O papel do farmacêutico no enfrentamento das novas substâncias psicoativas é tema de evento híbrido

 

Evento reuniu farmacêuticos e acadêmicos de Farmácia na Sede do CRF-SP e pôde ser acompanhado pela internetEvento reuniu farmacêuticos e acadêmicos de Farmácia na Sede do CRF-SP e pôde ser acompanhado pela internet

São Paulo, 18 de agosto de 2023.

Por exercer um papel fundamental na orientação à população sobre os riscos associados ao consumo das Novas Substâncias Psicoativas (NSP), realizando também a notificação e o acompanhamento de casos de intoxicações relacionados a elas, a contribuição do farmacêutico no enfrentamento dessas substâncias é de extrema importância para a preservação da saúde pública.

Para debater o assunto, o CRF-SP, por meio do Grupo Técnico de Trabalho (GTT) de Toxicologia, promoveu na noite de quinta-feira (17), na capital, o workshop ‘O papel do farmacêutico no enfrentamento das novas substâncias psicoativas’, em formato híbrido (presencial e on-line).

O presidente do CRF-SP, Dr. Marcelo Polacow, participou da abertura de forma remota e enfatizou que a atuação do farmacêutico na Toxicologia se desponta como grande aliada no enfrentamento do alto índice de consumo abusivo de diferentes tipos de substâncias tóxicas, um problema que já se evidencia de forma preocupante no cenário internacional.

“Nesse sentido, destaco o trabalho pioneiro do nosso GTT de Toxicologia que vem atuando de forma excelente propondo eventos como este, além de webinars sobre temas diversos e publicando materiais técnicos de qualidade aos farmacêuticos. Exemplo disso é o informe técnico sobre o uso de fentanil, publicado em junho deste ano, com informações sobre o uso abusivo dessa substância e sobre como o farmacêutico pode atuar e orientar a população”, destacou o presidente do CRF-SP.

Coordenadora do GTT de Toxicologia do CRF-SP, a Dra. Silvia Cazenave também falou na abertura do workshop, agradecendo o espaço que o Conselho tem dado à essa área de atuação. “Isso tem sido superimportante para que possamos debater e desenvolver assuntos de extrema relevância para toda a classe farmacêutica e para a sociedade”, afirmou a farmacêutica que também atua como perita criminal.

Dr. Marcelo Polacow (presidente do CRF-SP) e Dra. Sílvia Cazenave (coordenadora do GTT de Toxicologia do CRF-SP)Dr. Marcelo Polacow (presidente do CRF-SP) e Dra. Sílvia Cazenave (coordenadora do GTT de Toxicologia do CRF-SP)

Aumento exponencial na capital

A primeira palestra ficou a cargo do Dr. Paulo Tenório de Cerqueira Neto, farmacêutico que coordena o Núcleo de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e do Programa Municipal de Prevenção e Controle de Intoxicações da Divisão de Vigilância Epidemiológica da Prefeitura de São Paulo.

Ele apresentou dados que apontam o aumento de casos suspeitos de intoxicações por exposição a novas substâncias psicoativas, especificamente os canabinoides sintéticos, na capital. Dos 7.148 casos suspeitos de intoxicação exógena por drogas de abuso registrados em 2022 na cidade, 99 foram por canabinoides sintéticos (1,4%). Já em 2023, até o início de agosto, dos 4.723 casos suspeitos, um total de 648 correspondem a possíveis casos de canabinoides sintéticos (13,7%).

O especialista também detalhou como é feito o fluxo de notificações de intoxicações exógenas no departamento em que atua e mencionou as principais diferenças entre os canabinoides comuns e os sintéticos. “Estes são, em geral, drogas de abuso sintetizadas em laboratórios clandestinos não derivadas da maconha. Na verdade, dependendo do composto, podem ter efeito até mil vezes maior do que o provocado pelo THC, princípio ativo da maconha”, disse o Dr. Paulo.

Dr. Paulo Tenório (Núcleo de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e do Programa Municipal de Prevenção e Controle de Intoxicações da Prefeitura de São Paulo) e Dr. Rafael Lanaro (Ciatox/Unicamp)Dr. Paulo Tenório (Núcleo de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e do Programa Municipal de Prevenção e Controle de Intoxicações da Prefeitura de São Paulo) e Dr. Rafael Lanaro (Ciatox/Unicamp)

Canabinoides sintéticos

Na sequência, o Dr. Rafael Lanaro, farmacêutico do setor de Análises Toxicológicas do Centro de Controle de Intoxicações (Ciatox) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), detalhou alguns casos clínicos de diagnósticos feitos a partir de análises de emergências em casos de intoxicações por NSP. Ele explicou que os canabinoides sintéticos surgiram na década de 2000 e atualmente estão na 11ª geração, sendo hoje a maior classe de NSP disponíveis no mundo, com mais de 300 tipos no total.

“As análises de urgência das NSP são determinantes em muitos casos e trazem uma série de benefícios no atendimento aos casos suspeitos de intoxicações, entre os quais uma resposta mais precisa sobre o tratamento a ser aplicado; a avaliação da gravidade; e o auxílio na determinação da causa-morte para finalidade forense”, esclareceu o farmacêutico.

Um panorama sobre as apreensões das NSP e as perícias toxicológicas foi tema da palestra do Dr. Alexandre Learth Soares, perito criminal e diretor do Núcleo de Exames de Entorpecentes do Instituto de Criminalística da Superintendência Técnico-Científica do Estado de São Paulo.

Um dos destaques que ele abordou foi a questão de as NSP terem surgido, entre muitos fatores, com o intuito de burlar a legislação, por conterem substâncias que não constavam na Portaria SVS/MS 344/1998 já que, devido a suas características, não configuram “estruturas definidas”; o problema foi amenizado a partir da publicação da RDC 79/2016, que passou a permitir a inclusão de substâncias por “similaridade estrutural”.

Dr. Alexandre Lehart (Núcleo de Exames de Entorpecentes do Instituto de Criminalística da Superintendência Técnico-Científica do Estado de São Paulo) e Dra. Cecília Galicio Brandão (Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas e Álcool de São Paulo)Dr. Alexandre Lehart (Núcleo de Exames de Entorpecentes do Instituto de Criminalística da Superintendência Técnico-Científica do Estado de São Paulo) e Dra. Cecília Galicio Brandão (Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas e Álcool de São Paulo)

‘Temos de impedir que as pessoas morram’

Para finalizar, o evento contou com a participação da advogada e mestre de Direito Internacional Público Dra. Cecília Galicio Brandão, que é vice-presidente do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas e Álcool de São Paulo, que falou sobre as políticas públicas e a prevenção das intoxicações.

“É bastante interessante pensarmos no papel da construção de políticas públicas sobre drogas e lembrarmos que toda essa discussão tem referência na Lei de Drogas e que o objeto jurídico da Lei de Drogas é a saúde pública. Muito mais do que amplo aspecto de bem-estar social, quando falamos de drogas, o objetivo é que as pessoas não morram. Ou seja, o papel da saúde pública e das drogas é bem estreito: temos de impedir que as pessoas morram”, declarou.

 

Renata Gonçalez

Departamento de Comunicação CRF-SP

 

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