Revista 106 - Análises Clínicas e Toxicológicas



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PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 106 - FEV - MAR - ABR / 2012

Revista 106  setinha Análises Clínicas e Toxicológicas


Perigo e oportunidade dentro da nécessaire

Com mercado em alta, setor de análise toxicológica de cosméticos surge como interessante oportunidade de trabalho para farmacêuticos

Nécessaire (Foto: imranchaudhry / Flickr)
Mercado crescente: em 2012, o Brasil deve se tornar o segundo mercado mundial em consumo de cosméticos (Foto: imranchaudhry / Flickr)

Muitos anos antes dos europeus aportarem em terras americanas, o uso de cosméticos já era intenso no velho mundo e na Ásia. Quinhentos anos depois, a situação se inverteu. Hoje dois dos três maiores mercados mundiais de consumo de cosméticos estão nas Américas: EUA (1º) e Brasil (3°), sendo que o Brasil ameaça tirar do Japão, ainda este ano, o segundo lugar em consumo desses produtos. A China corre por fora e não demora a entrar na briga pelo primeiro lugar, mas isso não vai tirar a grandeza e a importância dos mercados norte-americano e brasileiro.

Diante do cenário de crescimento, o setor de cosméticos se torna um mercado importante para atuação do farmacêutico, não apenas no desenvolvimento de produtos, mas também na área de análise toxicológica. Se, durante muitos anos, os cosméticos tiveram como base produtos naturais, hoje a química e a nanotecnologia dão as cartas nesse mercado. Busca-se a todo instante maior eficiência dos produtos, com diferentes níveis e formas de estabilidade e absorção. Isso requer cuidados.

Em 2009, a FDA (Food and Drug Administration) testou 20 marcas de batom e encontrou chumbo em todas elas – em níveis considerados elevados. O elemento pode causar distúrbios de aprendizagem, linguagem, problemas de comportamento e é mais perigoso ainda para mulheres grávidas, porque a substância pode atingir o bebê. No Brasil, em 2005, esmaltes foram recolhidos por apresentarem pH próximo ao nível de produto corrosivo.

A Anvisa determina que todo produto cosmético deva passar por análise de risco de toxicidade. São centenas de substâncias presentes em milhares de produtos como hidratantes, desodorantes, esmaltes, batons, xampus, entre muitos outros que devem ser submetidos a testes de toxicidade para que as condições de segurança sejam avaliadas e, assim, evitar reações adversas nos consumidores.

Os testes de avaliação de toxicidade dos cosméticos são eficazes na determinação de formas seguras de uso, exposição, concentração, mutagenicidade, efeitos sobre a reprodução e outros. Esses ensaios podem ser realizados in vivo ou in vitro, o que inclui teste de irritação ocular primária, testes de toxicidade aguda dérmica, irritação cutânea, fotossensibilidade e fototoxicidade, testes de sensibilização cutânea, acneigênese, toxicidade oral e percutânea, potencial mutagênico, potencial carcinogênico e potencial teratogênico.

Dados sobre ingredientes que compõem cosméticos (Foto: duhdenise / Flickr)O professor-assistente da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Araraquara da Unesp, dr. Marlus Chorilli, um dos autores do artigo "Toxicidade dos Cosméticos", publicado no Latin American Journal of Pharmacy,  trabalha com o desenvolvimento de nanossistemas para incorporação de fármacos e ativos cosméticos, voltados para diferentes vias de administração, dentre elas a cutânea. Tratam-se de formulações em que se incorporam estas substâncias com o objetivo de melhorar problemas de estabilidade, facilitar a permeação cutânea, além de potencializar sua ação. "Um dos estudos envolve a avaliação de toxicidade, sobretudo de irritação cutânea. Geralmente, as reações de irritação, decorrentes de penetração cutânea ou de mucosa dos ingredientes, estão relacionadas às concentrações de uso no produto final e sua formulação cosmética."

Para a coordenadora do curso de Farmácia da Universidade de Sorocaba (Uniso), e também autora do artigo, dra. Yoko Oshima Franco, os testes são fundamentais para barrar qualquer efeito biológico indesejável/adverso, desde manifestações alérgicas, de toxicidade aos órgãos (coração, rins, pulmões, fígado, sistema nervoso, gástrico, etc.), mutagenicidade, teratogenicidade, carcinogênese, e até a morte.

No Brasil

Com o objetivo de garantir a segurança sanitária de produtos de higiene pessoal, cosméticos e perfumes e, ainda, visando o monitoramento desses itens no mercado, a Anvisa criou o Guia para Avaliação de Segurança de Produtos Cosméticos.

O Guia traz uma série de orientações que envolvem a avaliação do risco potencial (irritante e alergênico) e dos ingredientes a serem utilizados nas formulações, a avaliação de segurança baseada na semelhança, além das metodologias adotadas como ensaios pré-clínicos, in vitro, em animais, clínicos e os critérios éticos na avaliação da segurança.

Para acessar o Guia e saber todos os detalhes necessários para que o cosmético chegue ao mercado com segurança, veja www.anvisa.gov.br/cosmeticos/guia/index.htm.

Thais Noronha 


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