Farmacêutica de Mogi Mirim desenvolveu projeto de consulta farmacêutica em UBS

 

 

São Paulo, 7 de fevereiro de 2022.

Gostar da área da saúde e de ajudar as pessoas, além de ser encantada pela fisiologia humana foram apenas alguns dos motivos para que a Dra. Thais Devito Trigo, de Mogi Mirim, interior de São Paulo escolhesse a graduação em Farmácia, concluída em 2003. Desde 2012 atua omo farmacêutica na Prefeitura de Mogi Mirim (SP) e há três anos tem feito a diferença na Unidade Básica de Saúde (UBS) Dr. Antonio Albejante na mesma cidade.

Além das atividades rotineiras de uma farmacêutica que atua em UBS, Dra. Thais desenvolveu um projeto de consulta farmacêutica individual. “Antes os atendimentos eram feitos no balcão da farmácia, porém, encontrei algumas necessidades e precisei criar estratégias para atendê-las”. Entre as principais situações identificadas estavam pacientes com pouca adesão ao tratamento, pacientes analfabetos com pouca leitura e acesso à educação, pacientes fazendo uso incorreto do medicamento (diferente do prescrito), falta de orientação sobre o uso de insulina, alto consumo de medicamento, número alto de dispensações, grande quantidade de descarte (medicamentos não utilizados trazidos pela população para descarte) e resistência da população nas tentativas poucos exitosas de orientação farmacêutica.

Os atendimentos que eram feitos no balcão passaram a ser individualizados e reservadosOs atendimentos que eram feitos no balcão passaram a ser individualizados e reservados

Dra. Thais ressalta duas situações que presenciou em relação ao consumo de medicamentos. “Uma em que o paciente usava a medicação de forma abusiva (mais do que o prescrito pelo médico) e outra em que o paciente usava menos do que o prescrito, demonstrando um consumo irracional da medicação. Em alguns casos, a medicação era retirada gratuitamente na farmácia da unidade de saúde, não era utilizada e, posteriormente, devolvida para ser descartada, gerando gastos desnecessários para o município e impactando diretamente no sucesso do tratamento desse paciente”.

Ela ressalta ainda que os medicamentos de uso contínuo, normalmente para diabetes, hipertensão e dislipdemias, são fornecidas para 60 dias e dispensadas através de sistema informatizado. “Na receita, registra-se a data da dispensação e a data de retorno. Muitos pacientes retornavam antes da data para retirada da medicação, alegando não ter mais o medicamento que foi fornecido conforme prescrição na quantidade correta para o prazo estipulado. Durante a dispensação, ao serem questionados sobre o motivo da medicação ter acabado antes do prazo para a próxima retirada, se zangavam alegando que tomavam corretamente e que estavam sem o medicamento e que o farmacêutico tinha que fornecer a medicação antes do prazo, gerando discussão e pouco sucesso na intervenção”.

Orientações por escrito para utilização de glicosímetro para medicação de glicemia capilar Orientações por escrito para utilização de glicosímetro para medicação de glicemia capilar

Após a implantação da consulta, quando era detectado um caso de uso excessivo de medicação, o paciente era orientado a agendar uma consulta para a retirada dessa medicação antes do prazo. Durante a consulta individual, Dra. Thais orientava sobre os riscos da ingestão excessiva da medicação, possíveis efeitos adversos, entre outros. Nesse momento, o paciente se sentia acolhido e importante, além de entender o porquê o uso abusivo traria malefícios à saúde e não benefícios como o paciente acreditava.

“Antes, o paciente via a situação como uma simples recusa em adiantar o fornecimento. Após a consulta, o paciente entendia que não se tratava de negar o fornecimento e, sim, de uma preocupação com sua saúde, bem-estar e qualidade de vida. Isso possibilitou uma aproximação entre farmacêutico e paciente e estabeleceu-se uma relação de confiança. O paciente começou a usar o medicamento de forma correta, retirando no período correto. Em alguns casos, o paciente alegava usar a medicação além do prescrito por não conseguir um controle dos sintomas”.

Os pacientes são orientados e recebem informações sobre os medicamentos e a importância do descarte consciente Os pacientes são orientados e recebem informações sobre os medicamentos e a importância do descarte consciente

Dra. Thais destaca também a importância da interação com a equipe multidisciplinar, já que além de atender as necessidades do paciente aproxima a convivência entre médico e farmacêutico por exemplo. “Em um dos casos, uma paciente alegava utilizar mais insulina NPH quando a glicemia estava muito alta, porém não informou o prescritor sobre o descontrole glicêmico. Nesse caso, Dra. Thais anotou todas as informações em prontuário, orientou a recepção para agendar uma consulta com o clínico e passou o caso para o prescritor. Na consulta, o médico adequou a insulinoterapia e orientou sobre como proceder no caso de hiperglicemia.

Por se tratar de uma região muito carente, é comum que pacientes façam uso incorreto da medicação por não entender a receita, pois muitas vezes são semianalfabetos. Ainda referente à adesão ao tratamento, especialmente nesses casos, Dra. Thais faz a confecção de saquinhos para cada tipo de medicamento e na parte de fora são colados adesivos de sol, lua, prato para que o paciente entenda a posologia mesmo sem saber ler.

A farmacêutica também reinventou uma forma de obter recursos para a unidade. “Para a compra dos saquinhos, adesivos, cola e canetinhas, faço reciclagem das caixas de papelão, papel e embalagens. Com o dinheiro da venda da reciclagem, compra-se os materiais necessários para a consulta. Além de contribuir para a redução de lixo, reciclando os materiais, ainda gera recurso que é revertido para a própria unidade”, destaca a Dra. Thais.

Muitos pacientes têm dificuldade para ler, então uma solução foi desenhar e separar os medicamentos em saquinhos Muitos pacientes têm dificuldade para ler, então uma solução foi desenhar e separar os medicamentos em saquinhos

Resultados

Após a consulta farmacêutica e as orientações adequadas ao tipo de paciente, Dra. Thais chama a atenção para alguns resultados como a diminuição do consumo de medicamentos e do número de atendimentos (por diminuição do retorno do paciente em data incorreta), diminuição do desperdício e da quantidade de descarte inadequado.

“No início, os pacientes eram convidados a participar. Iam um pouco relutantes. Depois, passaram a procurar espontaneamente. O apoio do médico prescritor é muito importante também. Dra. Kátia, nossa clínica geral da Unidade, ao perceber a utilização indevida ou pouca adesão, encaminha os pacientes para a consulta farmacêutica. O paciente agenda por encaminhamento dela. Quando a médica prescreve insulina pela primeira vez para o paciente, ela encaminha também para que eu explique como aplicar a insulina e forneça o aparelho glicosímetro”.

As orientações da consulta farmacêutica são documentadasAs orientações da consulta farmacêutica são documentadas

Casos de sucesso

• Uma experiência exitosa foi a de uma senhora usuária de insulina com prescrição particular e que foi à farmácia reclamar do tamanho da agulha, pois o almoxarifado mandou uma agulha de tamanho maior e ela queria trocar. A paciente foi orientada que não havia outro tipo/marca de agulha para fornecer. Ela se mostrou chateada e relatou que não estava conseguindo usar a insulina, pois ao se auto aplicar no braço doía e sangrava muito. Após ouvir esse relato, Dra. Thais convidou a paciente para participar de uma consulta farmacêutica. Nessa consulta, detectou-se que a paciente estava aplicando a insulina via IM e não via SC como deveria. A paciente também relatou que tinha aflição e pânico de aplicar a insulina no abdômen. A farmacêutica explicou sobre as técnicas de aplicação, conversou, mostrou vídeos e trocou o fornecimento de frasco de insulina para a caneta de insulina. A paciente saiu da farmácia informada, tranquila e feliz. Semanas depois retornou alegando que nunca em quase 20 anos com diabetes conseguiu um controle glicêmico tão bom. Relatou também que perdeu o medo de se auto aplicar na barriga. Agradeceu muito o atendimento e falou que a consulta realizada semanas antes mudou a vida dela.

Técnicas para a utilização da insulinaTécnicas para a utilização da insulina

• Outra paciente chegou na farmácia para retirar medicamento e trouxe uma sacola de metformina para descarte com medicação suficiente para mais de seis meses de utilização e dentro da data de validade. Na receita atual da paciente havia prescrição de metformina. Ao verificar a situação, questionei o porquê da devolução. Ela disse que não utilizava a metformina porque sentia desconforto gastrointestinal. Orientei sobre a importância da utilização da medicação, melhor horário para administração, alimentação, orientei sobre o descarte e o porquê de retirar a medicação visto que tinha sobras da retirada anterior. Ela me disse que pegava porque achava que se avisasse que tinha sobras ela perderia o direito de retirar as outras medicações. A paciente foi orientada também a passar novamente pela médica. Relatei o caso dela em prontuário e passei para a médica. Passado um tempo, a paciente retorna na unidade agradecendo e contando que a médica adequou a dosagem e que o efeito colateral apresentado anteriormente havia passado e que ela estava tomando a medicação de forma correta. Ou seja, sem a consulta, a paciente iria continuar pegando a medicação na farmácia, não tomando e, pior, trazendo a medicação para ser descartada, gerando desperdício e custos desnecessários. Além disso, o prescritor não teria conhecimento da falta de adesão.

Dra. Thais atua como farmacêutica na Unidade Básica de Saúde (UBS) Dr. Antonio Albejante, em Mogi Mirim (SP) Dra. Thais atua como farmacêutica na Unidade Básica de Saúde (UBS) Dr. Antonio Albejante, em Mogi Mirim (SP)

• Um outro caso é de um paciente com déficit cognitivo, epilético, em uso de uso de fenobarbital e fenitoína. Já usava essas medicações há anos de forma correta. Porém, em um determinado momento, mudou o fabricante e, consequentemente, a embalagem da medicação. Ele ia na farmácia e xingava, xingava mesmo, sem exagero, falando que eu não havia fornecido a medicação de "dormir" dele (fenitoína). Eu consultava as dispensações anteriores e confirmava o fornecimento correto. Tentava explicar e ele gritava que eu não tinha fornecido. Tempo se passou e essa situação se repetia constantemente. Ele sempre muito agressivo, só xingava e falava que não tinha a medicação. Até o dia que eu o chamei para entrar, conversei com muita calma, peguei as embalagens de cada uma delas, mostrei pra ele e aí fui entender que ele não reconhecia a medicação devido a mudança da embalagem. Pedi para ele trazer as medicações que tinha em casa e as separei: um saquinho com fenobarbital e um saquinho com a fenitoína.

“Esses são só alguns dos casos, mas tem muitos outros de descarte desnecessário, de uso incorreto de insulina, de uso abusivo de psicotrópico, enfim, uma infinidade de casos. O segredo está em o paciente entender o risco e o motivo do nosso controle. Ele acha que a medicação é "de graça" e que pode utilizar da forma que bem quiser. A orientação sobre o uso racional é muito importante”, finaliza a Dra. Thais.

 

Thais Noronha
Departamento de Comunicação CRF-SP

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