Revista 107 - Saúde Pública



Revista do Farmacêutico 107
PUBLICAÇÃO DO CONSELHO REGIONAL DE FARMÁCIA DO ESTADO DE SÃO PAULO
Nº 107 - MAI - JUN - JUL / 2012

Revista 107 setinha Saúde Pública


Entendendo o paciente 

Farmacêuticos inovam na linguagem e na atitude para garantir melhor adesão e eficiência do tratamento

Dra. Renata identifica os medicamentos (Foto: Arquivo Pessoal)
Dra. Renata Apada Berghe Vital identifica os medicamentos com etiquetas para facilitar o uso pelo paciente (Foto: Arquivo Pessoal)

A criatividade de alguns farmacêuticos tem contribuído para melhorar a qualidade do atendimento à saúde de setores mais carentes da população brasileira. É o exemplo da dra. Renata Apada Berghe Vital, farmacêutica responsável pelas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) Jardim Leblon e Ferrazópolis, de São Bernardo do Campo.

Após dois anos na função, dra. Renata percebeu que alguns pacientes se confundiam quanto aos medicamentos, e isso prejudicava o processo de recuperação ou mesmo o controle de suas enfermidades. “Eu comecei a encontrar muita dificuldade na dispensação dos medicamentos no balcão. Os comprimidos e os blisters são muito parecidos e as pessoas confundiam o horário e os produtos.”

Diante dessa situação, a dra. Renata encontrou uma forma criativa para melhorar a vida dos pacientes. Ela passou a colar etiquetas coloridas nos medicamentos. Para aqueles que não sabiam ler, colocava etiquetas com desenhos de sol, lua, prato de comida e copos de café, indicando os horários em que deveriam ser tomados. “Assim surgiu também a ideia de fazer desenhos de panela de pressão em medicamentos para a hipertensão. Os farmacêuticos precisam identificar o melhor método para dispensar porque cada pessoa é de um jeito.”

A ação gerou bons resultados. “Acompanhando o avanço desses pacientes, principalmente  em visitas domiciliares, percebi melhoras significativas na pressão arterial, diabetes e outras doenças.”
Um exemplo é o paciente J.V.F, de 77 anos, que no dia 2 de abril de 2012 estava com o nível glicêmico de 407 mg/dL. Dra. Renata verificou que ele tomava medicação em quantidade e horário errados. “Organizei uma caixa, colocando os medicamentos em saquinhos etiquetados com o nome do produto e o horário de uso”. Em segunda visita, em 9 de maio de 2012, J.V.F. estava com o índice glicêmico de 178 mg/dL.

 

Receitas e medicamentos com indicações de cores (Foto: Arquivo Pessoal) Medicamentos com figurinhas indicativas (Foto: Arquivo Pessoal)
O método de colar etiquetas coloridas e com desenhos (sol, lua, pratos de comida e copos de café) difere os medicamentos e indica os horários corretos para serem tomados pelo paciente (Fotos: Arquivo Pessoal)

 

Simplificando

 O dr. Fabian Curvelo, farmacêutico responsável pela UBS Farina, também de São Bernardo do Campo, iniciou, em janeiro deste ano, um trabalho junto ao grupo de pacientes que fizeram uso por muito tempo de medicamentos que podem provocar dependência.

Ele criou o grupo de ‘desmedicalização’ dos dependentes de benzodiazepínicos. Muitos de seus pacientes iniciaram o tratamento com os fármacos há mais de dez anos, motivados por algum trauma, sem orientação sobre as reações e dependências. O principal objetivo do programa é que, por meio da aproximação com o farmacêutico e outros profissionais da saúde, os pacientes dependentes de benzodiazepínicos controlem seu uso e, se possível, parem de consumi-los.

“Conversamos sobre como foi o primeiro contato do indivíduo com a droga e a razão que o levou a tomá-la. E, principalmente, trazemos exemplos de suas reações para que as pessoas possam entender por que os medicamentos estão fazendo mal ou podem fazer.”

Segundo o dr. Curvelo, existe grande preocupação de utilizar linguagem simplificada e direta com os usuários de benzodiazepínicos, de forma que eles tenham clareza sobre os problemas criados pela dependência e a importância de reduzir ou parar com o uso do medicamento. Quando outro profissional também participa da ação, como um psiquiatra, psicólogo ou mesmo outro farmacêutico, ele é alertado sobre a importância de ser claro e objetivo na conversa, evitando o uso de termos técnicos.

“Acreditamos que se os pacientes entenderem claramente as questões envolvidas no uso desses medicamentos, teremos mais sucesso no processo de interrupção, redução ou substituição”, finaliza o dr. Curvelo.

VISITA DOMICILIAR

 Outro instrumento muito indicado à prestação de assistência à saúde é a visita domiciliar, que possibilita avaliar como vive o paciente e sua família (condições de habitação e saneamento), fazer o acompanhamento farmacoterapêutico e garantir um atendimento humanizado por parte dos farmacêuticos.

A dra. Gabriela Euzébio Barone, farmacêutica responsável da UBS e Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Rudge Ramos, de São Bernardo do Campo, participa do Programa Saúde da Família. De acordo com ela, as visitas domiciliares ajudam a garantir qualidade de vida à população.

“É muito importante para o farmacêutico estar próximo da população. Nós fazemos parte de uma rede de atenção ao paciente. Não adianta a pessoa ter um bom atendimento médico, ou de outros profissionais, se não consegue fazer o bom uso do medicamento. Por isso a orientação farmacêutica é essencial”, afirma dra. Gabriela.

Mônica Neri


 


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