Vacina experimental 'imita' picada de mosquito


Vacina experimental 'imita' picada de mosquitoVacina experimental 'imita' picada de mosquitoSão Paulo, 9 de agosto de 2013

Uma empresa americana ressuscitou a ideia de um casal brasileiro publicada há 44 anos e imunizou 12 pessoas contra malária com uma vacina experimental. Num dos subgrupos do teste, a eficiência alcançou 100%.

O produto, apelidado de PfSPZ, emprega o microrganismo inteiro --no seu estágio de vida batizado de esporozoíto-- para desafiar o sistema imune humano. A fim de impedir que essa versão do plasmódio desencadeie a doença, os esporozoítos são "nocauteados" (atenuados) com raios X.O trabalho foi publicado na versão eletrônica da revista Science.

Os líderes do estudo são Stephen Hoffman, da Sanaria, e Robert Seder, do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (Niaid) dos EUA.

Trata-se do maior sucesso alcançado, até aqui, na longa e decepcionante luta para prevenir a doença, que em 2010 causou estimadas 660 mil mortes no mundo. Outra vacina está em fase mais adiantada de teste, mas só conseguiu entre 47% e 55% de proteção. Para crianças, as principais vítimas, teve resultado ainda pior (33% a 37%).  Conhecida como RST,S, essa vacina usa só um pedaço do esporozoíto. Não pode, por isso, causar a doença, e terá vantagens práticas sobre a PfSPZ --se der certo.

Malária no Brasil

No Brasil, a doença está presente sobretudo na Amazônia, mas o número anual de mortes fica na casa das centenas. Isso porque predomina aqui o parasita Plasmodium vivax, menos perigoso que o P. falciparum, que causa a maior parte das mortes na África.

Os brasileiros Ruth e Victor Nussenzweig desenvolveram a técnica de atenuação do esporozoíto com raios X a partir de 1965, quando se mudaram para a Universidade de Nova York. Irradiaram milhares de mosquitos e os puseram para picar recrutas americanos voluntários.

Conseguiram imunizar os rapazes contra a malária, mas era só uma "prova de princípio". Não há como vacinar milhões de pessoas assim. Hoffman partiu daí e criou um procedimento para obter os esporozoítos e injetá-los, dispensando as picadas. É um processo laborioso, que exige abrir as glândulas salivares dos insetos para coletar os microrganismos.

Dois anos atrás, Hoffman e Seder testaram a vacina artesanal em humanos e descobriram que injeções subcutâneas não davam resultado satisfatório. Tentaram então, em julho e outubro de 2012, a imunização com injeção na corrente sanguínea (intravenosa), método impraticável em vacinações de massa.

São esses os resultados relatados agora na "Science". Um grupo de 40 voluntários recebeu injeções em doses e intervalos variados. Dos seis que receberam cinco injeções e dose máxima, todos acabaram imunizados, assim como seis dos nove inoculados quatro vezes com doses altas.

Foi só mais uma prova de princípio. Não faltam obstáculos para a PfSPZ se tornar uma alternativa real para combater a malária.

Primeiro, a empresa precisará encontrar uma maneira mais prática de obter os esporozoítos. Depois, provar que o produto funciona com um número maior de pessoas e por mais de um ano.

Em seguida, terá de demonstrar que a PfSPZ é eficaz contra várias cepas do plasmódio. E, por fim, que pode dispensar o nitrogênio líquido para resfriar a vacina e as injeções intravenosas.

A luta por uma vacina contra a malária tem vários anos pela frente.

 

Assessoria de Comunicação CRF-SP (Com informações da  Folha de S.Paulo)

CLIQUE AQUI PARA CONSULTAR OUTRAS NOTÍCIAS

Conteúdo acessível em libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro ou Hozana. Conteúdo acessível em libras usando o VLibras Widget com opções dos Avatares Ícaro ou Hozana.