Diante dos protestos e da indignação que varrem o país, nós, Farmacêuticos, também temos que nos manifestar

 

 

Dr. Pedro Menegasso, presidente do CRF-SPDr. Pedro Menegasso, presidente do CRF-SP

Nas últimas duas semanas, temos assistido atônitos aos protestos que varrem o nosso país. Começando com os aumentos das passagens de ônibus, que foram a gota d’agua num universo de insatisfação que silenciosamente se acumulava em todos os cidadãos brasileiros. Talvez a causa tenha sido o aumento dos transportes combinado com a incoerência das imagens limpíssimas e padronizadas da Copa das Confederações, que está sendo disputada no Brasil, mas que poderiam estar sendo geradas em qualquer país de primeiro mundo, e que, apesar de estarem vindo de estádios caríssimos de um padrão ao qual não estamos acostumados, não refletem a realidade exterior, da miséria e dos desmandos que persistem na nossa sociedade à volta desse ambiente criado de forma artificial. A insatisfação que já transbordava nas redes sociais, emergiu para as ruas. Insatisfação e frustração acumuladas por muito tempo, de um povo que não lembrava mais de se orgulhar do seu próprio país, que não se lembrava mais de ter esperança num futuro melhor. Um povo que acordou e percebeu que quer ter orgulho do país por tudo o que ele representa, não apenas pela sua seleção de futebol. Estamos atônitos, por que nunca vimos um movimento tão forte sem liderança clara, um movimento espontâneo, apartidário e legítimo.

Nós, Farmacêuticos brasileiros, temos também que erguer as nossas bandeiras, os nossos cartazes, pois estamos indignados faz tempo com a maneira com que tratam a nossa profissão. Estamos indignados com o descaso dos empresários que nos consideram um incômodo para os seus negócios. Indignados com aqueles para quem somos somente um custo a mais. Indignados com aqueles que nos impõem metas para vender medicamentos, justamente aquilo que fomos ensinados a moderar, não a estimular de forma irracional. Estamos indignados com aqueles que nos impõem condições absurdas e precárias de trabalho, nos submetendo a salários miseráveis, a jornadas extenuantes e a tarefas humilhantes que não condizem com o nosso papel. Estamos indignados com os gestores públicos que desprezam a necessidade de Farmacêuticos no SUS, agindo também como se a nossa presença nesses locais fosse apenas uma demanda corporativa ou um mero desperdício de verbas. Estamos indignados com as nossas autoridades que, muitas vezes insensíveis com os interesses da saúde pública, dobram-se aos interesses de poucos. Estamos indignados com o estado burocrático, com o estado que cobra altas cargas de tributos e que não devolve em serviços de qualidade, o mesmo estado que torna o ambiente impraticável para os pequenos negócios, que inviabiliza o funcionamento das pequenas Farmácias de Farmacêuticos. Indignados com aqueles que desprezam o risco que os medicamentos representam e que o consideram uma simples mercadoria. Estamos indignados com aqueles que debocham dos nossos propósitos, que riem das nossas causas.

Poderíamos gastar páginas descrevendo os cartazes que teríamos que erguer. As nossas causas são inúmeras, mas nossos corações são valentes. Cada farmacêutico tem sido um manifestante empunhando as suas bandeiras, muitas vezes sozinho no seu trabalho diário, lutando com bravura em ambientes hostis, para convencer patrões, colegas de trabalho e a população sobre a justiça das suas causas.
Estamos alinhados com os manifestos que vêm das ruas, pois as nossas causas são as mesmas.

ASSIM COMO OS ESTÁDIOS DE PRIMEIRO MUNDO QUE FOMOS CAPAZES DE CONSTRUIR, QUEREMOS TAMBÉM FARMÁCIAS E CONDIÇÕES PARA TRABALHAR DE PRIMEIRO MUNDO! QUEREMOS O MERCADO CONSCIENTE E QUE RESPEITA A SAÚDE DAS PESSOAS E QUE NOS RESPEITE COMO TRABALHADORES ESSENCIAIS AO SEU FUNCIONAMENTO. QUEREMOS AUTORIDADES COMPETENTES, HONESTAS E QUE COMPREENDAM AS DEMANDAS E OS RISCOS À SAÚDE DA POPULAÇÃO, E QUE NESSE SENTIDO, NÃO CEDAM A TODO MOMENTO A PRESSÕES DE POUCOS POR INTERESSES MENORES. AUTORIDADES QUE NÃO DESPERDICEM O DINHEIRO PÚBLICO, MAS QUE O INVISTA COM RESPEITO.

Vivemos um tempo de mudar o que está errado, de cobrar de quem tem responsabilidade que, efetivamente, a exerça.
Vivemos um tempo de conscientização, onde nós mesmos devemos melhorar a nossa compreensão dos problemas e nos unir na busca de soluções.
Cada um de nós, no seu posto de trabalho, no âmbito das suas responsabilidades, deve incorporar o espírito das manifestações, sair das posições cômodas, nos posicionar de forma a buscar as mudanças que tanto queremos e que precisamos. Precisamos mudar o nosso país, como algo que devemos a nós mesmos e às próximas gerações. Mudar, evoluir, deixar um legado, são atos que elevam o sentido das nossas vidas e que, nesse momento, estão nas ruas e no coração de todos, inclusive dos “corações Farmacêuticos”.

 

Dr. Pedro Eduardo Menegasso

Farmacêutico e Presidente do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP) 

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