos. Em 2010, a advogada Juliana Açakura, 37, esperou duas horas em uma cadeira de rodas para entrar no centro cirúrgico do Hospital São Luiz, em São Paulo.

"Eram cinco, seis mulheres, todas esperando sem saber quando era sua vez. Era um entra e sai de mulher barriguda e de bebês que parecia linha de produção", diz ela, que também relata ter sido impedida de amamentar o filho. "Ele só veio para o meu colo cinco horas após nascer", lamenta.

Procurado, o Sepaco disse que "por conta do fechamento de várias maternidades na cidade, enfrenta uma alta taxa de ocupação". O hospital afirma que vai avaliar o que ocorreu no caso da paciente.

Em nota, a maternidade São Luiz disse que investe para ampliar sua capacidade de atendimento, mas que "o setor de saúde enfrenta o desafio da crescente demanda".

PEREGRINAÇÃO

Em busca de uma vaga, a fotógrafa Ana Paula Cayres, 32, teve de passar por quatro maternidades particulares de Campo Grande (MS) durante o trabalho de parto.

"Minha médica ligava para os hospitais no meio do caminho e eles falavam que estava tudo lotado. Foi um pesadelo", lembra ela, que acabou tendo a filha em uma cesárea de emergência.

A obstetra Ana Cristina Duarte, do Gama (Grupo de Maternidade Ativa), afirma que o problema de lotação é agravado pela concentração de cesáreas agendadas em determinadas épocas do ano, como vésperas de feriados --o que deixa sem vaga quem chega em trabalho de parto.

Em alguns hospitais, porém, até quem tenta agendar a cesárea tem dificuldade.

Uma semana antes da data prevista para ter o bebê, a professora Tatiane de Faria, 33, foi pega de surpresa por uma mensagem do plano de saúde. Ela planejava fazer o parto na Pro Matre, onde teve o primeiro filho. Descobriu que não havia vaga em nenhum dia da semana. Acabou sendo transferida para outra unidade da rede.

Questionada, a Pro Matre negou a falta de vagas.

Para o obstetra Newton Busso, o aumento na adesão aos planos de saúde contribuiu para aumentar o problema. "É difícil agendar o parto em função das poucas maternidades. E as de melhor padrão estão lotadas", diz.


Começa a segunda etapa da vacinação contra o HPV
30/08/2014 - O Estado de S.Paulo


A segunda etapa da vacinação contra HPV começa na segunda feira em todo o País. Meninas entre 11 e 13 anos que já tomaram a primeira dose podem procurar um posto de saúde mais próximo. Assim como ocorreu na primeira fase, o Ministério da Saúde recomenda que municípios organizem a vacinação também nas escolas públicas e particulares. A segunda dose, aplicada seis meses depois da primeira, é essencial para garantir a proteção contra o HPV, vírus que está associado ao aparecimento do câncer de colo de útero. Sem a segunda dose não há proteção”, afirmou o ministro da Saúde, Arthur Chioro.
A meta é garantir cobertura de 80% entre a população alvo.
Na primeira etapa, 87,3% das meninas entre 11 e 13 anos foram imunizadas. “Foi um ótimo resultado.
Só a Austrália teve cobertura semelhante”, disse o secretário de Vigilância em Saúde, Jardas Barbosa.
A vacina faz parte do calendário vacinal. Meninas que completaram agora 11 anos podem ir ao posto tomar a primeira dose.
A inclusão do imunizante no programa nacional ocorreu neste ano.
Em 2015, a vacina passa a ser oferecida para adolescentes de 9 a 11 anos.
Para população indígena, a faixa etária para vacinação, desde já é entre 9 e 11 anos.
A vacina protege contra quatro tipos de vírus.
Dois deles são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer de colo de útero. Barbosa afirma, no entanto, que, mesmo vacinadas, mulheres devem realizar a partir de 25 anos o exame papanicolau.
O câncer de colo de útero é o terceiro mais frequente na população feminina, atrás do câncer de mama e colorretal. É a terceira causa de morte de mulheres por câncer.
Uma terceira dose da vacina, para reforço, deve ser dada 5 anos depois da aplicação da primeira dose. Cerca de 942 mil meninas, com 11, 12 e 13 anos de idade, que já receberam a primeira dose da vacina no primeiro semestre deste ano, devem procurar o posto de vacinação mais próximo para a aplicação da segunda dose, no Estado de São Paulo. Ao todo serão 4,7 mil postos com horário de funcionamento entre 8 e 17 horas


Epidemia de ebola chega ao Senegal
30/08/2014 - O Globo


A ministra da Saúde do Senegal, Awa Marie Coll Seck, confirmou ontem o primeiro caso de ebola no país, elevando temores de que a epidemia esteja se alastrando por várias nações africanas. O paciente é um estudante guineense da Universidade de Conakry, de 21 anos. Ele está em quarentena no Hospital Fann, em Dakar, onde chegou com sinais de hemorragia na última quarta-feira.
O Senegal fechou suas fronteiras terrestres para os viajantes oriundos da Guiné em 21 de agosto. A medida foi estendida posteriormente a fronteiras aéreas e marítimas para todas as aeronaves e navios procedentes de Guiné, Serra Leoa e Libéria. Os três países concentram o maior número de casos de ebola já confirmados.
Há registros de casos também na Nigéria. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o vírus já fez 1.552 vítimas fatais e contagiou, ao todo, 3.069 pessoas. Foram confirmadas ainda duas mortes por Ebola na República Democrática do Congo, mas, segundo o governo, trata-se de um surto independente, provocado por uma linhagem diferente do vírus.
A OMS estima, no entanto, que haja pelo menos 12 mil pessoas infectadas e que este número deve chegar a 20 mil até o fim do ano, antes de a epidemia começar a dar sinais de regressão. Uma boa notícia chegou ontem, no entanto: o primeiro teste clínico com a droga experimental ZMapp, usada no tratamento de alguns infectados (das sete pessoas que tomaram, duas morreram), se mostrou 100% eficaz em macacos, mesmo nos animais em estado avançado da doença. Mas ainda que o uso seja aprovado, não se sabe se o laboratório teria capacidade de produzir remédio para todos os infectados.
SIMULAÇÃO DE ATENDIMENTO O governo brasileiro realizou um treinamento para simular medidas adotadas em resposta a possível chegada de um caso suspeito de ebola no país.
Com início no Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro (Galeão), o exercício de simulação foi concluído no Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI), na Fiocruz, indicado como referência para receber casos suspeitos de infecção pelo vírus no estado.
O instituto está capacitando cerca de 50 pessoas, de faxineiros a médicos da instituição, para atender possíveis pacientes com a doença. Duas salas já estão prontas para isolamento de indivíduos com suspeita de contaminação.
Após o pouso de um voo no Galeão, militares da Aeronáutica entraram no avião e se passaram por passageiros para a simulação. Em coletiva ontem, o ministro da Saúde, Arthur Chioro, afirmou que, caso haja um caso suspeito no avião, o primeiro passo será o comandante entrar em contato com as autoridades sanitárias em terra para que o paciente seja imediatamente encaminhado para uma área remota e isolada do aeroporto. Em seguida, uma equipe do Samu irá retirar o paciente do aeroporto e o acompanhará até o hospital de referência.
— Além disso, os profissionais da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) entrevistarão cada um dos passageiros do voo para saber quem teve contato com as secreções do suspeito — afirmou o ministro.
A importância do exercício, segundo Chioro, é “poder repassar passo a passo as estratégias, integrar as equipes, aprender os processos e fazer adequações de possíveis brechas” para que se possa ter o “máximo de eficiência e eficácia”.
Acompanhado do secretário de Vigilância em Saúde do Ministério, Jarbas Barbosa, Chioro reiterou que a chance de o ebola chegar ao Brasil é baixíssima.
No entanto, disse que “não adianta esperar acontecer” para colocar em prática o conjunto de operações.
— Pretendemos fazer mais algumas simulações em São Paulo e em Brasília, já que nossas equipes precisam sempre estar em situações similares às emergências do dia a dia, para ganhar eficiência na resposta — assegurou Chioro.
Ele explicou, ainda, que simulações como essas são comuns, realizados pelo menos duas vezes por ano, para integrar equipes de saúde, corpo de bombeiros, companhias de tráfego e todas as outras áreas envolvidas.
Sobre uma possível importação do medicamento experimental ZMapp, Barbosa afirmou que não há a recomendação de segurança ou eficácia do seu uso.


Evolução através de epidemias
30/08/2014 - O Globo


Responsáveis pelo extermínio de significativa parcela da Humanidade, grandes epidemias teriam como agente — no surgimento e na proliferação — sua maior vítima: o ser humano. Do sarampo ao ebola que ainda hoje faz vítimas na África Ocidental, passando por peste negra, gripe espanhola e cólera, todas as graves doenças que varreram países e continentes começaram e se expandiram por eventos associados à ação humana, como migrações internacionais, domesticação de animais e exploração da natureza. A tese é do infectologista Stefan Cunha Ujvari, autor dos livros “A história e suas epidemias”, “Pandemias” e, mais recentemente, “A história do século XX pelas descobertas da medicina”, lançado este ano pela Editora Contexto.
— O homem sempre esteve por trás, criando alguma condição que favoreceria o aparecimento e alastramento das epidemias. Essas epidemias aconteceriam de qualquer maneira, mas suas intensidades foram favorecidas pela interferência do homem — defende Ujvari.
O argumento do infectologista é amparado por uma revisão em doenças que atingiram povos ao longo de dezenove séculos. No século II, a expansão do Império Romano teve como consequência a chegada do vírus do sarampo à Europa.
A intensificação das trocas comerciais e incursões ao Oriente Médio teriam levado a doença da Ásia para o Egito e, dali, para a Península Itálica. Cerca de um quarto da população local morreu vitimada pela enfermidade. A varíola seguiu caminho parecido, no mesmo século.
— Essas foram as primeiras grandes epidemias, causadas pela introdução de vírus em populações que não tinham contato anterior com eles, a partir da extensão de fronteiras e entrada em novos territórios. O homem começava a globalizar as doenças infecciosas — comenta Ujvari.
PESTE NEGRA VITIMOU 25 MILHÕES DE PESSOAS Talvez a pandemia mais conhecida da História, por sua descomunal mortalidade, a peste negra também eclodiu e se espalhou graças a condições favoráveis criadas por seres humanos, sobretudo o aumento descontrolado da população europeia sem condições de adequadas de higiene, na Idade Média. A doença teria aportado na Sicília com embarcações vindas da região da Crimeia. Vetores da doença, ratos e suas pulgas encontraram um ambiente favorável à proliferação em meio ao lixo orgânico que se espalhava pelas ruas das primeiras cidades urbanas. De 1348 a 1350, a doença conhecida também como peste bubônica vitimou fatalmente cerca de 25 milhões de pessoas, um terço da população da Europa.
A colonização das Américas também teve consequências biológicas. Diferentes vírus, do sarampo, da varíola e da gripe, foram introduzidos no continente e atacaram populações indígenas sem imunização para essas doenças.
— A epidemia chegou e se alastrou de forma lenta e gradual, ao longo de cinco séculos. A varíola alcançou a capital dos astecas, na época em que Hernán Cortés chegou à região, e ajudou o espanhol a destruí-los. A doença, assim como o sarampo, também colaborou com a conquista do Império Inca.
No Brasil, as doenças atingiram, por exemplo, índios na Bahia e no interior da Amazônia — detalha Ujvari.
Já no século XIX, a chamada revolução industrial esteve associada à disseminação da cólera. Oriunda da Índia, a bactéria alcançou a Europa apenas quando o tempo de viagem entre o país e o continente foi encurtado, por conta da invenção de embarcações a vapor e da construção do Canal de Suez. Antes, viajantes atingidos pela doença morriam durante o percurso.
Já a gripe espanhola, provocada pelo vírus Influenza A do subtipo H1N1 e que atingiu diferentes regiões do mundo no século XX, teria em sua origem o contato do homem com animais e foi catalisada pela Primeira Guerra Mundial. Análises genéticas de fragmentos de pulmão de vítimas da doença — cuja origem é provavelmente os EUA ou a China, e não a Espanha — indicaram que o vírus veio de aves. Um século depois, a aproximação de homem e animais também foi apontada como o início da recente epidemia de gripe suína, causada por outra cepa do H1N1: a criação concomitante de porcos e aves resultou no vírus causador da doença. O ebola — cujo atual surto já matou mais de 1,5 mil pessoas na África Ocidental — surgiu provavelmente por conta da manipulação de carcaças com secreções de animais que vivem em matas, como chimpanzés, gorilas, antílopes e morcegos.
— Interferir no meio ambiente e alterar a dinâmica da biosfera é um grande problema. O ebola é consequência disso, assim como a dengue — defende o infectologista.
Sociólogo e professor do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Luiz Antonio de Castro Santos afirma que migrações internacionais sempre foram o grande causador de epidemias.
Ele alerta, no entanto, para o perigo de marginalização de populações identificadas como causadoras das doenças: — Esses fatores causais são quase sempre seguidos pela estigmatização. Hoje, por exemplo, quando a gente fala de população da Libéria ou de Serra Leoa há o estigma da doença associada à pobreza. O estigma é sempre um problema e muitas vezes interfere no tratamento das doenças, o que pode, inclusive, contribuir para sua expansão — acredita.


 

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